Emendando um longa atrás do outro desde 2017, quando ganhou destaque com Me Chame Pelo Seu Nome, Luca Guadagnino se debruça sobre o roteiro de estreia da atriz Nora Garrett e entrega um thriller à altura de seus lançamentos mais recentes, Rivais e Queer, ambos de 2024, em Depois da Caçada, escolhido para abrir a 27ª edição do Festival do Rio, que acontece até o próximo dia 12 de outubro.
Na novidade, uma professora universitária se vê envolvida em uma crise ética e profissional quando a sua melhor amiga acusa outro professor, um amigo de longa data, de agressão sexual. Enquanto os conflitos no campus se intensificam, a partir da divulgação da notícia e o início de uma investigação, segredos da professora ameaçam vir à tona, testando os seus limites entre lealdade, justiça e convicção.
Depois da Caçada apresenta um conflito geracional calcado em uma questão que atravessa gerações tornando-se cada vez mais complicada com o passar dos anos. Não há respostas fáceis para um caso de agressão sexual e o longa de Guadagnino trabalha justamente em cima disso, atualizando a discussão com novas possibilidades: a situação é a mesma — o abuso viabilizado por uma hierarquia de poder —, mas as personagens são diferentes.
De um lado, há a vítima, uma jovem mulher negra e lésbica, mas nascida em uma família rica e privilegiada, que mesmo assim não teria o talento ou a habilidade para ser extraordinária em sua vida acadêmica, como seria esperado. Do outro, um homem branco e heterossexual, um superpredador na cadeia social, mas que lutou para conquistar o destaque profissional pelo qual é reconhecido. Ambos contam as suas histórias — e ambos podem estar dizendo a verdade.
Sem uma única versão a ser considerada, a questão acaba caindo sobre Alma Imhoff (Julia Roberts, O Mundo Depois de Nós), a professora universitária que se vê no meio do conflito entre a vítima, a sua melhor aluna Maggie Price (Ayo Edebiri, O Urso), e o agressor, um de seus amigos mais íntimos, o professor assistente Hank Gibson (Andrew Garfield, Todo Tempo que Temos).
Progressista na hora de defender os próprios direitos em um mundo dominado por homens exatamente como o seu colega, Alma se mostra bastante conservadora quando a acusação surge. Fielmente atada à sua rotina, a professora pende para a manutenção do status quo — afinal, como ser correto em um mundo incorreto? — por parecer temer que a sua vida perfeitamente construída vá pelos ares.
Ao final, sem banalizar uma questão delicada e de extrema importância, Depois da Caçada se exime de dar um veredito sobre o conflito principal, deixando pistas no ar de que, no fim das contas, uma andorinha só não faz verão; e centra a sua solução em Alma e o que a levou a tomar as atitudes que tomou diante do caso. A revelação não só choca como acrescenta uma nova perspectiva dramática à história, aumentando ainda mais as dúvidas e reafirmando que a questão pode ser sempre mais delicada e nociva do que podemos imaginar.
LEIA TAMBÉM: O Agente Secreto, Depois da Caçada e mais: acompanhe a cobertura da Rolling Stone Brasil do Festival do Rio 2025
O post Depois da Caçada e a manutenção do status quo pela própria sobrevivência apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.