
Quando Brian Bell atende a videochamada, são quase 8h da manhã em Los Angeles e a chuva cai forte lá fora. Do outro lado da tela, em São Paulo, o clima oscila entre frio e calor, uma montanha-russa climática que logo atribuímos às mudanças climáticas. É um começo casual para uma conversa que revelaria muito sobre como o Weezer, uma das bandas mais emblemáticas do rock alternativo dos anos 1990, se prepara para retornar ao Brasil após seis anos de ausência.
O show acontece neste domingo, 2 de novembro, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, como parte do ecossistema ÍNDIGO, projeto curatorial da 30e que reúne também Bloc Party, Mogwai, Judeline e Otoboke Beaver. Será a primeira vez que o Weezer toca em um festival com propostas mais alternativas no país, diferente de 2019, quando, apesar de terem feito um show solo, dividiram o palco com os Foo Fighters no Rock in Rio, festival com um contexto mais voltado ao rock tradicional.
Essa mudança de cenário parece intrigar Bell. Ele menciona que, durante aquela última visita ao Brasil, tentou mergulhar na música local, buscando sons brasileiros autênticos, nativos mesmo, em cafés e lugares diversos. Para sua surpresa, o que mais ouvia era rock alternativo americano. “É o tipo de som que eu faço, mas eu tento ser uma pessoa multicultural, porque viajo bastante e eu tenho que ouvir música de lugares diferentes, especialmente quando eu os visitei”, explicou o artista, antes de admitir: “Eu estava procurando mais disso. Mas eu provavelmente estava no lugar errado”.
E foi dessa curiosidade que nasceu algo inesperado: uma versão bossa nova do clássico da banda, “Island In The Sun“. Bell conta, com um misto de entusiasmo e autoconsciência, que criou um arranjo completo, inclusive com a partitura transcrita — visto que “a música se encaixa bem com a proposta”. Ele imagina um dia entregar a músicos brasileiros de bossa nova que possam fazer coisas que ele próprio não conseguiria. Então, por enquanto, a versão existe apenas na imaginação, não veremos tão cedo ao vivo com o resto da banda.
A conversa sobre gerações surge naturalmente. Bell observa algo fascinante nos shows recentes: crianças na faixa de 11 anos que sabem todas as letras, acompanhadas pelos pais. É a música sendo transmitida através das gerações. Essas crianças talvez tenham crescido ouvindo todas essas músicas no banco de trás do carro, como aconteceu com ele próprio quando descobriu os Beatles, os Stones e Bob Dylan através dos discos que seu pai tinha em casa. Agora o Weezer ocupa esse lugar: o de rock clássico, por mais estranho que possa soar.
Comento que você percebia que estava ficando mais velho quando as bandas que eu costumava ver mudavam de categoria na MTV, de alternativa para rock clássico. Ele aceita que categorias são formas de organizar as coisas, de criar mercados. E não há por que se incomodar em ser chamado de clássico ou dos anos 1990, especialmente quando tanta música daquela década continua relevante. Ele havia ouvido o primeiro álbum do The Breeders naquela mesma manhã, e para ele soava tão atual quanto qualquer coisa contemporânea.
Quando a conversa vira para o otimismo musical que sempre caracterizou o Weezer, Bell oferece uma perspectiva mais profunda. Patrick Wilson, baterista da banda, uma vez descreveu o grupo como “refrescante” após a era do grunge pesado e sombrio, e pergunto se ainda há espaço para esse tipo de “otimismo” diante do mundo atual. Bell pontua que sim, desde que não seja cafona, mas mesmo nas músicas que soam felizes, ainda existe uma camada de tristeza lá embaixo, até porque, parte do Weezer é sobre ser “desajustado”, “diferentão”, geek, que seja, mas é sobre aqueles que não se encaixam. “Todas as minhas músicas favoritas são lentas e tristes”, ele diz, citando um trecho de uma música da banda.
Para Bell, há espaço tanto para o otimismo quanto para a gravidade. É possível transmitir mensagens positivas, fazer as pessoas quererem dançar e deixar o sol brilhar sem soar piegas ou superficial. O equilíbrio sempre esteve lá, nas entrelinhas.
Sobre o documentário que supostamente está em produção – inclusive com participação de Keanu Reeves – Bell é honesto: ele não viu nada ainda. Uma equipe de filmagem acompanhou a turnê de 2024 com Flaming Lips e Dinosaur Jr, e este ano no Coachella, mas ninguém mostrou material editado. “Espero que alguém me conte!”, brinca, sem conseguir confirmar datas de lançamento ou mesmo se o projeto vai adiante.
Quando perguntado sobre qual música gostaria de ouvir o público brasileiro cantar em São Paulo, Bell não hesita muito. “Say It Ain’t So”, claro – e a banda vai dar todas as oportunidades para que isso aconteça.
A chamada termina com agradecimentos mútuos. Lá fora, a chuva continua caindo em Los Angeles. Aqui, o clima segue imprevisível. Mas no domingo, quando o Weezer subir ao palco no Parque Ibirapuera, nada disso vai importar. Haverá apenas a música, aquela mesma que conecta pais e filhos, que atravessa oceanos e gerações, que transforma “gente esquisita” em uma comunidade.

SERVIÇO
ÍNDIGO apresenta: Weezer, Bloc Party, Mogwai, Judeline, Otoboke Beaver
Quando: domingo, 02 de novembro de 2025, a partir das 13h
Onde: PARQUE IBIRAPUERA | Av. Pedro Álvares Cabral, s/n – Vila Mariana | 04094-050, São Paulo
Ingressos online: aqui
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