
Nos últimos tempos, o Radiohead enfrentou certo nível de polêmica relacionado a Israel. Movimentos pró-Palestina chegaram a recomendar boicote aos primeiros shows do grupo desde 2018, agendados para os próximos meses. Agora, os integrantes respondem às acusações.
Em entrevista ao jornal britânico The Times, Thom Yorke e Jonny Greenwood defenderam suas posições políticas. Também lamentaram a iniciativa do BDS (Boycott, Divestment, Sanctions) que defende sanções contra Israel.
Thom disse:
“Isso me deixa acordado à noite… Querem me dizer que o que fiz com a minha vida e o que preciso fazer, e acho isso sem sentido. Pessoas querem pegar o que fiz, que significa muito para milhões de pessoas, e me apagar. Mas isso não é para eles tirarem de mim – e não me acho uma pessoa ruim.”
Yorke recentemente bateu boca com um manifestante pró-Palestina durante um show solo em Melbourne após este fazer declarações em favor da população da Faixa de Gaza durante a apresentação. O músico interrompeu a performance, discutiu com a pessoa e saiu do palco, para retornar minutos depois. Logo após esse episódio, o vocalista e multi-instrumentista postou um texto no Instagram no qual afirmou ter ficado em choque por tal reação ter visto vista como cumplicidade para com as ações de Israel.

Durante a entrevista com The Times, Yorke afirmou que o Radiohead não fará mais shows na região porque discorda veementemente da política do governo de Benjamin Netanyahu. Além disso, ele contou uma história de como percebeu estar sendo usado pelo regime israelense em 2017, quando o grupo tocou em Tel Aviv.
“Eu estava no hotel quando um cara, claramente um figurão, veio me agradecer. Eu fiquei horrorizado, de verdade, porque o show estava sendo cooptado. Então entendo o que querem dizer. Na época, achei que o show fazia sentido, mas assim que chegamos lá e esse cara veio falar comigo? Tô fora.”
Mesmo assim, o vocalista se mostrou incomodado com os extremos que pessoas chegam ao cobrar uma postura Pró-Palestina do Radiohead. Alguns teriam até exigido a remoção de Jonny Greenwood do grupo, pois o guitarrista é casado com uma israelense – a artista Sharona Katan – e tem um projeto com o músico local Dudu Tassa.
Yorke falou:
“Recentemente algumas pessoas gritaram ‘Palestina Livre’ para mim na rua. Eu falei com um cara. O papo dele era: ‘Você tem uma plataforma, um dever e precisa se distanciar do Jonny’. Mas eu disse: ‘Eu e você, no meio da rua em Londres, gritando um com o outro? Os verdadeiros criminosos, que deveriam estar no Tribunal de Haia, estão rindo da gente brigando entre si em público e nas redes sociais – enquanto eles continuam impunes, assassinando pessoas’.”
O músico expressou respeitar a comoção pública pela situação, mas criticou esse tipo de comportamento. Ele chamou essa prática de “caça às bruxas” e “expressão de impotência”.
Críticas à esquerda
Enquanto Thom Yorke adotou um ponto de vista menos político em suas declarações, Jonny Greenwood se mostrou mais irritado com um lado do espectro. O guitarrista é o maior alvo de polêmica nessa situação toda.
Apesar da promessa do vocalista do Radiohead não tocar em Israel, Greenwood e Tassa fizeram shows no país até o ano passado. Criticado por isso, o músico britânico culpou a polêmica toda em movimentos de esquerda e direita política.
Ele afirmou:
“A esquerda procura por traidores, a direita por convertidos, e é deprimente que nós somos um alvo fácil.”

O projeto de Greenwood e Tassa consiste na reinterpretação de canções de amor do Oriente Médio, numa busca de mostrar um lugar comum entre as culturas. O primeiro álbum da dupla, Jarak Qaribak (Árabe para “Seu vizinho é seu amigo”), saiu em junho de 2023 e contou com a participação de músicos israelenses, egípcios, libaneses e palestinos. Eles estão trabalhando num sucessor.
Ele se defendeu:
“É loucura que tinha medo de admitir isso. Ainda assim, isso me parece progressista – vaiar num show não me parece corajoso ou progressista. Sim, algumas pessoas se referem ao meu trabalho como ineficaz, hippie, tilelê. E eu meio que vejo o ponto dessas pessoas. Mas quando isso é descrito como sinistro ou maléfico? Eu faço isso há 20 anos.”
O guitarrista também reportou que frequenta protestos contra o governo de Israel, e o humor local é extremamente contrário à administração Netanyahu e ao ministro de segurança nacional, Itamar Ben-Gvir. Entretanto, não é como se pudesse largar tudo.
“Eu passo muito tempo lá com minha família e não posso simplesmente dizer: ‘Não faço mais música com vocês babacas por causa do governo’. Isso não faz sentido para mim. Eu não tenho lealdade – ou respeito, obviamente – ao governo deles, mas tenho ambos com relação aos artistas nascidos lá.”
Por fim, Greenwood afirmou só se envergonhar de ter arrastado os outros integrantes do Radiohead para essa situação. Ele se recusou a pedir desculpas por trabalhar com músicos árabes e israelenses.
O restante do Radiohead
Os outros integrantes do Radiohead também fizeram algumas declarações sobre o assunto. Quando o grupo foi criticado por tocar na cidade de Tel Aviv em 2017, o guitarrista Ed O’Brien demonstrou seu apoio à causa palestina e expressou que a banda deveria ter feito uma apresentação também em Ramallah, capital da Cisjordânia.
Enquanto isso, o baterista Phil Selway repetiu na mesma entrevista ao The Times a posição ingrata que o grupo se encontra. Ao seu ver, não podem aderir totalmente ao movimento BDS porque isso significa abandonar Greenwood.
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