
Quatro mulheres sobem ao palco vestindo trajes vibrantes e coloridos. Em segundos, a calmaria se transforma em caos organizado. Guitarras distorcidas rasgam o ar, a bateria soa como uma metralhadora rítmica, e vocais ácidos cortam qualquer vestígio de silêncio. Bem-vindos ao universo do Otoboke Beaver, o quarteto de punk rock de Kyoto que está prestes a sacudir o Parque Ibirapuera neste domingo, 2 de novembro, em sua estreia no Brasil.
Formado por Accorinrin (guitarra e vocal), Yoyoyoshie (guitarra e vocal), Hirochan (baixo e vocal) e Kahokiss (bateria e vocal), o grupo japonês representa uma das apostas mais ousadas da nova geração do punk mundial. Não é à toa que lendas do rock como Jack White — que chamou Yoyoyoshie de “minha nova guitarrista favorita” —, Dave Grohl e Eddie Vedder já se curvaram diante da intensidade hipnótica da banda.
Com três álbuns no currículo — Okoshiyasu!! Otoboke Beaver (2016), ITEKOMA HITS (2019) e Super Champon (2022) —, o quarteto conquistou palcos de festivais como Coachella, Glastonbury e Lollapalooza, levando sua energia devastadora e letras afiadas para plateias ao redor do mundo. Agora, São Paulo terá a chance de sentir na pele por que o Otoboke Beaver é considerado uma das forças mais avassaladoras do rock contemporâneo.
A apresentação acontece dentro do ecossistema ÍNDIGO, projeto curatorial da 30e que reúne também Weezer, Bloc Party, Mogwai e Judeline na Plateia Externa do Auditório Ibirapuera. Mas atenção: quando o Otoboke Beaver entrar em cena, não haverá espaço para braços cruzados. Como elas mesmas revelam, a plateia brasileira promete ser bem diferente da japonesa.
O público japonês tradicionalmente consome muita música melódica e pop. Como é ser uma banda barulhenta, caótica de punk/hardcore no Japão? Vocês sentem que estão nadando contra a corrente, ou existe uma cena underground forte que apoia o que vocês fazem?
Yoshie: Nós não nos definimos por gênero, então eu realmente não tenho essa sensação. É mais como se estivéssemos nadando confortavelmente em qualquer lugar.
Bandas como Boredoms e High-Lows ajudaram a moldar o punk japonês e o noise rock. Como vocês veem a cena alternativa japonesa hoje? Está crescendo, se transformando, ou vocês se sentem meio sozinhas nessa luta?
Yoshie: A música não é necessariamente a única coisa que influencia a música, e agora que estamos em uma era onde vários tipos de informação são facilmente acessíveis, acho que a cena musical japonesa se tornou bastante diversa. Mas ainda assim, sinto que Boredoms e High-Lows estão no centro, e a partir daí vários tipos de música se espalharam.
Kyoto é conhecida mundialmente por sua tradição, templos e cultura clássica. Como é criar um som tão caótico e transgressor em uma cidade com essa identidade? O ambiente de Kyoto influencia a música de vocês de alguma forma?
Acco: A Kyoto onde nasci e cresci era uma cidade tranquila e bonita, mas no clube de música da universidade que frequentei em Kyoto, não éramos aceitas. Eu sempre senti a atmosfera de uma comunidade fechada, e talvez eu tivesse um sentimento de querer destruir isso, mas acho que teria sentido o mesmo se não estivesse vivendo em Kyoto.
“Otoboke Beaver” tem um significado específico ou história por trás? Como esse nome surgiu?
Acco: Nós formamos a banda no primeiro ano da universidade, e naquela época não esperávamos continuar por tanto tempo. Apenas pegamos aleatoriamente o nome de um motel perto da escola de ensino médio da Yoshie e da nossa então baixista. “Beaver” é uma gíria para genitália feminina, e achei que “genitália feminina tosca” soava engraçado.
Vocês receberam elogios incríveis de lendas do rock como Jack White e Dave Grohl. Como se sentem como banda ao receber esse reconhecimento massivo de ícones do rock mundial?
Yoshie: Eu fico verdadeiramente honrada, e isso me deu um pouco mais de confiança no meu estilo estranho de tocar.
Vocês abriram shows para Foo Fighters, Jack White, Green Day e Red Hot Chili Peppers. Qual show como banda de abertura foi mais memorável e por quê? Existem outras bandas com as quais vocês gostariam de trabalhar ou abrir shows no futuro?
Yoshie: Todos eles foram os melhores! Se houver alguma banda que nos queira, iremos para qualquer lugar do mundo!
Vocês conhecem algo sobre a música brasileira ou a cena punk? O que esperam encontrar no público daqui? Vocês notam alguma diferença entre tocar na Ásia, nos Estados Unidos, na Europa e agora na América do Sul?
Yoshie: Eu originalmente não ouvia música punk e não sei muito sobre isso. Estou realmente ansiosa para experimentar a cena punk brasileira em primeira mão! O público japonês sempre nos assiste com os braços cruzados como se estivessem em um museu de arte, mas em outros países as pessoas dançam e cantam livremente, e ver isso do palco me deixa muito feliz também.
A maioria das letras de vocês é em japonês. Como vocês sentem que a mensagem e a emoção das músicas alcançam públicos que não entendem o idioma? A música fala por si mesma?
Acco: Acho que depende da pessoa. Quando ouvimos músicas de fora, também não entendemos instantaneamente todos os significados. Mas com trabalhos artísticos e notas de encarte, se é uma música ou artista que você realmente gosta, você investiga por conta própria. Mesmo que alguém não entenda a letra, se achar nossa música interessante, isso é tudo. Eu não quero nada mais do que isso.
Como é a experiência de ser uma banda totalmente feminina em um gênero historicamente dominado por homens? Vocês sentem que precisam provar algo ou isso nunca foi um problema?
Acco: Eu questiono esse tipo de pergunta em si, tanto no Japão quanto no exterior. Não existe essa história de “homens dominaram”. Sempre houve mulheres que foram ativas em cada época. Eu não gosto de ser agrupada como uma “banda de garotas”. Somos apenas uma banda de rock comum do extremo Oriente. Além disso, não tenho intenção alguma de ser porta-voz de ninguém. Eu apenas moldo o que pessoalmente acho interessante no momento, e não estou fazendo nada nobre.
No palco vocês são intensas, caóticas e explosivas. Quem são vocês quando saem do palco? Existe um grande contraste entre a persona artística e quem vocês são na vida cotidiana?
Acco: Existe uma diferença, mas as pessoas são multifacetadas, então não posso e não quero explicar que tipo de pessoa eu sou. Mesmo agora, na vida cotidiana, não consigo lidar bem comigo, e é por isso que eu canto.
Após Super Champon (2022), quais são os planos musicais? Existe material novo sendo preparado? Como vocês veem a evolução sonora da banda?
Acco: Enquanto fazemos muitos shows ao vivo, também estamos fazendo muitas músicas novas, mas cada uma das nossas músicas é muito curta, e leva muito tempo para fazer uma. Eu odeio ser questionada sobre isso, então escrevi uma música chamada “O novo álbum está pronto ainda?” O som da banda está evoluindo à medida que nos apresentamos muitas vezes em vários lugares.
Vocês gostariam de deixar uma mensagem para os fãs brasileiros e para aqueles que ainda não conhecem o trabalho de vocês, mas estão pensando em ir ao show?
Acco: O Brasil é longe e não é fácil de visitar, então estou muito feliz que finalmente podemos ir e que as pessoas vão experimentar nosso show ao vivo! Estou ansiosa para ver que tipo de cenário veremos no Brasil! Vamos fazer deste um dia inesquecível!

SERVIÇO
ÍNDIGO apresenta: Weezer, Bloc Party, Mogwai, Judeline, Otoboke Beaver
Quando: domingo, 02 de novembro de 2025, a partir das 13h
Onde: PARQUE IBIRAPUERA | Av. Pedro Álvares Cabral, s/n – Vila Mariana | 04094-050, São Paulo
Ingressos online: aqui
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