Pontualmente às 23h15 do domingo, 14, as luzes se apagaram na região do Autódromo de Interlagos onde estava montado o imponente palco Skyline do The Town. Era o início a uma espécie de videogame futurista que tomaria conta das próximas duas horas. Ali começava não apenas o show de Katy Perry, mas uma experiência sensorial que nos faria questionar: quando o espetáculo se torna grande demais para sua própria música?
A artista de 40 anos surgiu no palco trazendo toda a pompa que sua carreira construiu ao longo dos anos: dançarinos impecáveis, elementos cenográficos que se moviam como peças de um quebra-cabeças gigante e um aparato técnico que, embora menos complexo que suas apresentações em arenas pelo mundo, ainda impressionava pela dimensão.

Do respeito morno ao frenesi
O show, dividido em seis atos, começou com três canções de discos mais recentes, todas recebidas com um respeito morno: “Artificial” (uma das sete que viriam de 143), “Chained to the Rhythm” (única representante de Witness) e “Teary Eyes” (uma das sete de Smile). Aqui, o primeiro contraste gritante da noite se revelou, pois a trinca foi sucedida por “Dark Horse”, quando a energia mudou significativamente já nas primeiras notas.
O eterno meme brasileiro “Meu nome é Júlia!” que acompanha essa música ganhou vida própria entre os milhares de vozes. Nesse instante, víamos o poder real de Katy Perry: sua capacidade de transformar uma multidão em uma grande roda de amigos cantando junto.

A empolgação atingiu seu ápice durante a segunda parte do espetáculo. “California Girls”, “Teenage Dream”, “Hot n Cold”, “Last Friday Night (T.G.I.F.)” e “I Kissed a Girl”, que definiram uma geração e que provaram ser atemporais, foram executadas em sequência, após a nova “Woman’s World”.
Mas então veio mais uma “troca de fase”, e aqui o show revelou seu maior problema.
Katy Perry erra a mão
Entre trocas de figurino, telas interativas piscando incessantemente e mais uma parte da narrativa no telão, a apresentação de Katy Perry perdeu seu fôlego. Não eram apenas alguns minutos de pausa; era uma quebra no fluxo emocional que havia sido construído com tanto cuidado. O público, que segundos antes cantava com empolgação, agora observava passivamente enquanto a tecnologia tentava contar uma história que talvez não precisasse ser contada.
Katy estava ali: bela, carismática como sempre, cantando com a voz que conhecemos, dançando. Mas a pergunta que ecoava na mente de quem assistia era: precisa mesmo de toda aquela parafernália?
As interações constantes com os telões criavam um efeito contrário ao esperado. Em vez de aproximar, afastavam. Em vez de aquecer, esfriavam. Era como se estivéssemos assistindo a um filme sobre um show da Katy Perry, e não ao show em si.

O momento mais humano da noite veio antes de “The One That Got Away” — já no fim do quarto ato e na altura da vigésima música do set —, quando ela convidou um fã para subir ao palco, tradição que sempre gera comoção e que desta vez não foi diferente. Ali, sem efeitos especiais, apenas Katy e um brasileiro emocionado, o show encontrou sua essência.
Precisa de tanto esforço?
A turnê de Katy Perry vem recebendo críticas mistas mundo afora. Agora, entendemos o porquê.
No The Town, a artista entregou inquestionavelmente um “super show”. Tratava-se, porém, de um espetáculo pensado para ginásios e arenas fechadas, menores e mais intimistas. Em tais ambientes, cada efeito visual e narrativa complexa fazem mais sentido do que no ambiente aberto e coletivo de um festival.
A sensação no Autódromo de Interlavos era de ter assistido a algo tecnicamente impressionante, mas com a música em segundo plano. Como se Katy Perry, na ânsia de nos dar tudo, tivesse esquecido que às vezes o “tudo” pode ser menos impactante que o “essencial”.
A reflexão final? Katy, nós te amamos, e é exatamente por isso que queremos dizer: você não precisa se esforçar tanto.

Setlist Katy Perry —The Town 2025:
ARTIFICIAL – Level 1
1. ARTIFICIAL
2. Chained to the Rhythm
3. Teary Eyes
4. Dark Horse
WOMAN’S WORLD – Level 2
5. WOMAN’S WORLD
6. California Gurls
7. Teenage Dream
8. Hot n Cold
9. Last Friday Night (T.G.I.F.)
10. I Kissed a Girl
NIRVANA – Level 3
11. NIRVANA
12. CRUSH
13. I’M HIS, HE’S MINE
14. Wide Awake
CHOOSE YOUR ADVENTURE – Level 4
15. Small Talk
16. Hummingbird Heartbeat
17. Peacock
18. Only Love / Resilient / Never Really Over
19. Harleys in Hawaii
20. The One That Got Away
21. ALL THE LOVE
MAINFRAME – Level 5
22. E.T.
23. Part of Me
24. Rise
END GAME – Level 6
25. Roar
26. Daisies
27. LIFETIMES
28. Firework
O post Katy Perry oferece espetáculo no The Town, mas peca pelo excesso apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.