Uma década após o último show, o Rush anunciou seu retorno. O vocalista, baixista e (agora ex-)tecladista Geddy Lee e o guitarrista Alex Lifeson confirmaram a turnê “Fifty Something” (algo como “50 e poucos anos”), com 12 shows marcados em 7 cidades da América do Norte — Estados Unidos, México e sua terra natal, Canadá.
A vaga deixada pelo saudoso baterista e principal letrista Neil Peart foi assumida por Anika Nilles, musicista alemã de 42 anos celebrada por sua técnica refinada e vídeos nas redes sociais. Lee adiantou, ainda, que pelo menos um tecladista deve ser acrescido à formação de turnês. Antes, o próprio cantor e baixista ficava a cargo do instrumento, mas no alto de seus 72 anos, admitiu que gostaria de ficar mais livre no palco.
A gigantesca maioria dos fãs foi pega de surpresa com a notícia, pois raríssimas bandas na história do rock foram tão coletivas como o Rush. Trios já costumam ser mais dependentes de cada integrante — pela obviedade do número reduzido —, mas com os canadenses, a situação se mostrava ainda mais visível.

Com Peart, então, nem se fala. Estamos falando de um dos maiores bateristas de todos os tempos. Um músico que transcendeu as bolhas da música pesada e progressiva. Era e é admirado dentro e fora do rock (a exemplo de seus tributos ao jazzista Buddy Rich), dentro e fora da música (tendo em vista sua carreira prolífica como escritor, com sete livros de não ficção e outras obras ficcionais). Como substituir alguém assim?
Na verdade, não se substitui. Desde as primeiras comunicações ao público, Lee e Lifeson têm deixado claro: os shows serão, acima de tudo, uma forma de homenagear Peart — com apoio da família dele — e o legado da banda como um todo. Caso similar ao de Queen (+ Adam Lambert), Foreigner e tantos outros projetos. O Rush que conhecíamos não existe mais. Para além do direito que possuem, Geddy e Alex utilizam o nome do grupo para simplificar a assimilação do público.

A dupla, é verdade, cometeu contradições. Em diversas entrevistas, reforçaram que o Rush não voltaria. Ano passado, Lifeson afirmou categoricamente ao Classic Rock History: “Não podemos simplesmente procurar outro baterista, fazer shows e material novo. Simplesmente não seria a mesma coisa. Seria apenas uma estratégia financeira”. Duas das três coisas aconteceram — só não há promessa de músicas inéditas.
Eles não seguiram o que falaram. E daí? Quem nunca? Todos saímos ganhando com esta contradição, e não falo de dinheiro, pois certamente esses dois senhores não precisam de grana. Geddy e Alex voltam a fazer o que fizeram juntos por mais de 40 anos. A nova baterista e os outros eventuais músicos de apoio terão suas vidas modificadas pela oportunidade. E, fundamentalmente, os fãs têm (mais) uma chance de ouvir essas composições sendo tocadas por dois dos três criadores.
O momento era agora. Hoje com 72 anos, Lifeson lida há décadas com a artrite psoriática, que tem limitado suas capacidades na guitarra. E é preciso estar afiadíssimo para executar essas músicas. Ele ainda sofre de gastroparesia, um problema no estômago surgido após uma complicada cirurgia de hérnia de hiato. Lee, também 72, não comenta publicamente se tem ou não alguma doença diagnosticada, mas sua idade está avançada e nem todo mundo é Mick Jagger.

Fora o período favorável, o que mais importa: eles querem fazer isso. Nos últimos 3 anos, Alex e Geddy disseram em entrevistas diversas que seguiram se encontrando, praticamente toda semana, para jantar e tocar juntos. São, acima de tudo, amigos. À CBS, em 2023, Lee revelou até mesmo uma conversa sobre recrutar um baterista para turnê. Agora, eles garantem que só decidiram pela reunião recentemente, mas a semente estava plantada. Até o nome de Anika pairava havia algum tempo, já que o vocalista e baixista conheceu o trabalho da baterista em 2022, quando esta excursionou com Jeff Beck.
É de conhecimento público que, em 2015, Alex Lifeson e especialmente Geddy Lee não queriam parar. Respeitaram o desejo de Neil Peart, acometido por problemas físicos como tendinite crônica. Colocaram o Rush para hibernar até sua morte devido a um câncer no cérebro, em 2020. Aguardam mais 5 anos. Se até com toda essa cautela alguns fãs se chateiam… paciência. Vida que segue. E está seguindo. Com enorme respeito pelo que já ocorreu, mas sem impeditivos para fazer o que se deseja enquanto ainda é tempo.

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