Cuidado! Não se deixe enganar. GOAT não é um filme de Jordan Peele (Corra!), mesmo que a campanha de marketing tente vender essa ideia. Na indústria, isso é comum: diretores consagrados dão seu aval a cineastas iniciantes para chamar atenção do público. Para ficar só no terror: James Wan (Jogos Mortais) já fez isso ao passar a direção de alguns filmes da franquia Invocação do Mal para nomes menos conhecidos, Mike Flanagan (Missa da Meia-Noite) também já fez e repetirá o feito com o vindouro Terror em Shelby Oaks, e, nesta novidade, Peele apadrinha Justin Tipping (Kicks) — sabe-se lá o porquê.
Justamente por isso, o público tende a esperar que, com o “selo Peele” estampado no cartaz, o filme se aproxime de sua visão ou da qualidade habitual de seus filmes, ou que este pelo menos repita o que aconteceu em A Lenda de Candyman, produzido por Peele e dirigido por Nia DaCosta (Extermínio: O Templo dos Ossos), que teve uma ótima aceitação da crítica e do público em geral. Mas não é bem assim, o resultado é péssimo e, apesar de não termos o cineasta por trás das câmeras, GOAT não é ruim por isso. Ele falha por seus próprios (des)méritos, tornando-se um dos títulos mais frustrantes de 2025.
Na história, acompanhamos o jovem quarterback Cameron “Cam” Cade, interpretado por Tyriq Withers (Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado), em sua busca pela grandeza sob a orientação de Isaiah White, papel de Marlon Wayans (Todo Mundo em Pânico). À medida que o treinamento avança e se intensifica, o comportamento de Isaiah se revela cada vez mais tóxico e sombrio, levando Cade a um extremo que pode lhe custar sua vida. Além do “selo Peele“, o fato de termos o futebol americano ao centro da narrativa é atraente para o público brasileiro, cada vez mais interessado na modalidade.
O título GOAT — “Greatest of All Time” — sugere uma reflexão sobre fama e idolatria esportiva, entretanto, essa tentativa do filme de explorar sacrifício, ambição e os limites do desejo por sucesso se perde em um roteiro escrito a seis mãos: muitas ideias são lançadas, mas nenhuma delas é desenvolvida com profundidade ou qualquer senso crítico, tudo parece ridículo quando apresentado. A premissa de refletir sobre o que alguém está disposto a sacrificar para se tornar o melhor até desperta interesse a princípio, mas logo se dissolve diante do excesso visual, do simbolismo literal e do estilo espetaculoso que dominam cada cena.
GOAT parece um videoclipe: colorido, repleto de efeitos visuais estimulantes, com iluminação de balada underground nas cenas internas, e nas externas super claro e ensolarado, além de um design de som carregado. Se cortado em trechos de segundos, poderá render diversos vídeos virais no TikTok — e acredite, há quem assista filmes assim por lá. A estética é exagerada, apelando para o mais clichê que se pode esperar de um terror de seita, cheia de símbolos óbvios e gritantes, parece que Tipping se concentra mais em impressionar com estilo do que em construir personagens, narrativa ou uma crítica a essa idolatria aos GOATs. Cada cena é praticamente um exercício literal de simbolismo.
As atuações seguem o mesmo padrão irregular. Marlon Wayans, apesar da intensidade, soa canastrão; Tyriq Withers é insosso e não consegue carregar o protagonismo; Julia Fox (Joias Brutas) surge para desfilar suas curvas, seu estilo exótico e marcas que devem patrociná-la, sem ir além disso; enquanto os coadjuvantes passam sem impacto algum. O elenco não consegue equilibrar o excesso de estilo e simbolismo, deixando o filme carregado de informações autoexplicativas — há um momento, perto do fim, que os personagens literalmente param para explicar como o protagonista chegou até ali.
Em suma, GOAT é visualmente chamativo, mas narrativamente vazio. A sanguinária sequência final é de uma plasticidade que sequer é prazerosa ou bem-humorada. Há ecos de A Substância durante o filme, ao lidar com essa gana por se manter em evidência, mas o terror não consegue sequer chegar ao menor nível de debate que aquele título proporcionou. A estética extravagante — que remete a um comercial de perfumes de tão clean — não compensa a previsibilidade, a superficialidade e a falta de desenvolvimento dos personagens. Quem esperava por um terror consistente ou uma reflexão mais elaborada sobre ambição e fama sairá decepcionado. O que sobra é apenas a curiosa mistura entre esporte e terror — e o bom uso do efeito de raio X em alguns momentos —, mas nada disso salva a experiência. No fim, GOAT é a prova de que nem todo “selo Peele” é garantia de qualidade.
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