“Quando a gente ouvia, parecia que eu estava em êxtase”. É assim que MC Cabelinho define o processo de criação do novo EP, Êxtase, lançado nesta quinta-feira, 25. Com seis faixas, o projeto sucede Não Sou Santo, Mas Não Sou Bandido (2024) e marca mais um passo da versatilidade criativa do artista.
A Rolling Stone Brasil trocou uma ideia com o rapper carioca sobre o novo trabalho e sua carreira atual. O projeto curto, com apenas seis faixas, aprofunda ainda mais a veia sexy e romântica do cantor.
Durante o papo rápido, somente 15 minutos, MC Cabelinho, sentado e de regata branca em seu estúdio dourado com uma infinidade de bonecos nas prateleiras às suas costas, compartilhou comigo foi o desenvolvimento do EP que, segundo ele, começou na reta final do lançamento do seu último disco de estúdio:
“Cara, na real eu sempre estou criando música, tá ligado? Tem uma música desse EP que estaria no meu último álbum [Sozinho], sendo que quando eu acabei o disco, eu vi que ela não se encaixava. Teve também o lance do reggae [Rastafari], que foi algo que criei tipo um ano atrás. Então falei: ‘Nossa, mano, tem várias musiquinhas de amor maneiras, acho que eu vou juntar em um projeto’”.
Com o tema e o repertório definidos, ficou fácil definir o título. Para Cabelinho, a grande temática do projeto é a intensidade, um amor que ele define pelo conceito de “Love Bomb”: sobre um amor mais intenso:
“Aquele amor que, tipo, uau! Até quando cê acende o fósforo pega fogo, mas ele apaga muito rápido. Então, Êxtase é sobre isso”.
Faixa por faixa

A faixa de abertura, “Little Baby”, por exemplo, é uma referência aos álbuns anteriores, Little Hair (2021) e Little Love (2022). Nela, Cabelinho canta ao lado da sensação do rap atual, Duquesa, sobre um casal cuja química é tão intensa, que desperta até a vontade de gerar um filho.
Já a parceria com a cantora americana Kaash Paige, em “Vibe”, proporciona um dos momentos mais sensuais e curiosos do EP. O dueto canta sobre desejo físico e entrega emocional, criando uma atmosfera intensa e sensual.
No entanto, a conexão entre o artista do Rio de Janeiro e a estrela do R&B, conhecida por seus hits e por trabalhar com nomes como Don Toliver e Killer Mike, surgiu de forma totalmente inesperada.
“Quando eu fui para Saint-Tropez, na França, conheci o Damian, um produtor, que me perguntou se eu conhecia ela. E uns dias depois ele me falou que ela queria fazer algo comigo. Aí a gente começou a trocar ideia e a parceria fluiu.”
Se por um lado Cabelinho e Paige falam de entrega, a faixa seguinte, “Sozinho”, em parceria com a paulistana Triz, tem um flow cortante que aborda a liberdade de não se apegar ao outro, no melhor estilo “putão” do MC: “Te dou prazer, mas amanhã me esquece/ Eu não posso ser teu e nem de ninguém”.
E se até agora o EP mostrou o lado mais putão dele, falando de suas intimidades e desejos, o restante das faixas equilibra o jogo. Segundo ele mesmo, em uma escala onde 0 é muito putão e 10 é totalmente apaixonado, o Cabelinho de Êxtase está no meio-termo. Apesar das músicas mais “Love Bomb”, a persona ainda apaixonada pode ser percebida em “Fui”, a penúltima do tracklist. Com batidas mais espaçadas e calmas, aqui Cabelinho versa sobre uma relação desgastada, mas que ainda não foi superada: “Atrás do balde que eu chutei um dia, eu fui/ Mesmo sabendo que a gente não vai voltar”.
E não para por aí, um pouco antes, Êxtase abraça temas como a espiritualidade e questões íntimas e parentais na canção “5ª Dimensão”. Nessa balada trap, a fé ganha espaço com a busca por equilíbrio. Inclusive, é essa faixa que ele está mais ansioso para apresentar durante seus shows. O motivo?
“Eu quero muito cantar essa no meu show porque ela me leva para vários lugares, tá ligado? Ela fala mais paradas ali, que não é só de amor, entendeu? Tem um pouco de espiritualidade, com putaria, com os papos reto também, entendeu? Então quero mesmo que o mundão ouça essa daí”, disse.
A busca por uma arte que “te leva para vários lugares” é uma das características mais marcantes de “5ª Dimensão”, faixa que Cabelinho aponta como sua favorita do projeto. A inspiração para ela, segundo ele, veio diretamente do cinema após assistir Interestelar (2014).
O cinema, parte de sua rotina profissional (com a gravação da série Fúria para a Netflix), também foi o catalisador para a faixa que inspirou o projeto e também o encerra, Rastafari. Cabelinho conta que a ideia de criar um reggae surgiu após assistir à cinebiografia Bob Marley: One Love (2024).
A canção, que encerra o EP Êxtase, é, acima de tudo, uma homenagem para sua família maranhense, terra do reggae no Brasil:
“Descobri que no Brasil, o Maranhão é o lugar do reggae, tá ligado? Minha família por parte de pai é de lá. Fui para os lençóis, gravei um clipe e falei: ‘Ah, mano, é isso mesmo que eu vou lançar’.”
A faixa chegou como single e mistura romance e reflexão, com versos que falam de amor e sobre ter que deixar o ego e dinheiro de lado para dar espaço à fé e lembrar que as tempestades da vida passam.
Êxtase já está disponível
Do trap sensual de Little Baby com Duquesa à experimentação de um novo gênero em Rastafari, Êxtase é um trabalho que Cabelinho define como o reflexo de sua vida:
“Ccanto aquilo que vivi, entendeu? Nossa vida é assim, mesmo, tá tudo misturado. P*taria, espiritualidade… a gente vive tudo de uma vez. Claro que eu não vou fazer putaria num local de espiritualidade”, completou.
Em um momento de intensa atividade criativa, MC Cabelinho prova que o segredo de sua ascensão do funk para o topo da música e da TV está em se manter fiel à sua verdade. “Fico feliz aí da galera abraçando cada vez mais o meu trabalho”, finalizou o artista, que torce para que o EP cumpra seu objetivo principal: levar o público à mesma sensação que o batizou.
O post MC Cabelinho reflete sua vida em novo EP: ‘Espiritualidade com o papo reto’ apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.