
Todd Snider, cantor, compositor e contador de histórias que ajudou a moldar os movimentos de alt-country e Americana, morreu nesta sexta, 14, aos 59 anos. A Rolling Stone confirmou a morte de Snider. Nenhuma causa foi divulgada, mas, segundo relatos, ele havia sido diagnosticado com pneumonia nesta semana.
“A Aimless, Inc. Headquarters está de coração partido em compartilhar que nosso Fundador, nosso Herói Folk, nosso Poeta do Mundo, nosso Vice-Presidente do Departamento de Mudança Abrupta, o Contador de Histórias, nosso amado Todd Daniel Snider deixou este mundo”, dizia uma mensagem publicada na página de Snider no Facebook.
Nascido em Portland, Oregon, e mudando-se para o norte da Califórnia após o ensino médio, Snider vagou até o Texas nos anos 1980, onde conheceu e foi mentorado pelo compositor Jerry Jeff Walker. Nos anos 1990, migrou para Nashville, tornando-se uma figura-chave na cena áspera de East Nashville. Seu álbum de 2004, East Nashville Skyline, é considerado essencial no catálogo alt-country.
“Sempre gostei de ser um trovador. Amo o caos, essa vida de aventura — foi isso que me fisgou. Eu tinha uma predisposição para isso”, Snider disse à Rolling Stone em 2023. “Eu era um caroneiro e pessoa de circuito de sofá. Jerry Jeff me fez ver que a diferença entre um espírito livre e um aproveitador são três acordes no violão”.
Ao lado de Walker, Snider fez amizade e aprendeu com grandes nomes da composição como Billy Joe Shaver, John Prine, Jimmy Buffett, Guy Clark e Kris Kristofferson. “Ninguém nunca mereceu mais que exista um céu do que John Prine”, Snider disse à Rolling Stone em 2020, após a morte do cantor e compositor. “E se não houver um céu, eles deviam providenciar um bem rápido, porque o John tá chegando.”
A perda de cada uma dessas luzes-guia (Walker morreu seis meses depois de Prine) abalou o músico — “Hoje eu canto sobre amigos mortos mais do que sobre garotas”, ele disse no material de divulgação de seu último disco, High, Lonesome and Then Some, de 2025. Mas essas perdas também o deixaram como estandarte de um certo tipo de composição, moldada por experiências vividas — boas e ruins — e por um lirismo direto e honesto.
“Uma coisa que aprendi com John Prine é: se você não está se envergonhando, então sei lá”, Snider disse à Rolling Stone em 2014. “Você não quer ser aquele cara tentando se apresentar como um produto perfeito. Eu não sou um produto. Sabe, tipo aquelas pessoas Kathie Lee Gifford. Acabei de ver ela na TV. E se ela escrevesse um livro, aposto que seria cheio de ela nunca cometer erros”.
Snider se deleitava nos erros da vida — se ele aprendia com eles ou não, não era o ponto. “You’re gonna mix my emotions and you’re gonna tangle my net / You’re gonna make me do somethin’ / that I’m afraid I won’t regret”, ele cantou na ousada música de traição “Trouble”, de seu álbum de estreia de 1994, Songs for the Daily Planet. A favorita dos fãs “Alright Guy”, do mesmo disco, o traz admitindo falhas como fumar maconha demais e ter propensão a ser preso. “But I think I’m an alright guy”, ele rebate na letra.
Em seu livro de memórias de 2014, I Never Met a Story I Didn’t Like, Snider compartilhou abertamente muitos de seus deslizes com o mundo, provando ser tão destemido como autor quanto era como compositor. Em um dos relatos, lembrou um colapso no palco durante um show em Los Angeles; em outro, detalhou um incidente em que Jimmy Buffett, irritado pela recusa de Snider em tocar “Talkin’ Seattle Grunge Rock Blues” em seu set de abertura, o atingiu com frutas.
Essa mistura de teimosia e coragem foi o que fez Snider ser querido por fãs e colegas. Enquanto artistas como Gary Allan, Mark Chesnutt, Loretta Lynn e Tom Jones gravaram suas músicas — e ele lançou Songs for the Daily Planet (com ajuda de Buffett) pela grande gravadora MCA — Snider nunca abandonou suas raízes independentes. Ele lançou uma sequência de álbuns pelo selo indie de Prine, Oh Boy Records, começando com Happy to Be Here em 2000 e culminando na obra-prima East Nashville Skyline de 2004. Este último continha uma das marcas registradas de Snider, “Play a Train Song”, que Robert Earl Keen gravou em 2011.
Em 2008, Snider fundou seu próprio selo, Aimless Records, e lançou o EP Peace Queer, uma coleção de canções politicamente afiadas. Em 2012, prestou tributo a Walker com um álbum de suas músicas e, no mesmo ano, examinou sem rodeios a vida em uma América de “quem tem” e “quem não tem” com Agnostic Hymns and Stoner Fables.
Snider excursionou sem parar, tanto sozinho quanto como parte do seu projeto paralelo Hard Working Americans, com Dave Schools, do Widespread Panic, e o falecido guitarrista Neal Casal. Na estrada, entretinha plateias com seu humor seco e seu vasto repertório de histórias. Em um show, encontrou-se tocando com seu amigo, o comediante Richard Lewis, que abriu a noite e depois ficou rindo dele do balcão quando o público começou a sair antes do set de Snider. Ele não se importou. “Se você sabe tocar e cantar, pode ir a qualquer lugar que quiser e não precisa de dinheiro”, Snider disse certa vez à RS.
Mas os rigores da estrada cobraram seu preço, e Snider desenvolveu problemas debilitantes nas costas, que ele medicava com pílulas. Diversas batalhas contra o vício em drogas e passagens por reabilitação marcaram sua carreira. Ainda assim, Snider seguiu firme com a música, fazendo shows por livestream durante a pandemia a partir de seu estúdio/clube, o Purple Building, em East Nashville, e lançando discos tardios como First Agnostic Church of Hope and Wonder (2021) e Crank It, We’re Doomed (2023). Em 2025, lançou High, Lonesome and Then Some, um álbum de números arrastados e bluesy, com títulos como “Unforgivable (Worst Story Ever Told)”.
Apesar da dor crônica, Snider, eterno andarilho da estrada, estava determinado a excursionar com o álbum. “Quero pelo menos fazer isso mais uma vez”, disse. Logo após o início da turnê, no entanto, ela foi cancelada depois que Snider se envolveu em um incidente nebuloso em Salt Lake City, Utah, que o levou à prisão.
“É tudo dor no coração”, Snider disse à Rolling Stone em outubro de 2025, dando uma amostra das lutas emocionais e físicas que enfrentava. “Eu não diria que estou melhor, e não acho que vou melhorar, mas a última década foi difícil na minha vida pessoal”, disse. “Nos últimos anos, ficou mais difícil, e eu me senti como o título [High, Lonesome and Then Some]. Fiquei aqui sozinho e tive, tipo, uma noite escura da alma”.
“Como seguimos em frente sem aquele que nos deu incontáveis distrações de 90 minutos do nosso fim iminente?”, dizia a mensagem anunciando a morte de Snider. “Aquele que sempre tinha 18 minutos para contar uma história. Vamos seguir carregando suas histórias e canções que contêm mensagens de amor, compaixão e paz. Hoje, coloque um dos seus discos favoritos de Todd Snider e ‘toque alto o suficiente para acordar todos os seus vizinhos — ou pelo menos alto o suficiente para sempre acordar a si’”.
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