
Dua Lipa mostrou que o público brasileiro merece mais em sua apresentação do último sábado, 15, no MorumBIS. Diferente de outros artistas que reduzem a estrutura, cortam músicas e economizam na produção quando chegam à América Latina, esperando agradar apenas com um “obrigado” — estou falando de vocês, Ariana Grande, Travis Scott e Drake —, a cantora britânica trouxe a estrutura completa da turnê “Radical Optimism” para cá. Um palco grande, todos os dançarinos, figurinos, pirotecnias e muito mais.
O resultado não poderia ser diferente: um baita show pop, elegante, sensual e carismático que animou a noite dos paulistanos. E ela tinha motivos para não fazer isso. Radical Optimism (2024), álbum que dá nome à turnê, não repetiu o sucesso estrondoso de Future Nostalgia (2020). Enquanto o disco anterior dominou as paradas globais, emplacou hits atrás de hits e consolidou Dua como uma das maiores popstars da década, o projeto mais recente teve uma recepção morna. As vendas ficaram aquém do esperado, os singles não conquistaram o mesmo espaço nas plataformas de streaming, e a repercussão foi visivelmente menor.
Os números da turnê no Brasil refletiram isso. Os ingressos para o show em São Paulo estiveram longe de esgotar e chegaram a receber promoções de até 60% de desconto, um indicativo claro de que a demanda não estava no mesmo patamar de anos atrás.
Show com nostalgia e novidade
Porém, se o álbum novo não vendeu como esperado, o repertório provou algo importante: Radical Optimism funciona — e muito — ao vivo. A estrutura do show foi pensada para equilibrar as novas faixas com os grandes hits da carreira, criando uma jornada que agradou tanto os fãs fiéis quanto quem estava ali pelos sucessos conhecidos.
O show abriu com “Training Season”, seguida por “End of an Era” e “Break My Heart”, uma sequência que já deixava claro o tom. Depois veio “One Kiss”, “Whatcha Doing”, “These Walls”, “Illusion” e por aí foi, misturando hits dos seus três discos.
E apesar das poucas interações em cima do palco, onde focou em dançar sem parar, acertar cada marcação e comandar a festa, quando ela desceu do palco e foi até a grade, tudo mudou completamente.
Ali, a popstar intocável deu lugar a uma pessoa genuinamente interessada em cada fã que conversou. Ela não passou correndo, cumprimentando todo mundo de longe. Ela parou, tirou fotos, abraçou, recebeu presentes e agradeceu olhando nos olhos de cada um.
A DUA FALOU COMIGO ELA FALOU MEU NOME ELA ME ABRAÇOU EU TE AMO MUITO 😭😭😭😭😭😭😭 pic.twitter.com/8sHIf158kF
— fefo (@goofyassup) November 16, 2025
Se a conexão na grade já era especial, as surpresas preparadas para o público brasileiro elevaram a noite a outro patamar. No meio do show, Dua Lipa trouxe ao palco dois ícones da música brasileira para covers, características da turnê.
Primeiro veio Carlinhos Brown para “Magalenha”, que, com a sua animação, contagiou todos que estavam lá, seguido por uma segunda surpresa. Ela convidou Caetano Veloso a subir ao palco e cantar “Margarida Perfumada”.
Antes de encerrar a noite, Dua Lipa guardou o melhor para o final. O bis veio como um último ato, onde ela revisitou seus maiores clássicos em versões eletrônicas. “New Rules”, “Dance The Night” e “Don’t Start Now” ganharam outra cara e uma energia contagiante que fez o público pular sem parar.
Ao final das quase duas horas de show, uma coisa ficou muito clara: está na hora do público brasileiro parar de se contentar com pouco. Parar de aceitar migalhas dos artistas que vêm aqui apenas cumprir tabela. Dua Lipa provou que é possível — e necessário — tratar a América Latina com o mesmo respeito dedicado à Europa, Estados Unidos e Ásia. E se ela fez isso com um álbum que não vendeu como esperado e ingressos longe de esgotar, imagina quando a situação se inverter. Em outras palavras, fez tudo que deveria ser o mínimo, mas que virou exceção.
O problema é que o público brasileiro se acostumou a comemorar migalhas. A vibrar quando um artista internacional fala “obrigado” com sotaque carregado. A aceitar desculpas esfarrapadas de cancelamentos de última hora. A pagar ingressos caríssimos por shows que são versões empobrecidas do que acontece lá fora. Dua Lipa mostrou que isso não precisa ser assim — e que quando um artista realmente se importa, a diferença é sentida do primeiro ao último minuto.
Setlist
- “Training Season”
- “End of an Era”
- “Break My Heart”
- “One Kiss”
- “Whatcha Doing”
- “Levitating”
- “These Walls”
- “Magalenha”
- “Margarida Perfumada”
- “Maria”
- “Physical”
- “Electricity”
- “Hallucinate”
- “Illusion”
- “Falling Forever”
- “Happy For You”
- “Love Again”
- “Anything For Love”
- “Be The One”
- “New Rules”
- “Dance The Night Interlude”
- “Don’t Start Now”
- “Houdini”
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