
Springsteen: Salve-me do Desconhecido (2025) estreou nos cinemas dos Estados Unidos no fim de semana seguindo uma campanha publicitária mundial, checagens minuciosas de fatos pela mídia, o lançamento oficial das lendárias sessões de Electric Nebraska, e um processo de filmagem que se desenrolou quase diariamente nas redes sociais graças à presença regular de Springsteen no set.
“Jeremy Allen White foi muito, muito tolerante comigo nos dias em que eu aparecia no set”, disse Springsteen a Rolling Stone no início de 2025. “Eu disse a ele: ‘Olha, qualquer hora que eu estiver atrapalhando, só me dar um olhar e eu vou para casa’.”
Ainda há um longo caminho pela frente, mas o filme teve uma estreia decepcionante nas bilheterias ao arrecadar apenas US$ 16,1 milhões ao redor do mundo. E com um orçamento de US$ 55 milhões, pode ser uma batalha difícil para o filme conseguir lucro. É bem possível que o boca a boca positivo o mantenha nos cinemas até o fim da temporada de férias, e tanto White quanto Jeremy Strong, no papel do empresário Jon Landau, podem receber indicações a grandes prêmios. Se isso acontecer, o filme certamente terá uma segunda chance nas bilheterias.
Salve-me do Desconhecido, dirigido por Scott Cooper, tem 60% de aprovação no Tomatometer do Rotten Tomatoes, o que significa que o consenso crítico ficou dividido. A maioria dos críticos se impressionou com as performances de ambos os Jeremys, mas alguns ficaram decepcionados com a decisão de colocar o filme inteiro em uma janela estreita de tempo entre 1981 e 1982, os flashbacks da infância de Springsteen, e a ênfase no estado mental e vida privada do cantor em vez de sua música. Aqui está um resumo do que alguns dos principais críticos pensaram.
David Fear, da Rolling Stone: “Há também, é claro, a pergunta de 100 milhões de dólares: o que os fãs de Springsteen vão achar disso? Alguns vão achar sombrio demais. Não os culpamos. Outros vão desejar que tivesse mais sequências como aquela no Power Station, onde Bruce e a banda quebram tudo em “Born in the U.S.A.” e atendem à demanda brega de Landau para “queimar tudo”. Também não os culpamos, embora apesar das falhas do filme, o que Cooper deu ao público aqui é muito mais envolvente do que uma simples compilação live-action dos maiores sucessos.”
Manohla Dargis, do The New York Times: “White, mais conhecido pela série da FX The Bear, não se parece com Springsteen e, inteligentemente, ele e Cooper não tentam forjar uma semelhança. Muito parecido com o homem que interpreta, porém, White tem um tremendo carisma e o tipo de rosto infinitamente interessante cuja beleza rústica e assimetria te atraem para ele. Seu Bruce passa bastante tempo sozinho, e não fala a linguagem dos terapeuticamente instruídos. Isso significa que White precisa expressar o aparentemente inexprimível, mesmo enquanto o personagem está encontrando as músicas que vão expressar o que ele não consegue, o que o ator faz com delicadeza. Em um filme cheio de música que diz tanto para tantos, alguns dos momentos mais memoráveis são os mais silenciosos, os silêncios solitários que por vezes separam Bruce do mundo, mas que também eventualmente o ajudam a retornar a ele.”
Bilge Ebiri, do Vulture: “Todo mundo que faz uma cinebiografia musical hoje em dia (ou qualquer tipo de cinebiografia) parece determinado a tentar fazê-la da forma mais não-cinebiográfica possível — o que por sua vez faz com que os filmes pareçam ainda mais cinebiografias. Lutando contra os supostos clichês do gênero, Salve-me do Desconhecido se limita a um breve período e foca majoritariamente na criação de um álbum bastante peculiar. Mas ainda assim não consegue evitar mergulhar nos flashbacks da infância, no relacionamento romântico fracassado — todo o menu de convenções. No seu melhor, o filme nos dá um olhar sincero sobre o processo criativo e o revela como algo triste, assustador, às vezes incontrolável e destrutivo. Só por isso, já vale a pena assistir.”
Peter Debruge, da Variety: “Conforme Nebraska toma forma, percebemos que não era música pop que Springsteen estava fazendo, mas algo profundamente cínico sobre o país que Ronald Reagan e a mídia hegemônica acreditavam que ele estava defendendo. Em vez disso, ele entregou uma balada pessimista sobre todas as formas como o sonho americano tinha fracassado. É assim que essa verdade nua e crua encontrou seu caminho até as pessoas. O resto — o que representou para cada alma que tocou — cabe a você descobrir.”
Richard Brody, do The New Yorker: “Quanto ao núcleo da história, a produção e lançamento de Nebraska, Springsteen é intrinsecamente absorvente em seus contornos e apressado e borrado em seus detalhes. Cada cena existe não para observar a ação atentamente ou revelar aspectos do personagem, mas para deixar cair pedaços de informação que somam a uma trama: Jon encontrando um executivo que espera que o próximo álbum de Bruce seja um grande sucesso; Bruce dedilhando ociosamente seu violão e batendo na capa de um livro de histórias de O’Connor. Cooper dá muito mais atenção à entrega do gravador de fita multipista por um associado chamado Mikey (Paul Walter Hauser) do que aos esforços de Bruce para gravar suas músicas com ele. Há muito pouco de Bruce cantando em casa — apenas o suficiente para fins de evidência, e não filmado com qualquer senso de fascinação ou admiração. Não há senso do que Bruce está realmente procurando enquanto está tocando, como ele trabalhou cada música, como adicionou a instrumentação adicional (toda a qual ele mesmo executou) em seu estúdio caseiro instantâneo. Ele pede a Mikey para ajudá-lo a gravar, mas o trabalho deles juntos nesse processo crucial é deixado de fora.”
Kyle Smith, do The Wall Street Journal: “Escrito e dirigido por Scott Cooper, o filme faz um desserviço à austeridade melancólica do disco com uma escrita truncada e floreios de direção cafonas, como fazer o Boss repetidamente se deparar consigo mesmo quando menino (Matthew Anthony Pellicano) recuando de um pai abusivo (Stephen Graham). A atuação de alma torturada do Sr. White está se tornando cansativa, e Jeremy Strong entrega uma interpretação igualmente exaustiva como o empresário de Springsteen, Jon Landau, que deveria ser um confidente, mas surge apenas como um puxa-saco. O filme se dissolve em uma poça de lágrimas no ato final.”
Chris Richards, do The Washington Post: “Com Salve- me do Desconhecido, o diretor e roteirista Scott Cooper escolheu prolongar um capítulo particularmente sombrio da vida criativa de Springsteen — muito dele baseado em um livro de mesmo título de Warren Zanes — resultando em um filme lento, melancólico, ocasionalmente pesado sobre o ato não-linear de fazer música. Sim, há algumas reconstituições de shows gritados e sessões de estúdio estressantes, mas as cenas mais significativas se desenrolam dentro da casa organizada à beira-mar onde Springsteen gravou Nebraska em um gravador de quatro pistas — se não dentro da solidão desconhecida da cabeça de um compositor. Springsteen foi aparentemente um visitante frequente no set de Salve-me do Desconhecido — sem dúvida animando os figurantes, e provavelmente estressando os atores. Ele estava lá para ser bajulado? É para isso que serve tudo isso? Na última década, Springsteen escreveu uma generosa autobiografia, depois a transpôs para uma residência na Broadway, depois a filmou para um especial da Netflix, e agora voltou à turnê, falando verdades frente ao poder entre as músicas. Ele deve se sentir conhecido, amado, compreendido. Por que se dar ao trabalho de canalizar tudo isso através da pompa e brega de Hollywood em um filme que é apenas meio bom? Nebraska foi um triunfo porque se recusou a cumprir as expectativas de qualquer um. Salve-me do Desconhecido valoriza essa decisão enquanto perde sua chance de fazer o mesmo.”
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