
Logo em suas duas primeiras grandes turnês, promovendo os discos Definitely Maybe (1994) e (What’s the Story) Morning Glory? (1995), o Oasis percorreu Europa, América do Norte e Japão. Há quem considere este período o auge da banda também ao vivo — e tal fase nunca foi testemunhada pelo público brasileiro e sul-americano, já que que a visita inaugural ao nosso território só ocorreu em março de 1998, no encerramento da terceira tour, em divulgação ao criticado álbum Be Here Now (1997).
A partir daí, banda e país construíram uma relação curiosa. Os irmãos Gallagher sempre foram populares nacionalmente, mas nunca se consolidaram por aqui como uma atração de estádios — algo conquistado logo de cara na terra vizinha Argentina. Mas não é correto limitar a relação Oasis-Brasil a isso. Há várias camadas, a serem exploradas neste artigo, que percorre todas as quatro visitas do grupo antes de seu rompimento em 2009.
Oasis no Brasil em 1998
20/03: Rio de Janeiro (Metropolitan)
21/03: São Paulo (Anhembi)
Já com fama de banda “apática”, inconstante e pouco enérgica no palco, o Oasis realizou seus primeiros shows em nosso país, como citado, em março de 1998. A América Latina — Chile, Argentina, Brasil e México — serviu como destino final de uma tour que, críticas e excessos à parte, conseguiu ampliar o séquito de fãs ao levar os britânicos pela primeira vez a locais como Oceania, Hong Kong e nosso continente.
Rio de Janeiro (Metropolitan, hoje Qualistage) e São Paulo (Sambódromo do Anhembi) recepcionaram, nos dias 20 e 21 do mês e ano citados, as performances de Liam Gallagher (voz), Noel Gallagher (guitarra), Paul “Bonehead” Arthurs (guitarra), Paul “Guigsy” McGuigan (baixo) e Alan White (bateria), complementados pelo tecladista de turnês Mike Rowe. Seriam algumas das últimas apresentações com Bonehead (até a reunião em 2025) e Guigsy, visto que os dois saíram do grupo em 1999.
Em coletiva de imprensa às vésperas dos shows, Noel reforçou a pecha de falastrão ao dizer que preferia “beber água sanitária” a ouvir Blur, mas também declarou que suas brigas com Liam, tão noticiadas na mídia, eram apenas marketing. Já no palco, fizeram jus à fama conquistada até então e ofereceram performances concisas diante de 10 mil fãs no Rio e 15 mil em SP.
Exceção feita à retirada de “Some Might Say” na capital paulista, o setlist foi o mesmo nas duas cidades. Como não poderia deixar de ser, Be Here Now foi o disco mais representado nas escolhas, com seis canções no total — incluindo faixas como “Don’t Go Away” e “Fade In-Out”, que nunca mais seriam executadas nos anos seguintes. Dos outros dois álbuns, talvez tenham faltado “Rock ‘n’ Roll Star”, “Hello” e “Morning Glory”, mas sem grandes perdas.
- Be Here Now
2. Stand by Me
3. Supersonic
4. Roll With It
5. D’You Know What I Mean?
6. Cigarettes & Alcohol (com trecho de Whole Lotta Love — Led Zeppelin)
7. Don’t Go Away — set acústico de Noel Gallagher
8. Some Might Say — acústico de Noel; excluída de SP
9. Setting Sun (cover de The Chemical Brothers) — acústico de Noel
10. Fade In-Out — acústico de Noel
11. Don’t Look Back in Anger
12. Wonderwall
13. Live Forever
14. It’s Gettin Better (Man)
15. Champagne Supernova
Bis:
- Acquiesce
17. I Am the Walrus (cover dos Beatles)
Oasis no Brasil em 2001
14/01: Rio de Janeiro (Rock in Rio)
Se a visita de 1998 foi até tranquila, em 2001 as polêmicas vieram a rodo. Uma delas se deu ainda na Inglaterra: uma funcionária da companhia aérea British Airways alegou ter sido assediada sexualmente por Liam Gallagher às vésperas da viagem para o Rio de Janeiro, onde tocariam na 3ª edição do Rock in Rio. O cantor teria feito um gesto obsceno na direção da mulher e apalpado suas nádegas. O caso foi arquivado.
Em solo carioca, os ingleses sentiram já antecipadamente um clima hostil que em nada combina com festival. O grupo havia sido escalado para o 3º dia de evento, 14 de janeiro, abrindo para Guns N’ Roses — na sua primeira grande performance em 8 anos — e tocando após Papa Roach, Ira! com Ultraje a Rigor (pois é), Carlinhos Brown(!) e Pato Fu. Nada a ver com nada.
E o que eles fazem diante de uma fogueira? Jogam gasolina, claro. Na coletiva de imprensa antes do show, Noel foi convidado a dizer o que seria, em sua opinião, “um mundo melhor” — slogan daquela edição do festival. Na provocativa resposta, afirmou: “Um ar mais puro. Nada de armas [guns]… ou rosas [roses]”. Ele emendou com “isso é uma piada”, mas os repórteres ignoraram essa parte.
Em cima do palco, o Oasis, à época promovendo o álbum Standing on the Shoulder of Giants (2000), não decepcionou. Trazendo Gem Archer (guitarra) e Andy Bell (baixo) nas vagas de Bonehead e Guigsy, o grupo fez seu melhor show no Brasil no quesito técnico. Archer e Bell são mais habilidosos que seus antecessores, Liam ainda vivia grande fase vocal, Noel se encontrava cada vez mais como cantor e Alan White sempre foi ótimo baterista. Talvez apenas a montagem do setlist de 1h15 tenha falhado ao ter poucas músicas realmente ardidas, como “Cigarettes & Alcohol” e “Rock n Roll Star”, esta dedicada a Axl Rose de modo irônico.
Mas o mesmo público que horas antes tratara Carlinhos Brown à base de garrafadas não estava tão receptivo. No intervalo entre uma música e outra, ouvia-se muitos gritos de “Guns N’ Roses”. Tal manifestação se arrefeceu conforme o repertório seguia, especialmente na parte de mega-hits como “Don’t Look Back in Anger” e “Wonderwall”. Até o hard-rocker mais ávido se rende ao “I said maybeee”.
- Go Let It Out
2. Who Feels Love?
3. Supersonic
4. Acquiesce
5. Gas Panic
6. Wonderwall
7. Cigarettes & Alcohol
8. Don’t Look Back in Anger
9. Live Forever
10. Hey Hey, My My (Into the Black) (cover de Neil Young & Crazy Horse)
11. Champagne Supernova
12. Rock n Roll Star
Oasis no Brasil em 2006
15/03 — Credicard Hall — São Paulo
Cinco anos após o clima hostil do Rock in Rio, o Oasis voltou para dialogar com seu próprio público em show solo. E, mais uma vez, o retorno ocorreu nos momentos finais de uma turnê, agora promovendo Don’t Believe the Truth (2005), álbum aclamado à época e hoje visto como clássico. A formação era a mesma de 2001, exceção feita à chegada do baterista Zak Starkey, filho de Ringo Starr e também integrante do The Who.
Naquele ciclo, o Brasil recebeu somente uma apresentação, no estacionamento do Credicard Hall, em São Paulo. Os 15 mil fãs que compareceram se molharam ou tiveram de recorrer a capas de chuva, pois caiu um toró incessante a partir da 2ª música, “Lyla”. Noel Gallagher chegou a tecer uma comparação climática entre a capital paulista e Manchester.
Liam Gallagher talvez tenha sido o único a manter a elegância, com seu paletó estampado intacto, mas foi o ponto frágil musicalmente. Mesmo no alto de seus 33 anos, sua performance vocal já não estava como antes. Faltava fôlego e poderio para atingir as notas mais altas de “Morning Glory” e “Champagne Supernova”. Já o restante do grupo manteve a categoria de sempre, com destaque à energia de Starkey, que unia a destreza técnica de White à fúria de sua maior influência: o saudoso Keith Moon.
Apesar das 6 faixas do novo álbum — incluindo “Lyla” e “The Importance of Being Idle” —, o setlist se mostrou equilibrado, com espaço para todos os discos exceto Be Here Now. Sim, não rolou “Stand By Me”. Outras ausências sentidas pelo público incluíram “Some Might Say” e “Go Let It Out”, mas houve recompensa: no bis, a pedido dos fãs, eles tocaram “Supersonic”, canção que estava fora de toda a turnê. Ah: e “Live Forever” foi dedicada à seleção brasileira, que seria derrotada na Copa do Mundo pela França poucos meses depois.
- Turn Up the Sun
2. Lyla
3. Bring It On Down
4. Morning Glory
5. Cigarettes & Alcohol
6. The Importance of Being Idle
7. The Masterplan
8. Songbird
9. Acquiesce
10. A Bell Will Ring
11. Live Forever
12. Mucky Fingers
13. Wonderwall
14. Champagne Supernova
15. Rock n Roll Star
Bis:
16. Supersonic (estreia na turnê)
17. The Meaning of Soul
18. Don’t Look Back in Anger
19. My Generation (cover de The Who)
Oasis no Brasil em 2009
07/05: Rio de Janeiro (Citibank Hall)
09/05: São Paulo (Arena Anhembi)
10/05: Grande Curitiba (Expotrade Convention Center)
12/05: Porto Alegre (Gigantinho)
A mais longa turnê do Oasis pelo Brasil até o momento ocorreu justo às vésperas do encerramento das atividades. Em maio, pouco mais de três meses antes de a banda acabar por conta de — é claro — uma briga entre Liam e Noel Gallagher, a turnê do álbum Dig Out Your Soul passou por Rio de Janeiro, São Paulo, Grande Curitiba (mais especificamente Pinhais) e Porto Alegre. Na vaga do recém-saído Zak Starkey, estava Chris Sharrock, baterista elogiado por sua técnica, mas que sequer teve tempo de gravar algo em estúdio com os colegas.
O mesmo repertório foi executado nas quatro cidades. O foco esperado em Dig Out Your Soul se deu através de seis faixas, incluindo os destaques “I’m Outta Time” e “The Shock of the Lightning”. Be Here Now e Standing… não tiveram representantes. Clássicos como “Some Might Say” e “Hello” ficaram de fora, mas, de novo, o setlist se mostrou bastante equilibrado para a proposta: reunir clássicos sem deixar de promover o lançamento mais recente.
Em São Paulo, a noite quase azedou de um jeito que nem na belicosa participação no Rock in Rio chegou perto de ocorrer. Logo no começo do set, Noel Gallagher se incomodou com objetos atirados no palco e prometeu: se aquilo não parasse, os músicos iriam embora. Felizmente, o público atendeu ao pedido e a performance seguiu normalmente — mais uma vez, sob impiedosa chuva. No Rio, a performance foi transmitida ao vivo pelo canal de TV por assinatura Multishow.
- Rock n Roll Star
2. Lyla
3. The Shock of the Lightning
4. Cigarettes & Alcohol
5. The Meaning of Soul
6. To Be Where There’s Life
7. Waiting for the Rapture
8. The Masterplan
9. Songbird
10. Slide Away
11. Morning Glory
12. Ain’t Got Nothin’
13. The Importance of Being Idle
14. I’m Outta Time
15. Wonderwall
16. Supersonic
Bis:
17. Don’t Look Back in Anger (acústica)
18. Falling Down
19. Champagne Supernova
20. I Am the Walrus (cover dos Beatles)
Rolling Stone Brasil: Edição de Colecionador — Oasis

Rolling Stone Brasil – Edição de colecionador. O sonho do retorno do Oasis com Noel e Liam Gallagher na formação parecia impossível. Não é mais. A dupla, cheia de atitude, deixou sua marca no rock mundial logo nos dois primeiros discos de estúdio, Definitely Maybe (1994) e (What’s the Story) Morning Glory? (1995), cujas músicas ressoam com os antigos e novos fãs.
Os Gallagher sobreviveram ao teste do tempo e estão melhores do que nunca, seja tecnicamente ou pela relação interna. Neste especial, a Rolling Stone Brasil resgata as brigas, disseca o estilo inconfundível dos irmãos de Manchester e faz uma análise aprofundada da discografia, lados B e melhores músicas da banda. À venda no site Loja Perfil.
+++ LEIA MAIS: Oasis: um faixa-a-faixa de ‘(What’s the Story) Morning Glory’, por Noel Gallagher
+++ LEIA MAIS: A dura opinião dos irmãos Gallagher sobre “Wonderwall”, do Oasis
+++ LEIA MAIS: A surpreendente melhor música do Oasis segundo Bono (U2)
+++ LEIA MAIS: As melhores músicas do Oasis na opinião de Noel Gallagher
+++ LEIA MAIS: A proibição imposta a Liam Gallagher em shows do Oasis
+++ Siga a Rolling Stone Brasil @rollingstonebrasil no Instagram
+++ Siga o jornalista Igor Miranda @igormirandasite no Instagram
O post Oasis no Brasil: de 1998 a 2009, relembre os shows já feitos apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.
