‘Frankenstein’, ‘No Other Choice’, ‘Bugonia’ e mais destaques internacionais na 49ª Mostra de Cinema de São Paulo
A partir do próximo dia 16 de outubro, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um dos maiores eventos de cinema do Brasil e da América Latina, apresenta a sua 49ª edição, que permite cinéfilos e entusiastas da sétima arte conferir centenas de produções inéditas, obras de diretores consagrados e novos talentos em sessões distribuídas por toda São Paulo e região.
Para ajudar com a maratona cinematográfica, a Rolling Stone Brasil preparou uma lista com 15 produções internacionais para ficar de olho na Mostra de São Paulo 2025, incluindo Frankenstein, novo longa de Guillermo del Toro (Pinóquio), Bugonia, com Emma Stone (Pobres Criaturas) e No Other Choice, do diretor sul-coreano Park Chan-wook (Oldboy). Confira:
Frankenstein
Em Frankenstein, Victor Frankenstein (Oscar Isaac), um cientista brilhante porém egocêntrico, dá vida a uma criatura em um experimento monstruoso que acaba levando à ruína tanto do criador quanto de sua trágica criação. Uma releitura do romance clássico de Mary Shelley pelo diretor Guillermo del Toro.
Bugonia
Em Bugonia, dois jovens obcecados por teorias da conspiração sequestram a poderosa CEO de uma grande empresa (Emma Stone), convencidos de que ela é uma alienígena com a intenção de destruir o planeta Terra.
No Other Choice
Em No Other Choice, Man-su, especialista em fabricação de papel com 25 anos de experiência, leva uma vida tão plena que pode dizer a si mesmo, com convicção: “Tenho tudo o que preciso”. Ao lado da esposa Miri, dos dois filhos e de seus cães, vive dias felizes, até ser surpreendido pela notícia de que foi demitido. O choque é devastador, mas, ainda assim, Man-su promete a si mesmo que encontrará um novo emprego em três meses pelo bem da família. Porém, a realidade se revela bem mais complicada. Apesar da determinação, ele passa mais de um ano pulando de entrevista em entrevista e se sustentando com um trabalho no comércio. Em pouco tempo, começa a correr o risco de perder a casa pela qual tanto lutou. No desespero, aparece de surpresa na Moon Paper para entregar seu currículo, mas acaba humilhado pelo gerente de linha Sun-chul. Convencido de que é mais qualificado do que qualquer candidato para trabalhar na empresa, Man-su toma uma decisão drástica: “Se não existe uma vaga para mim, vou ter que criá-la”.
Foi Apenas um Acidente
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, Foi Apenas Um Acidente, de Jafar Panahi, começa como um pequeno acidente desencadeia uma série de crescentes consequências.
O Som da Queda
O Som da Queda traz quatro meninas, Alma, Erika, Angelika e Lenka, que passam a juventude na mesma fazenda, no norte da Alemanha. À medida que a casa se transforma ao longo de um século, os ecos do passado permanecem ali, nas paredes. Embora separadas pelo tempo, suas vidas começam a refletir umas nas outras.
Mirrors No. 3
Mirrors No. 3 apresenta Laura, uma estudante de Berlim, que sobrevive milagrosamente a um acidente de carro. Fisicamente ilesa, mas profundamente abalada, ela é acolhida por Betty, que testemunhou o acidente e cuida dela com carinho. Aos poucos, o marido e o filho de Betty superam a relutância inicial, e uma tranquilidade quase familiar se instala. Mas, logo, eles não conseguem mais ignorar o passado e Laura precisa enfrentar a sua própria vida.
Sirât
Filme de abertura da Mostra, Sirât traz Pai e filho chegando a uma rave nas montanhas do sul do Marrocos. Ambos estão em busca de Mar — filha e irmã —, que desapareceu meses antes em uma dessas festas intermináveis. Cercados por música eletrônica e por uma sensação crua e desconhecida de liberdade, eles distribuem a foto da jovem repetidas vezes. A esperança vai se apagando, mas os dois persistem e seguem um grupo de frequentadores rumo a uma última festa no deserto. Conforme avançam por esse cenário escaldante, a jornada os obriga a confrontar seus próprios limites.
A História do Som
A História do Som inicia em 1917, quando Lionel (Paul Mescal) — um jovem e talentoso estudante de música — conhece David (Josh O’Connor) no Conservatório de Boston, onde eles se aproximam pelo profundo amor que compartilham pela música folk popular. Anos depois, Lionel recebe uma carta de David, que os leva a uma viagem improvisada pelo interior do Maine para coletar canções folk tradicionais. Este encontro inesperado, o caso de amor que nasce dele e a música que coletam e preservam vão influenciar o curso da vida de Lionel muito além de sua própria consciência.
Palestina 36
Palestina 36 mostra vilarejos por toda a Palestina que se insurgem contra o domínio colonial britânico, Yusuf, que tenta construir sua vida para além dessa crescente agitação, se vê dividido entre sua casa na região rural e a inquietude de Jerusalém. Mas a história é implacável. Com o aumento do número de imigrantes judeus fugindo do antissemitismo na Europa e a população palestina se unindo na maior e mais longa revolta contra os 30 anos desse domínio colonial, tudo parece se encaminhar em direção a um conflito inevitável, em um momento decisivo para o Império Britânico e o futuro de toda a região.
Nouvelle Vague
Richard Linklater (Antes do Pôr-do-Sol) traz Nouvelle Vague, a história de Godard filmando Acossado (1960), contada no estilo e no espírito do diretor.
Blue Moon
Também de Linklater, Blue Moon se passa na noite de 31 de março de 1943, quando o lendário letrista Lorenz Hart, convivendo com uma crise pessoal e criativa, se encontra no bar Sardi’s, enquanto seu antigo parceiro Richard Rodgers comemora a estreia triunfal de seu revolucionário musical “Oklahoma!”.
Eddington
Eddington se passa em maio de 2020, quando um impasse entre o xerife e o prefeito de uma pequena cidade desencadeia o caos, colocando vizinho contra vizinho em Eddington, no Novo México.
Pai Mãe Irmã Irmão
Pai Mãe Irmã Irmão, vencedor do Festival de Veneza, é um longa-metragem, ainda que seja cuidadosamente construído na forma de um tríptico. As três histórias tratam das relações entre filhos adultos, seus pais, um tanto distantes, e também entre si. Cada um dos três capítulos se passa no presente e em um país diferente. “Pai” se passa no nordeste dos EUA, “Mãe” em Dublin, na Irlanda, e “Irmã Irmão” em Paris, na França. O filme é uma série de estudos de personagens: tranquilo, observacional e sem julgamentos — uma comédia, mas entrelaçada por tons de melancolia.
Jovens Mães
Em Jovens Mães, dos irmãos Dardenne, Jessica, Perla, Julie, Ariane e Naïma estão vivendo em um abrigo para jovens mães. Cinco adolescentes que esperam uma vida melhor para si e para seus bebês.
Jay Kelly
Filme de encerramento da Mostra, Jay Kelly traz o famoso ator de cinema Jay Kelly (George Clooney) em uma jornada de autodescoberta, encarando seu passado e seu presente. Ao lado de seu dedicado empresário Ron (Adam Sandler), eles percorrem a delicada linha entre os arrependimentos da vida e suas notáveis conquistas.
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Amiga relembra último encontro com Diane Keaton: ‘Ela estava muito magra’
Diane Keaton (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa), um dos rostos mais icônicos do cinema americano, morreu no sábado (11), aos 79 anos, na Califórnia. Poucas semanas antes da morte, a atriz havia recebido a visita de uma de suas amigas mais próximas, a compositora Carole Bayer Sager — que relembrou os últimos momentos das duas.
Em entrevista à People, Carole contou ter ficado surpresa com a aparência de Diane na ocasião. “Vi Diane há duas ou três semanas, e ela estava muito magra. Tinha perdido muito peso”, relatou.
A artista, vencedora do Grammy e do Oscar, descreveu a amiga como “uma luz mágica” em sua vida. “Ela era tão especial, iluminava qualquer ambiente com a energia que tinha. Estava sempre feliz, animada, tirando fotos de tudo. Era completamente criativa — nunca parava de criar.”
Segundo Carole, as duas haviam se visto menos nos últimos meses. Diane passou boa parte do ano em Palm Springs, após sua casa em Los Angeles ser danificada por fumaça e fuligem durante os incêndios florestais na Califórnia. “Ela precisou ficar lá por um tempo enquanto faziam a limpeza. Quando voltou, fiquei chocada com o quanto tinha emagrecido”, contou a compositora.
Mesmo assim, Diane mantinha o bom humor e o entusiasmo que marcaram sua trajetória — tanto na vida pessoal quanto nas telas. “Ela era pura alegria. Continuava sendo a mesma Diane: criativa, generosa e curiosa com o mundo”, disse Carole.
A parceria entre Keaton e Sager se estendeu à música. Em novembro de 2024, as duas lançaram “First Christmas”, o primeiro e único single solo da atriz, escrito por Carole em parceria com o produtor Jonas Myrin. “Ela amou gravar essa canção, estava quase infantil de tanta empolgação”, lembra a amiga. “Cantava com tanta verdade… às vezes chorava durante a gravação. Foi um momento muito bonito.”
Carole também recorda o estilo único da atriz, que fez história com o figurino de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa. “Ela ia ao cinema sempre vestida como se estivesse prestes a filmar outra cena do filme”, brincou. “Usava seus chapéus, jaquetas, calças largas e cintos — uma verdadeira criadora do próprio ícone fashion.”
Amigos próximos confirmam que, mesmo nos últimos dias, Diane mantinha o humor afiado e a personalidade marcante. “Ela foi engraçada até o fim”, disse um deles à People. “Viveu exatamente como queria — no seu próprio ritmo, cercada pelas pessoas e coisas que amava.”
Fonte: People
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Diane Keaton: 10 filmes essenciais
A esposa original da máfia, a excêntrica pioneira da comédia romântica, a autora feminista do início do século XX, a mulher moderna do final do século XX navegando tanto pela turbulenta “década do eu” quanto pelos anos 1980 do “você pode ter tudo” — esses papéis poderiam ter sido memoráveis nas mãos de inúmeros atores. Diane Keaton os tornou icônicos.
Desde seu papel de destaque em O Poderoso Chefão até sua inesquecível interpretação de uma dramaturga que navega por traiçoeiras águas românticas em Alguém Tem Que Ceder, Keaton — que faleceu ontem aos 79 anos — nunca deixou de adicionar profundidade, humanidade, força e um senso de vulnerabilidade a cada personagem que interpretou. Aqui estão 10 de nossas performances favoritas da grande e saudosa atriz.
O Poderoso Chefão (1972)

Quando a maioria das pessoas menciona este marco imponente dos anos 1970 — a fusão perfeita entre a amplitude da velha Hollywood e a garra da nova Hollywood — elas falam de Brando, Pacino, Coppola, as citações intermináveis que permanecem parte do léxico pop (“Eu vou fazer uma oferta que ele não pode recusar”). Diane Keaton geralmente não é a primeira pessoa a ser mencionada, mas não se engane: ela é uma parte absolutamente essencial desta obra-prima americana.
Sua personagem, Kay Corleone, não é apenas a substituta do público, observando a cultura e os costumes deste clã ítalo-americano da perspectiva de uma estranha e, assim, nos permitindo entrar também nesse mundo. Ela é o centro moral do filme, aquela que confronta Michael Corleone por barganhar sua alma e fazer tudo ser sobre negócios em vez de ser pessoal. Até mesmo a insistência de Kay de que “senadores e presidentes não mandam matar pessoas” (quem está sendo ingênua agora, Kay?) sugere uma visão otimista do mundo que neutraliza a realidade violenta da mentalidade da máfia de seu namorado. Sua leitura daquela frase diz tudo. E quando aquela porta é fechada para Kay na cena final do filme, Keaton garante que você veja a perda no rosto de Kay.
Ela reprisaria a personagem com grande efeito em O Poderoso Chefão: Parte II — sua cena “isso tudo tem que acabar” permanece absolutamente devastadora — e retornaria para a Parte III décadas depois. Mas seu papel de estreia no cinema estabeleceu Keaton como alguém que seguiríamos para qualquer lugar. Vê-la era uma oferta que nunca poderíamos recusar.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Keaton foi escalada ao lado de Woody Allen na produção teatral original de 1969 de Play It Again, Sam (Sonhos de um Sedutor), que marcaria o início de um longo relacionamento romântico e de uma colaboração profissional ainda mais longa e indelével. Seu trabalho contracenando com o ator-diretor na versão cinematográfica de 1972 dessa comédia que idolatra Humphrey Bogart, bem como em O Dorminhoco (Sleeper, 1973) e Guerra e Paz (Love and Death, 1975), ajudou a estabelecê-la como uma comediante de primeira linha e a parceira perfeita para o desajeitado e eterno nebbish (indivíduo patético e inseguro) de Allen.
No entanto, foi o tributo de Allen a Keaton em 1977 que a transformou em uma estrela de cinema de boa-fé. A partir do momento em que ela profere a frase característica de Annie, “La di da” — um termo que Keaton pegou de seu próprio repertório de frases da vida real —, ficamos tão encantados por esta nova-iorquina maluca, adorável e neurótica quanto Alvy Singer.
As roupas por si só foram suficientes para tornar a personagem-título um ícone e impulsionar uma tendência de moda de ternos folgados e chapéus flexíveis. No entanto, é a maneira como Keaton transforma uma intelectual boba (ou talvez seja uma intelectual desajeitada?) em uma mulher moderna tridimensional e totalmente desenvolvida. O papel lhe rendeu um Oscar, e Keaton continuaria a trabalhar esporadicamente com Allen nas décadas seguintes. Mas este permanece como o auge tanto de seu trabalho conjunto quanto da era de “It Girl” de Keaton nos anos 70. La di da, de fato.
À Procura de Mr. Goodbar (1977)

“Prefiro ser seduzida a confortada”, diz Theresa Dunn, a professora interpretada por Diane Keaton, a alguém no início da adaptação de Richard Brooks para o best-seller de Judith Rossner — e sua personagem passará o resto do filme procurando o Sr. Certo (ou o Sr. Serve-Para-Esta-Noite) em busca tanto de sedução quanto de conforto.
Visto hoje, esta abordagem à então crescente tendência dos bares de solteiros parece datada em todos os sentidos, exceto pela performance extraordinária de Keaton. Ela consegue fazer com que Dunn pareça tanto um símbolo representativo de toda mulher tentando navegar em águas sociais agitadas, quanto o tipo de mulher comum que você veria no metrô.
Sério, nomeie outro ator por volta de 1977 que poderia se manter firme contra um maníaco Richard Gere usando um suspensório atlético, agitando os braços enquanto segura o que parece ser uma faca cor fluorescente! Keaton faz você sentir a solidão e a esperança dessa mulher sem fazê-la parecer lamentável ou desesperada; o jogo de emoções que transcorre em seu rosto durante aquela sequência com Gere, ou quando ela percebe que o último encontro que leva para casa é menos estável do que imaginava, entrega tudo sem dizer uma palavra.
Reds (1981)

Vendido como um épico drama romântico histórico, este retrato do ativista comunista do início do século XX, John Reed, tinha a grandiosidade de …E o Vento Levou ou Doutor Jivago. Mas nem Vivien Leigh nem Julie Christie tiveram um papel tão substancial quanto o que foi dado a Diane Keaton pelo diretor Warren Beatty — o da autora feminista Louise Bryant, que se apaixona por Reed, mas nunca perde sua ardente independência no processo.
Após uma década ganhando aclamação nos filmes de O Poderoso Chefão e como musa frequente de Woody Allen, Keaton encontrou uma nova marcha aqui, exibindo um intelecto cortante que estava muito distante das personagens mais suaves e doces de sua carreira anterior. No entanto, a desafiança de Bryant é muito bem complementada pelas vulnerabilidades da personagem, dando a Keaton a chance de fazer uma história de amor em uma tela grandiosa que, no entanto, parece íntima da maneira que suas melhores performances sempre foram.
E quem pode esquecer os trechos finais de Reds, nos quais Bryant vai àquela estação de trem lotada na esperança de que seu verdadeiro amor, Reed, apareça — sua antecipação se transformando em pânico, depois em desespero, e finalmente em gratidão lacrimosa.
A Chama Que Não Se Apaga (1982)

Para muitos, Keaton epitomou a mulher independente da década de 1970. No contundente drama doméstico de Alan Parker, ela daria um rosto ao crescente número de divorciadas no início dos anos 1980.
Como uma das metades do casal que se desintegra diante de seus olhos, Faith Dunlap (Keaton) é forçada a lidar com seu marido infiel, George (interpretado por Albert Finney), e tenta encontrar o amor em meio às ruínas de sua situação com um empreiteiro (Peter Weller) que está construindo sua quadra de tênis. Você não chamaria a separação deles de amigável. Todos se lembram da pura crueldade das brigas neste filme — acredite, elas são brutais — e o quociente de amargura é altíssimo.
Mas são os momentos silenciosos de Keaton no filme que nos atingem quando o revemos agora, desde o olhar de choque em seu rosto enquanto os Dunlaps voltam para casa após um evento formal, até Faith fumando um cigarro de maconha na banheira e cantando suavemente “If I Fell” dos Beatles. É de alguma forma o momento mais bonito e devastador em um filme repleto de som e fúria, e é tudo obra de Keaton.
Crimes do Coração (1986)

É a santíssima trindade de atrizes de peso dos anos 1980 (se Meryl Streep estivesse envolvida, seria como Os Vingadores para as mulheres fortes daquela época, cujos nomes ficavam acima do título nos cinemas). E você não poderia pedir um trio melhor do que Sissy Spacek, Jessica Lange e Diane Keaton para abordar a peça vencedora do Pulitzer de Beth Henley sobre três irmãs sulistas lidando com as consequências de um crime — especificamente, um que envolve não apenas o coração, mas o corpo de um dos maridos.
Retornando à casa da família no Mississippi, as irmãs Magrath têm cada uma sua maneira de lidar com a situação; para Lenny Magrath de Keaton, que é mais reservada, isso significa se preocupar que a família seja dilacerada pelo escândalo e lamentar uma juventude que a deixou para trás. É definitivamente um trabalho de conjunto, e a alegria do filme é ver essas três estrelas interagindo entre si. Mas isso não significa que Keaton não tenha seus momentos de destaque, ou que não consiga transformar uma cena simples envolvendo o ato de comer seus chocolates em uma ária de raiva e ressentimento acumulado.
Presente de Grego (1987)

A década de 1980 teve sua parcela de comédias sobre mulheres no ambiente de trabalho corporativo, de Como Eliminar Seu Chefe (9 to 5) a Uma Secretária de Futuro (Working Girl). No meio desses clássicos está Presente de Grego (Baby Boom), a primeira colaboração entre Keaton e Nancy Meyers.
Ela estrela como J.C. Wiatt, uma yuppie obcecada pela carreira que herda o bebê de uma prima que não via desde 1954. Ela acaba abandonando Nova York — e seu namorado banqueiro, interpretado por Harold Ramis — e se muda para a zona rural de Vermont, onde assume totalmente o papel de mãe e inventa comida natural para bebês.
Tinha se passado apenas uma década desde Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, mas Keaton passou os anos recentes estrelando dramas; é quase como se ela estivesse armazenando toda essa energia cômica e ansiosa, esperando para liberá-la. Nem um único segundo deste filme de 110 minutos é desperdiçado, enquanto ela tem um colapso histérico após o outro, como quando seu poço literalmente seca e ela desabafa com o técnico de reparos — de forma tão profunda que cai de costas na neve.
Revisitando o filme anos depois, ela ficou surpresa com sua própria atuação. “Eu assisti”, ela disse, “e pensei, ‘Meu Deus, eu não sei como eu fiz isso’”.
O Pai da Noiva (1991)

Logo após O Poderoso Chefão Parte III, Keaton interpretou uma esposa muito diferente — o tipo calma, cool e controlada, que tira o marido teimoso (Steve Martin) da cadeia depois que ele se recusa a comprar um pacote de doze pães de cachorro-quente em vez dos oito que ele queria.
Neste remake da comédia de 1950 O Pai da Noiva, Nina Banks era o contraponto cômico ao seu marido tenso e neurótico, que simplesmente não conseguia aceitar o fato de que a filha, Annie (Kimberly Williams), estava se casando. Nina genuinamente gosta de seu charmoso futuro genro (George Newbern) e do planejador de casamentos caprichosamente estranho, Franck Eggelhoffer (Martin Short). Mas em vez de apenas interpretar uma dona de casa complacente que balança a cabeça para as palhaçadas ridículas do marido — aquele casamento custou US$ 250 por cabeça! —, Keaton trouxe profundidade a Nina, tornando-a pé-no-chão, lógica e incrivelmente engraçada.
Ela ganhou ainda mais material para trabalhar na sequência de 1995, quando Nina engravida junto com a filha, e George vende a casa sem lhe contar. Keaton brilha com cada fala naquele filme também, como quando Annie lhe pergunta se ela tirou uma foto da árvore favorita deles antes de se mudarem. “Apenas um rolo inteiro, querida”, ela responde em lágrimas.
O Clube das Desquitadas (1996)

Como Annie MacDuggan-Paradis, uma dona de casa ansiosa preterida pelo marido em favor da terapeuta do casal, Keaton ofereceu empatia àquelas que lutam para encontrar autonomia no final de um casamento.
Sua química com as co-estrelas de O Clube das Desquitadas, Bette Midler e Goldie Hawn — que supostamente sugeriu Sally Field para o papel de Annie — era inegável e cativantemente convincente. Juntas, era impossível não torcer por elas, e a merecida vingança de Annie, quando ela finalmente se impôs e assumiu a agência de publicidade do marido, gerou aplausos.
O filme não estaria completo sem o trio performando sua própria versão do sucesso de Lesley Gore, “You Don’t Own Me” — um hino para qualquer pessoa tentando se reerguer. Keaton frequentemente refletia sobre o quanto foi divertido filmar este longa, e é um sentimento que o espectador consegue captar. Ela era alguém que realmente apreciava seu trabalho.
Alguém Tem que Ceder (2003)

Keaton colaborou com Nancy Meyers quatro vezes ao longo de sua carreira, mas nenhum filme foi tão satisfatório quanto Alguém Tem Que Ceder. Era uma comédia romântica clássica, mas com uma reviravolta: Meyers rejeitou a ideia de que esses tipos de filmes tivessem que ser estrelados por atores jovens, permitindo que Keaton e Jack Nicholson tivessem a oportunidade de provar que o amor chega em todas as idades.
Ela trouxe uma doçura a Erica, uma dramaturga de sucesso que não sucumbiu à amargura do divórcio. Era fácil ver por que o jovem Julian (Keanu Reeves) estava tão apaixonado por ela — o público também estava.
Ela venceu o Globo de Ouro e conquistou várias indicações adicionais, incluindo a de Melhor Atriz no Oscar. O filme apresenta a memorável cena em que Keaton se despe para uma sequência cômica com Nicholson, e ela disse mais tarde à Interview: “Não era a minha ideia de um bom momento, mas era um filme tão maravilhoso. E, claro, eu fiz a coisa que pensei que nunca faria. Então, o que isso diz sobre mim?”.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, no dia 12 de outubro, e pode ser conferido aqui.
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Diane Keaton: 10 filmes essenciais
A esposa original da máfia, a excêntrica pioneira da comédia romântica, a autora feminista do início do século XX, a mulher moderna do final do século XX navegando tanto pela turbulenta “década do eu” quanto pelos anos 1980 do “você pode ter tudo” — esses papéis poderiam ter sido memoráveis nas mãos de inúmeros atores. Diane Keaton os tornou icônicos.
Desde seu papel de destaque em O Poderoso Chefão até sua inesquecível interpretação de uma dramaturga que navega por traiçoeiras águas românticas em Alguém Tem Que Ceder, Keaton — que faleceu ontem aos 79 anos — nunca deixou de adicionar profundidade, humanidade, força e um senso de vulnerabilidade a cada personagem que interpretou. Aqui estão 10 de nossas performances favoritas da grande e saudosa atriz.
O Poderoso Chefão (1972)

Quando a maioria das pessoas menciona este marco imponente dos anos 1970 — a fusão perfeita entre a amplitude da velha Hollywood e a garra da nova Hollywood — elas falam de Brando, Pacino, Coppola, as citações intermináveis que permanecem parte do léxico pop (“Eu vou fazer uma oferta que ele não pode recusar”). Diane Keaton geralmente não é a primeira pessoa a ser mencionada, mas não se engane: ela é uma parte absolutamente essencial desta obra-prima americana.
Sua personagem, Kay Corleone, não é apenas a substituta do público, observando a cultura e os costumes deste clã ítalo-americano da perspectiva de uma estranha e, assim, nos permitindo entrar também nesse mundo. Ela é o centro moral do filme, aquela que confronta Michael Corleone por barganhar sua alma e fazer tudo ser sobre negócios em vez de ser pessoal. Até mesmo a insistência de Kay de que “senadores e presidentes não mandam matar pessoas” (quem está sendo ingênua agora, Kay?) sugere uma visão otimista do mundo que neutraliza a realidade violenta da mentalidade da máfia de seu namorado. Sua leitura daquela frase diz tudo. E quando aquela porta é fechada para Kay na cena final do filme, Keaton garante que você veja a perda no rosto de Kay.
Ela reprisaria a personagem com grande efeito em O Poderoso Chefão: Parte II — sua cena “isso tudo tem que acabar” permanece absolutamente devastadora — e retornaria para a Parte III décadas depois. Mas seu papel de estreia no cinema estabeleceu Keaton como alguém que seguiríamos para qualquer lugar. Vê-la era uma oferta que nunca poderíamos recusar.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Keaton foi escalada ao lado de Woody Allen na produção teatral original de 1969 de Play It Again, Sam (Sonhos de um Sedutor), que marcaria o início de um longo relacionamento romântico e de uma colaboração profissional ainda mais longa e indelével. Seu trabalho contracenando com o ator-diretor na versão cinematográfica de 1972 dessa comédia que idolatra Humphrey Bogart, bem como em O Dorminhoco (Sleeper, 1973) e Guerra e Paz (Love and Death, 1975), ajudou a estabelecê-la como uma comediante de primeira linha e a parceira perfeita para o desajeitado e eterno nebbish (indivíduo patético e inseguro) de Allen.
No entanto, foi o tributo de Allen a Keaton em 1977 que a transformou em uma estrela de cinema de boa-fé. A partir do momento em que ela profere a frase característica de Annie, “La di da” — um termo que Keaton pegou de seu próprio repertório de frases da vida real —, ficamos tão encantados por esta nova-iorquina maluca, adorável e neurótica quanto Alvy Singer.
As roupas por si só foram suficientes para tornar a personagem-título um ícone e impulsionar uma tendência de moda de ternos folgados e chapéus flexíveis. No entanto, é a maneira como Keaton transforma uma intelectual boba (ou talvez seja uma intelectual desajeitada?) em uma mulher moderna tridimensional e totalmente desenvolvida. O papel lhe rendeu um Oscar, e Keaton continuaria a trabalhar esporadicamente com Allen nas décadas seguintes. Mas este permanece como o auge tanto de seu trabalho conjunto quanto da era de “It Girl” de Keaton nos anos 70. La di da, de fato.
À Procura de Mr. Goodbar (1977)

“Prefiro ser seduzida a confortada”, diz Theresa Dunn, a professora interpretada por Diane Keaton, a alguém no início da adaptação de Richard Brooks para o best-seller de Judith Rossner — e sua personagem passará o resto do filme procurando o Sr. Certo (ou o Sr. Serve-Para-Esta-Noite) em busca tanto de sedução quanto de conforto.
Visto hoje, esta abordagem à então crescente tendência dos bares de solteiros parece datada em todos os sentidos, exceto pela performance extraordinária de Keaton. Ela consegue fazer com que Dunn pareça tanto um símbolo representativo de toda mulher tentando navegar em águas sociais agitadas, quanto o tipo de mulher comum que você veria no metrô.
Sério, nomeie outro ator por volta de 1977 que poderia se manter firme contra um maníaco Richard Gere usando um suspensório atlético, agitando os braços enquanto segura o que parece ser uma faca cor fluorescente! Keaton faz você sentir a solidão e a esperança dessa mulher sem fazê-la parecer lamentável ou desesperada; o jogo de emoções que transcorre em seu rosto durante aquela sequência com Gere, ou quando ela percebe que o último encontro que leva para casa é menos estável do que imaginava, entrega tudo sem dizer uma palavra.
Reds (1981)

Vendido como um épico drama romântico histórico, este retrato do ativista comunista do início do século XX, John Reed, tinha a grandiosidade de …E o Vento Levou ou Doutor Jivago. Mas nem Vivien Leigh nem Julie Christie tiveram um papel tão substancial quanto o que foi dado a Diane Keaton pelo diretor Warren Beatty — o da autora feminista Louise Bryant, que se apaixona por Reed, mas nunca perde sua ardente independência no processo.
Após uma década ganhando aclamação nos filmes de O Poderoso Chefão e como musa frequente de Woody Allen, Keaton encontrou uma nova marcha aqui, exibindo um intelecto cortante que estava muito distante das personagens mais suaves e doces de sua carreira anterior. No entanto, a desafiança de Bryant é muito bem complementada pelas vulnerabilidades da personagem, dando a Keaton a chance de fazer uma história de amor em uma tela grandiosa que, no entanto, parece íntima da maneira que suas melhores performances sempre foram.
E quem pode esquecer os trechos finais de Reds, nos quais Bryant vai àquela estação de trem lotada na esperança de que seu verdadeiro amor, Reed, apareça — sua antecipação se transformando em pânico, depois em desespero, e finalmente em gratidão lacrimosa.
A Chama Que Não Se Apaga (1982)

Para muitos, Keaton epitomou a mulher independente da década de 1970. No contundente drama doméstico de Alan Parker, ela daria um rosto ao crescente número de divorciadas no início dos anos 1980.
Como uma das metades do casal que se desintegra diante de seus olhos, Faith Dunlap (Keaton) é forçada a lidar com seu marido infiel, George (interpretado por Albert Finney), e tenta encontrar o amor em meio às ruínas de sua situação com um empreiteiro (Peter Weller) que está construindo sua quadra de tênis. Você não chamaria a separação deles de amigável. Todos se lembram da pura crueldade das brigas neste filme — acredite, elas são brutais — e o quociente de amargura é altíssimo.
Mas são os momentos silenciosos de Keaton no filme que nos atingem quando o revemos agora, desde o olhar de choque em seu rosto enquanto os Dunlaps voltam para casa após um evento formal, até Faith fumando um cigarro de maconha na banheira e cantando suavemente “If I Fell” dos Beatles. É de alguma forma o momento mais bonito e devastador em um filme repleto de som e fúria, e é tudo obra de Keaton.
Crimes do Coração (1986)

É a santíssima trindade de atrizes de peso dos anos 1980 (se Meryl Streep estivesse envolvida, seria como Os Vingadores para as mulheres fortes daquela época, cujos nomes ficavam acima do título nos cinemas). E você não poderia pedir um trio melhor do que Sissy Spacek, Jessica Lange e Diane Keaton para abordar a peça vencedora do Pulitzer de Beth Henley sobre três irmãs sulistas lidando com as consequências de um crime — especificamente, um que envolve não apenas o coração, mas o corpo de um dos maridos.
Retornando à casa da família no Mississippi, as irmãs Magrath têm cada uma sua maneira de lidar com a situação; para Lenny Magrath de Keaton, que é mais reservada, isso significa se preocupar que a família seja dilacerada pelo escândalo e lamentar uma juventude que a deixou para trás. É definitivamente um trabalho de conjunto, e a alegria do filme é ver essas três estrelas interagindo entre si. Mas isso não significa que Keaton não tenha seus momentos de destaque, ou que não consiga transformar uma cena simples envolvendo o ato de comer seus chocolates em uma ária de raiva e ressentimento acumulado.
Presente de Grego (1987)

A década de 1980 teve sua parcela de comédias sobre mulheres no ambiente de trabalho corporativo, de Como Eliminar Seu Chefe (9 to 5) a Uma Secretária de Futuro (Working Girl). No meio desses clássicos está Presente de Grego (Baby Boom), a primeira colaboração entre Keaton e Nancy Meyers.
Ela estrela como J.C. Wiatt, uma yuppie obcecada pela carreira que herda o bebê de uma prima que não via desde 1954. Ela acaba abandonando Nova York — e seu namorado banqueiro, interpretado por Harold Ramis — e se muda para a zona rural de Vermont, onde assume totalmente o papel de mãe e inventa comida natural para bebês.
Tinha se passado apenas uma década desde Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, mas Keaton passou os anos recentes estrelando dramas; é quase como se ela estivesse armazenando toda essa energia cômica e ansiosa, esperando para liberá-la. Nem um único segundo deste filme de 110 minutos é desperdiçado, enquanto ela tem um colapso histérico após o outro, como quando seu poço literalmente seca e ela desabafa com o técnico de reparos — de forma tão profunda que cai de costas na neve.
Revisitando o filme anos depois, ela ficou surpresa com sua própria atuação. “Eu assisti”, ela disse, “e pensei, ‘Meu Deus, eu não sei como eu fiz isso’”.
O Pai da Noiva (1991)

Logo após O Poderoso Chefão Parte III, Keaton interpretou uma esposa muito diferente — o tipo calma, cool e controlada, que tira o marido teimoso (Steve Martin) da cadeia depois que ele se recusa a comprar um pacote de doze pães de cachorro-quente em vez dos oito que ele queria.
Neste remake da comédia de 1950 O Pai da Noiva, Nina Banks era o contraponto cômico ao seu marido tenso e neurótico, que simplesmente não conseguia aceitar o fato de que a filha, Annie (Kimberly Williams), estava se casando. Nina genuinamente gosta de seu charmoso futuro genro (George Newbern) e do planejador de casamentos caprichosamente estranho, Franck Eggelhoffer (Martin Short). Mas em vez de apenas interpretar uma dona de casa complacente que balança a cabeça para as palhaçadas ridículas do marido — aquele casamento custou US$ 250 por cabeça! —, Keaton trouxe profundidade a Nina, tornando-a pé-no-chão, lógica e incrivelmente engraçada.
Ela ganhou ainda mais material para trabalhar na sequência de 1995, quando Nina engravida junto com a filha, e George vende a casa sem lhe contar. Keaton brilha com cada fala naquele filme também, como quando Annie lhe pergunta se ela tirou uma foto da árvore favorita deles antes de se mudarem. “Apenas um rolo inteiro, querida”, ela responde em lágrimas.
O Clube das Desquitadas (1996)

Como Annie MacDuggan-Paradis, uma dona de casa ansiosa preterida pelo marido em favor da terapeuta do casal, Keaton ofereceu empatia àquelas que lutam para encontrar autonomia no final de um casamento.
Sua química com as co-estrelas de O Clube das Desquitadas, Bette Midler e Goldie Hawn — que supostamente sugeriu Sally Field para o papel de Annie — era inegável e cativantemente convincente. Juntas, era impossível não torcer por elas, e a merecida vingança de Annie, quando ela finalmente se impôs e assumiu a agência de publicidade do marido, gerou aplausos.
O filme não estaria completo sem o trio performando sua própria versão do sucesso de Lesley Gore, “You Don’t Own Me” — um hino para qualquer pessoa tentando se reerguer. Keaton frequentemente refletia sobre o quanto foi divertido filmar este longa, e é um sentimento que o espectador consegue captar. Ela era alguém que realmente apreciava seu trabalho.
Alguém Tem que Ceder (2003)

Keaton colaborou com Nancy Meyers quatro vezes ao longo de sua carreira, mas nenhum filme foi tão satisfatório quanto Alguém Tem Que Ceder. Era uma comédia romântica clássica, mas com uma reviravolta: Meyers rejeitou a ideia de que esses tipos de filmes tivessem que ser estrelados por atores jovens, permitindo que Keaton e Jack Nicholson tivessem a oportunidade de provar que o amor chega em todas as idades.
Ela trouxe uma doçura a Erica, uma dramaturga de sucesso que não sucumbiu à amargura do divórcio. Era fácil ver por que o jovem Julian (Keanu Reeves) estava tão apaixonado por ela — o público também estava.
Ela venceu o Globo de Ouro e conquistou várias indicações adicionais, incluindo a de Melhor Atriz no Oscar. O filme apresenta a memorável cena em que Keaton se despe para uma sequência cômica com Nicholson, e ela disse mais tarde à Interview: “Não era a minha ideia de um bom momento, mas era um filme tão maravilhoso. E, claro, eu fiz a coisa que pensei que nunca faria. Então, o que isso diz sobre mim?”.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, no dia 12 de outubro, e pode ser conferido aqui.
O post Diane Keaton: 10 filmes essenciais apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.
Diane Keaton: 10 filmes essenciais
A esposa original da máfia, a excêntrica pioneira da comédia romântica, a autora feminista do início do século XX, a mulher moderna do final do século XX navegando tanto pela turbulenta “década do eu” quanto pelos anos 1980 do “você pode ter tudo” — esses papéis poderiam ter sido memoráveis nas mãos de inúmeros atores. Diane Keaton os tornou icônicos.
Desde seu papel de destaque em O Poderoso Chefão até sua inesquecível interpretação de uma dramaturga que navega por traiçoeiras águas românticas em Alguém Tem Que Ceder, Keaton — que faleceu ontem aos 79 anos — nunca deixou de adicionar profundidade, humanidade, força e um senso de vulnerabilidade a cada personagem que interpretou. Aqui estão 10 de nossas performances favoritas da grande e saudosa atriz.
O Poderoso Chefão (1972)

Quando a maioria das pessoas menciona este marco imponente dos anos 1970 — a fusão perfeita entre a amplitude da velha Hollywood e a garra da nova Hollywood — elas falam de Brando, Pacino, Coppola, as citações intermináveis que permanecem parte do léxico pop (“Eu vou fazer uma oferta que ele não pode recusar”). Diane Keaton geralmente não é a primeira pessoa a ser mencionada, mas não se engane: ela é uma parte absolutamente essencial desta obra-prima americana.
Sua personagem, Kay Corleone, não é apenas a substituta do público, observando a cultura e os costumes deste clã ítalo-americano da perspectiva de uma estranha e, assim, nos permitindo entrar também nesse mundo. Ela é o centro moral do filme, aquela que confronta Michael Corleone por barganhar sua alma e fazer tudo ser sobre negócios em vez de ser pessoal. Até mesmo a insistência de Kay de que “senadores e presidentes não mandam matar pessoas” (quem está sendo ingênua agora, Kay?) sugere uma visão otimista do mundo que neutraliza a realidade violenta da mentalidade da máfia de seu namorado. Sua leitura daquela frase diz tudo. E quando aquela porta é fechada para Kay na cena final do filme, Keaton garante que você veja a perda no rosto de Kay.
Ela reprisaria a personagem com grande efeito em O Poderoso Chefão: Parte II — sua cena “isso tudo tem que acabar” permanece absolutamente devastadora — e retornaria para a Parte III décadas depois. Mas seu papel de estreia no cinema estabeleceu Keaton como alguém que seguiríamos para qualquer lugar. Vê-la era uma oferta que nunca poderíamos recusar.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Keaton foi escalada ao lado de Woody Allen na produção teatral original de 1969 de Play It Again, Sam (Sonhos de um Sedutor), que marcaria o início de um longo relacionamento romântico e de uma colaboração profissional ainda mais longa e indelével. Seu trabalho contracenando com o ator-diretor na versão cinematográfica de 1972 dessa comédia que idolatra Humphrey Bogart, bem como em O Dorminhoco (Sleeper, 1973) e Guerra e Paz (Love and Death, 1975), ajudou a estabelecê-la como uma comediante de primeira linha e a parceira perfeita para o desajeitado e eterno nebbish (indivíduo patético e inseguro) de Allen.
No entanto, foi o tributo de Allen a Keaton em 1977 que a transformou em uma estrela de cinema de boa-fé. A partir do momento em que ela profere a frase característica de Annie, “La di da” — um termo que Keaton pegou de seu próprio repertório de frases da vida real —, ficamos tão encantados por esta nova-iorquina maluca, adorável e neurótica quanto Alvy Singer.
As roupas por si só foram suficientes para tornar a personagem-título um ícone e impulsionar uma tendência de moda de ternos folgados e chapéus flexíveis. No entanto, é a maneira como Keaton transforma uma intelectual boba (ou talvez seja uma intelectual desajeitada?) em uma mulher moderna tridimensional e totalmente desenvolvida. O papel lhe rendeu um Oscar, e Keaton continuaria a trabalhar esporadicamente com Allen nas décadas seguintes. Mas este permanece como o auge tanto de seu trabalho conjunto quanto da era de “It Girl” de Keaton nos anos 70. La di da, de fato.
À Procura de Mr. Goodbar (1977)

“Prefiro ser seduzida a confortada”, diz Theresa Dunn, a professora interpretada por Diane Keaton, a alguém no início da adaptação de Richard Brooks para o best-seller de Judith Rossner — e sua personagem passará o resto do filme procurando o Sr. Certo (ou o Sr. Serve-Para-Esta-Noite) em busca tanto de sedução quanto de conforto.
Visto hoje, esta abordagem à então crescente tendência dos bares de solteiros parece datada em todos os sentidos, exceto pela performance extraordinária de Keaton. Ela consegue fazer com que Dunn pareça tanto um símbolo representativo de toda mulher tentando navegar em águas sociais agitadas, quanto o tipo de mulher comum que você veria no metrô.
Sério, nomeie outro ator por volta de 1977 que poderia se manter firme contra um maníaco Richard Gere usando um suspensório atlético, agitando os braços enquanto segura o que parece ser uma faca cor fluorescente! Keaton faz você sentir a solidão e a esperança dessa mulher sem fazê-la parecer lamentável ou desesperada; o jogo de emoções que transcorre em seu rosto durante aquela sequência com Gere, ou quando ela percebe que o último encontro que leva para casa é menos estável do que imaginava, entrega tudo sem dizer uma palavra.
Reds (1981)

Vendido como um épico drama romântico histórico, este retrato do ativista comunista do início do século XX, John Reed, tinha a grandiosidade de …E o Vento Levou ou Doutor Jivago. Mas nem Vivien Leigh nem Julie Christie tiveram um papel tão substancial quanto o que foi dado a Diane Keaton pelo diretor Warren Beatty — o da autora feminista Louise Bryant, que se apaixona por Reed, mas nunca perde sua ardente independência no processo.
Após uma década ganhando aclamação nos filmes de O Poderoso Chefão e como musa frequente de Woody Allen, Keaton encontrou uma nova marcha aqui, exibindo um intelecto cortante que estava muito distante das personagens mais suaves e doces de sua carreira anterior. No entanto, a desafiança de Bryant é muito bem complementada pelas vulnerabilidades da personagem, dando a Keaton a chance de fazer uma história de amor em uma tela grandiosa que, no entanto, parece íntima da maneira que suas melhores performances sempre foram.
E quem pode esquecer os trechos finais de Reds, nos quais Bryant vai àquela estação de trem lotada na esperança de que seu verdadeiro amor, Reed, apareça — sua antecipação se transformando em pânico, depois em desespero, e finalmente em gratidão lacrimosa.
A Chama Que Não Se Apaga (1982)

Para muitos, Keaton epitomou a mulher independente da década de 1970. No contundente drama doméstico de Alan Parker, ela daria um rosto ao crescente número de divorciadas no início dos anos 1980.
Como uma das metades do casal que se desintegra diante de seus olhos, Faith Dunlap (Keaton) é forçada a lidar com seu marido infiel, George (interpretado por Albert Finney), e tenta encontrar o amor em meio às ruínas de sua situação com um empreiteiro (Peter Weller) que está construindo sua quadra de tênis. Você não chamaria a separação deles de amigável. Todos se lembram da pura crueldade das brigas neste filme — acredite, elas são brutais — e o quociente de amargura é altíssimo.
Mas são os momentos silenciosos de Keaton no filme que nos atingem quando o revemos agora, desde o olhar de choque em seu rosto enquanto os Dunlaps voltam para casa após um evento formal, até Faith fumando um cigarro de maconha na banheira e cantando suavemente “If I Fell” dos Beatles. É de alguma forma o momento mais bonito e devastador em um filme repleto de som e fúria, e é tudo obra de Keaton.
Crimes do Coração (1986)

É a santíssima trindade de atrizes de peso dos anos 1980 (se Meryl Streep estivesse envolvida, seria como Os Vingadores para as mulheres fortes daquela época, cujos nomes ficavam acima do título nos cinemas). E você não poderia pedir um trio melhor do que Sissy Spacek, Jessica Lange e Diane Keaton para abordar a peça vencedora do Pulitzer de Beth Henley sobre três irmãs sulistas lidando com as consequências de um crime — especificamente, um que envolve não apenas o coração, mas o corpo de um dos maridos.
Retornando à casa da família no Mississippi, as irmãs Magrath têm cada uma sua maneira de lidar com a situação; para Lenny Magrath de Keaton, que é mais reservada, isso significa se preocupar que a família seja dilacerada pelo escândalo e lamentar uma juventude que a deixou para trás. É definitivamente um trabalho de conjunto, e a alegria do filme é ver essas três estrelas interagindo entre si. Mas isso não significa que Keaton não tenha seus momentos de destaque, ou que não consiga transformar uma cena simples envolvendo o ato de comer seus chocolates em uma ária de raiva e ressentimento acumulado.
Presente de Grego (1987)

A década de 1980 teve sua parcela de comédias sobre mulheres no ambiente de trabalho corporativo, de Como Eliminar Seu Chefe (9 to 5) a Uma Secretária de Futuro (Working Girl). No meio desses clássicos está Presente de Grego (Baby Boom), a primeira colaboração entre Keaton e Nancy Meyers.
Ela estrela como J.C. Wiatt, uma yuppie obcecada pela carreira que herda o bebê de uma prima que não via desde 1954. Ela acaba abandonando Nova York — e seu namorado banqueiro, interpretado por Harold Ramis — e se muda para a zona rural de Vermont, onde assume totalmente o papel de mãe e inventa comida natural para bebês.
Tinha se passado apenas uma década desde Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, mas Keaton passou os anos recentes estrelando dramas; é quase como se ela estivesse armazenando toda essa energia cômica e ansiosa, esperando para liberá-la. Nem um único segundo deste filme de 110 minutos é desperdiçado, enquanto ela tem um colapso histérico após o outro, como quando seu poço literalmente seca e ela desabafa com o técnico de reparos — de forma tão profunda que cai de costas na neve.
Revisitando o filme anos depois, ela ficou surpresa com sua própria atuação. “Eu assisti”, ela disse, “e pensei, ‘Meu Deus, eu não sei como eu fiz isso’”.
O Pai da Noiva (1991)

Logo após O Poderoso Chefão Parte III, Keaton interpretou uma esposa muito diferente — o tipo calma, cool e controlada, que tira o marido teimoso (Steve Martin) da cadeia depois que ele se recusa a comprar um pacote de doze pães de cachorro-quente em vez dos oito que ele queria.
Neste remake da comédia de 1950 O Pai da Noiva, Nina Banks era o contraponto cômico ao seu marido tenso e neurótico, que simplesmente não conseguia aceitar o fato de que a filha, Annie (Kimberly Williams), estava se casando. Nina genuinamente gosta de seu charmoso futuro genro (George Newbern) e do planejador de casamentos caprichosamente estranho, Franck Eggelhoffer (Martin Short). Mas em vez de apenas interpretar uma dona de casa complacente que balança a cabeça para as palhaçadas ridículas do marido — aquele casamento custou US$ 250 por cabeça! —, Keaton trouxe profundidade a Nina, tornando-a pé-no-chão, lógica e incrivelmente engraçada.
Ela ganhou ainda mais material para trabalhar na sequência de 1995, quando Nina engravida junto com a filha, e George vende a casa sem lhe contar. Keaton brilha com cada fala naquele filme também, como quando Annie lhe pergunta se ela tirou uma foto da árvore favorita deles antes de se mudarem. “Apenas um rolo inteiro, querida”, ela responde em lágrimas.
O Clube das Desquitadas (1996)

Como Annie MacDuggan-Paradis, uma dona de casa ansiosa preterida pelo marido em favor da terapeuta do casal, Keaton ofereceu empatia àquelas que lutam para encontrar autonomia no final de um casamento.
Sua química com as co-estrelas de O Clube das Desquitadas, Bette Midler e Goldie Hawn — que supostamente sugeriu Sally Field para o papel de Annie — era inegável e cativantemente convincente. Juntas, era impossível não torcer por elas, e a merecida vingança de Annie, quando ela finalmente se impôs e assumiu a agência de publicidade do marido, gerou aplausos.
O filme não estaria completo sem o trio performando sua própria versão do sucesso de Lesley Gore, “You Don’t Own Me” — um hino para qualquer pessoa tentando se reerguer. Keaton frequentemente refletia sobre o quanto foi divertido filmar este longa, e é um sentimento que o espectador consegue captar. Ela era alguém que realmente apreciava seu trabalho.
Alguém Tem que Ceder (2003)

Keaton colaborou com Nancy Meyers quatro vezes ao longo de sua carreira, mas nenhum filme foi tão satisfatório quanto Alguém Tem Que Ceder. Era uma comédia romântica clássica, mas com uma reviravolta: Meyers rejeitou a ideia de que esses tipos de filmes tivessem que ser estrelados por atores jovens, permitindo que Keaton e Jack Nicholson tivessem a oportunidade de provar que o amor chega em todas as idades.
Ela trouxe uma doçura a Erica, uma dramaturga de sucesso que não sucumbiu à amargura do divórcio. Era fácil ver por que o jovem Julian (Keanu Reeves) estava tão apaixonado por ela — o público também estava.
Ela venceu o Globo de Ouro e conquistou várias indicações adicionais, incluindo a de Melhor Atriz no Oscar. O filme apresenta a memorável cena em que Keaton se despe para uma sequência cômica com Nicholson, e ela disse mais tarde à Interview: “Não era a minha ideia de um bom momento, mas era um filme tão maravilhoso. E, claro, eu fiz a coisa que pensei que nunca faria. Então, o que isso diz sobre mim?”.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, no dia 12 de outubro, e pode ser conferido aqui.
O post Diane Keaton: 10 filmes essenciais apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.
Diane Keaton: 10 filmes essenciais
A esposa original da máfia, a excêntrica pioneira da comédia romântica, a autora feminista do início do século XX, a mulher moderna do final do século XX navegando tanto pela turbulenta “década do eu” quanto pelos anos 1980 do “você pode ter tudo” — esses papéis poderiam ter sido memoráveis nas mãos de inúmeros atores. Diane Keaton os tornou icônicos.
Desde seu papel de destaque em O Poderoso Chefão até sua inesquecível interpretação de uma dramaturga que navega por traiçoeiras águas românticas em Alguém Tem Que Ceder, Keaton — que faleceu ontem aos 79 anos — nunca deixou de adicionar profundidade, humanidade, força e um senso de vulnerabilidade a cada personagem que interpretou. Aqui estão 10 de nossas performances favoritas da grande e saudosa atriz.
O Poderoso Chefão (1972)

Quando a maioria das pessoas menciona este marco imponente dos anos 1970 — a fusão perfeita entre a amplitude da velha Hollywood e a garra da nova Hollywood — elas falam de Brando, Pacino, Coppola, as citações intermináveis que permanecem parte do léxico pop (“Eu vou fazer uma oferta que ele não pode recusar”). Diane Keaton geralmente não é a primeira pessoa a ser mencionada, mas não se engane: ela é uma parte absolutamente essencial desta obra-prima americana.
Sua personagem, Kay Corleone, não é apenas a substituta do público, observando a cultura e os costumes deste clã ítalo-americano da perspectiva de uma estranha e, assim, nos permitindo entrar também nesse mundo. Ela é o centro moral do filme, aquela que confronta Michael Corleone por barganhar sua alma e fazer tudo ser sobre negócios em vez de ser pessoal. Até mesmo a insistência de Kay de que “senadores e presidentes não mandam matar pessoas” (quem está sendo ingênua agora, Kay?) sugere uma visão otimista do mundo que neutraliza a realidade violenta da mentalidade da máfia de seu namorado. Sua leitura daquela frase diz tudo. E quando aquela porta é fechada para Kay na cena final do filme, Keaton garante que você veja a perda no rosto de Kay.
Ela reprisaria a personagem com grande efeito em O Poderoso Chefão: Parte II — sua cena “isso tudo tem que acabar” permanece absolutamente devastadora — e retornaria para a Parte III décadas depois. Mas seu papel de estreia no cinema estabeleceu Keaton como alguém que seguiríamos para qualquer lugar. Vê-la era uma oferta que nunca poderíamos recusar.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Keaton foi escalada ao lado de Woody Allen na produção teatral original de 1969 de Play It Again, Sam (Sonhos de um Sedutor), que marcaria o início de um longo relacionamento romântico e de uma colaboração profissional ainda mais longa e indelével. Seu trabalho contracenando com o ator-diretor na versão cinematográfica de 1972 dessa comédia que idolatra Humphrey Bogart, bem como em O Dorminhoco (Sleeper, 1973) e Guerra e Paz (Love and Death, 1975), ajudou a estabelecê-la como uma comediante de primeira linha e a parceira perfeita para o desajeitado e eterno nebbish (indivíduo patético e inseguro) de Allen.
No entanto, foi o tributo de Allen a Keaton em 1977 que a transformou em uma estrela de cinema de boa-fé. A partir do momento em que ela profere a frase característica de Annie, “La di da” — um termo que Keaton pegou de seu próprio repertório de frases da vida real —, ficamos tão encantados por esta nova-iorquina maluca, adorável e neurótica quanto Alvy Singer.
As roupas por si só foram suficientes para tornar a personagem-título um ícone e impulsionar uma tendência de moda de ternos folgados e chapéus flexíveis. No entanto, é a maneira como Keaton transforma uma intelectual boba (ou talvez seja uma intelectual desajeitada?) em uma mulher moderna tridimensional e totalmente desenvolvida. O papel lhe rendeu um Oscar, e Keaton continuaria a trabalhar esporadicamente com Allen nas décadas seguintes. Mas este permanece como o auge tanto de seu trabalho conjunto quanto da era de “It Girl” de Keaton nos anos 70. La di da, de fato.
À Procura de Mr. Goodbar (1977)

“Prefiro ser seduzida a confortada”, diz Theresa Dunn, a professora interpretada por Diane Keaton, a alguém no início da adaptação de Richard Brooks para o best-seller de Judith Rossner — e sua personagem passará o resto do filme procurando o Sr. Certo (ou o Sr. Serve-Para-Esta-Noite) em busca tanto de sedução quanto de conforto.
Visto hoje, esta abordagem à então crescente tendência dos bares de solteiros parece datada em todos os sentidos, exceto pela performance extraordinária de Keaton. Ela consegue fazer com que Dunn pareça tanto um símbolo representativo de toda mulher tentando navegar em águas sociais agitadas, quanto o tipo de mulher comum que você veria no metrô.
Sério, nomeie outro ator por volta de 1977 que poderia se manter firme contra um maníaco Richard Gere usando um suspensório atlético, agitando os braços enquanto segura o que parece ser uma faca cor fluorescente! Keaton faz você sentir a solidão e a esperança dessa mulher sem fazê-la parecer lamentável ou desesperada; o jogo de emoções que transcorre em seu rosto durante aquela sequência com Gere, ou quando ela percebe que o último encontro que leva para casa é menos estável do que imaginava, entrega tudo sem dizer uma palavra.
Reds (1981)

Vendido como um épico drama romântico histórico, este retrato do ativista comunista do início do século XX, John Reed, tinha a grandiosidade de …E o Vento Levou ou Doutor Jivago. Mas nem Vivien Leigh nem Julie Christie tiveram um papel tão substancial quanto o que foi dado a Diane Keaton pelo diretor Warren Beatty — o da autora feminista Louise Bryant, que se apaixona por Reed, mas nunca perde sua ardente independência no processo.
Após uma década ganhando aclamação nos filmes de O Poderoso Chefão e como musa frequente de Woody Allen, Keaton encontrou uma nova marcha aqui, exibindo um intelecto cortante que estava muito distante das personagens mais suaves e doces de sua carreira anterior. No entanto, a desafiança de Bryant é muito bem complementada pelas vulnerabilidades da personagem, dando a Keaton a chance de fazer uma história de amor em uma tela grandiosa que, no entanto, parece íntima da maneira que suas melhores performances sempre foram.
E quem pode esquecer os trechos finais de Reds, nos quais Bryant vai àquela estação de trem lotada na esperança de que seu verdadeiro amor, Reed, apareça — sua antecipação se transformando em pânico, depois em desespero, e finalmente em gratidão lacrimosa.
A Chama Que Não Se Apaga (1982)

Para muitos, Keaton epitomou a mulher independente da década de 1970. No contundente drama doméstico de Alan Parker, ela daria um rosto ao crescente número de divorciadas no início dos anos 1980.
Como uma das metades do casal que se desintegra diante de seus olhos, Faith Dunlap (Keaton) é forçada a lidar com seu marido infiel, George (interpretado por Albert Finney), e tenta encontrar o amor em meio às ruínas de sua situação com um empreiteiro (Peter Weller) que está construindo sua quadra de tênis. Você não chamaria a separação deles de amigável. Todos se lembram da pura crueldade das brigas neste filme — acredite, elas são brutais — e o quociente de amargura é altíssimo.
Mas são os momentos silenciosos de Keaton no filme que nos atingem quando o revemos agora, desde o olhar de choque em seu rosto enquanto os Dunlaps voltam para casa após um evento formal, até Faith fumando um cigarro de maconha na banheira e cantando suavemente “If I Fell” dos Beatles. É de alguma forma o momento mais bonito e devastador em um filme repleto de som e fúria, e é tudo obra de Keaton.
Crimes do Coração (1986)

É a santíssima trindade de atrizes de peso dos anos 1980 (se Meryl Streep estivesse envolvida, seria como Os Vingadores para as mulheres fortes daquela época, cujos nomes ficavam acima do título nos cinemas). E você não poderia pedir um trio melhor do que Sissy Spacek, Jessica Lange e Diane Keaton para abordar a peça vencedora do Pulitzer de Beth Henley sobre três irmãs sulistas lidando com as consequências de um crime — especificamente, um que envolve não apenas o coração, mas o corpo de um dos maridos.
Retornando à casa da família no Mississippi, as irmãs Magrath têm cada uma sua maneira de lidar com a situação; para Lenny Magrath de Keaton, que é mais reservada, isso significa se preocupar que a família seja dilacerada pelo escândalo e lamentar uma juventude que a deixou para trás. É definitivamente um trabalho de conjunto, e a alegria do filme é ver essas três estrelas interagindo entre si. Mas isso não significa que Keaton não tenha seus momentos de destaque, ou que não consiga transformar uma cena simples envolvendo o ato de comer seus chocolates em uma ária de raiva e ressentimento acumulado.
Presente de Grego (1987)

A década de 1980 teve sua parcela de comédias sobre mulheres no ambiente de trabalho corporativo, de Como Eliminar Seu Chefe (9 to 5) a Uma Secretária de Futuro (Working Girl). No meio desses clássicos está Presente de Grego (Baby Boom), a primeira colaboração entre Keaton e Nancy Meyers.
Ela estrela como J.C. Wiatt, uma yuppie obcecada pela carreira que herda o bebê de uma prima que não via desde 1954. Ela acaba abandonando Nova York — e seu namorado banqueiro, interpretado por Harold Ramis — e se muda para a zona rural de Vermont, onde assume totalmente o papel de mãe e inventa comida natural para bebês.
Tinha se passado apenas uma década desde Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, mas Keaton passou os anos recentes estrelando dramas; é quase como se ela estivesse armazenando toda essa energia cômica e ansiosa, esperando para liberá-la. Nem um único segundo deste filme de 110 minutos é desperdiçado, enquanto ela tem um colapso histérico após o outro, como quando seu poço literalmente seca e ela desabafa com o técnico de reparos — de forma tão profunda que cai de costas na neve.
Revisitando o filme anos depois, ela ficou surpresa com sua própria atuação. “Eu assisti”, ela disse, “e pensei, ‘Meu Deus, eu não sei como eu fiz isso’”.
O Pai da Noiva (1991)

Logo após O Poderoso Chefão Parte III, Keaton interpretou uma esposa muito diferente — o tipo calma, cool e controlada, que tira o marido teimoso (Steve Martin) da cadeia depois que ele se recusa a comprar um pacote de doze pães de cachorro-quente em vez dos oito que ele queria.
Neste remake da comédia de 1950 O Pai da Noiva, Nina Banks era o contraponto cômico ao seu marido tenso e neurótico, que simplesmente não conseguia aceitar o fato de que a filha, Annie (Kimberly Williams), estava se casando. Nina genuinamente gosta de seu charmoso futuro genro (George Newbern) e do planejador de casamentos caprichosamente estranho, Franck Eggelhoffer (Martin Short). Mas em vez de apenas interpretar uma dona de casa complacente que balança a cabeça para as palhaçadas ridículas do marido — aquele casamento custou US$ 250 por cabeça! —, Keaton trouxe profundidade a Nina, tornando-a pé-no-chão, lógica e incrivelmente engraçada.
Ela ganhou ainda mais material para trabalhar na sequência de 1995, quando Nina engravida junto com a filha, e George vende a casa sem lhe contar. Keaton brilha com cada fala naquele filme também, como quando Annie lhe pergunta se ela tirou uma foto da árvore favorita deles antes de se mudarem. “Apenas um rolo inteiro, querida”, ela responde em lágrimas.
O Clube das Desquitadas (1996)

Como Annie MacDuggan-Paradis, uma dona de casa ansiosa preterida pelo marido em favor da terapeuta do casal, Keaton ofereceu empatia àquelas que lutam para encontrar autonomia no final de um casamento.
Sua química com as co-estrelas de O Clube das Desquitadas, Bette Midler e Goldie Hawn — que supostamente sugeriu Sally Field para o papel de Annie — era inegável e cativantemente convincente. Juntas, era impossível não torcer por elas, e a merecida vingança de Annie, quando ela finalmente se impôs e assumiu a agência de publicidade do marido, gerou aplausos.
O filme não estaria completo sem o trio performando sua própria versão do sucesso de Lesley Gore, “You Don’t Own Me” — um hino para qualquer pessoa tentando se reerguer. Keaton frequentemente refletia sobre o quanto foi divertido filmar este longa, e é um sentimento que o espectador consegue captar. Ela era alguém que realmente apreciava seu trabalho.
Alguém Tem que Ceder (2003)

Keaton colaborou com Nancy Meyers quatro vezes ao longo de sua carreira, mas nenhum filme foi tão satisfatório quanto Alguém Tem Que Ceder. Era uma comédia romântica clássica, mas com uma reviravolta: Meyers rejeitou a ideia de que esses tipos de filmes tivessem que ser estrelados por atores jovens, permitindo que Keaton e Jack Nicholson tivessem a oportunidade de provar que o amor chega em todas as idades.
Ela trouxe uma doçura a Erica, uma dramaturga de sucesso que não sucumbiu à amargura do divórcio. Era fácil ver por que o jovem Julian (Keanu Reeves) estava tão apaixonado por ela — o público também estava.
Ela venceu o Globo de Ouro e conquistou várias indicações adicionais, incluindo a de Melhor Atriz no Oscar. O filme apresenta a memorável cena em que Keaton se despe para uma sequência cômica com Nicholson, e ela disse mais tarde à Interview: “Não era a minha ideia de um bom momento, mas era um filme tão maravilhoso. E, claro, eu fiz a coisa que pensei que nunca faria. Então, o que isso diz sobre mim?”.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, no dia 12 de outubro, e pode ser conferido aqui.
O post Diane Keaton: 10 filmes essenciais apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.
Diane Keaton: 10 filmes essenciais
A esposa original da máfia, a excêntrica pioneira da comédia romântica, a autora feminista do início do século XX, a mulher moderna do final do século XX navegando tanto pela turbulenta “década do eu” quanto pelos anos 1980 do “você pode ter tudo” — esses papéis poderiam ter sido memoráveis nas mãos de inúmeros atores. Diane Keaton os tornou icônicos.
Desde seu papel de destaque em O Poderoso Chefão até sua inesquecível interpretação de uma dramaturga que navega por traiçoeiras águas românticas em Alguém Tem Que Ceder, Keaton — que faleceu ontem aos 79 anos — nunca deixou de adicionar profundidade, humanidade, força e um senso de vulnerabilidade a cada personagem que interpretou. Aqui estão 10 de nossas performances favoritas da grande e saudosa atriz.
O Poderoso Chefão (1972)

Quando a maioria das pessoas menciona este marco imponente dos anos 1970 — a fusão perfeita entre a amplitude da velha Hollywood e a garra da nova Hollywood — elas falam de Brando, Pacino, Coppola, as citações intermináveis que permanecem parte do léxico pop (“Eu vou fazer uma oferta que ele não pode recusar”). Diane Keaton geralmente não é a primeira pessoa a ser mencionada, mas não se engane: ela é uma parte absolutamente essencial desta obra-prima americana.
Sua personagem, Kay Corleone, não é apenas a substituta do público, observando a cultura e os costumes deste clã ítalo-americano da perspectiva de uma estranha e, assim, nos permitindo entrar também nesse mundo. Ela é o centro moral do filme, aquela que confronta Michael Corleone por barganhar sua alma e fazer tudo ser sobre negócios em vez de ser pessoal. Até mesmo a insistência de Kay de que “senadores e presidentes não mandam matar pessoas” (quem está sendo ingênua agora, Kay?) sugere uma visão otimista do mundo que neutraliza a realidade violenta da mentalidade da máfia de seu namorado. Sua leitura daquela frase diz tudo. E quando aquela porta é fechada para Kay na cena final do filme, Keaton garante que você veja a perda no rosto de Kay.
Ela reprisaria a personagem com grande efeito em O Poderoso Chefão: Parte II — sua cena “isso tudo tem que acabar” permanece absolutamente devastadora — e retornaria para a Parte III décadas depois. Mas seu papel de estreia no cinema estabeleceu Keaton como alguém que seguiríamos para qualquer lugar. Vê-la era uma oferta que nunca poderíamos recusar.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Keaton foi escalada ao lado de Woody Allen na produção teatral original de 1969 de Play It Again, Sam (Sonhos de um Sedutor), que marcaria o início de um longo relacionamento romântico e de uma colaboração profissional ainda mais longa e indelével. Seu trabalho contracenando com o ator-diretor na versão cinematográfica de 1972 dessa comédia que idolatra Humphrey Bogart, bem como em O Dorminhoco (Sleeper, 1973) e Guerra e Paz (Love and Death, 1975), ajudou a estabelecê-la como uma comediante de primeira linha e a parceira perfeita para o desajeitado e eterno nebbish (indivíduo patético e inseguro) de Allen.
No entanto, foi o tributo de Allen a Keaton em 1977 que a transformou em uma estrela de cinema de boa-fé. A partir do momento em que ela profere a frase característica de Annie, “La di da” — um termo que Keaton pegou de seu próprio repertório de frases da vida real —, ficamos tão encantados por esta nova-iorquina maluca, adorável e neurótica quanto Alvy Singer.
As roupas por si só foram suficientes para tornar a personagem-título um ícone e impulsionar uma tendência de moda de ternos folgados e chapéus flexíveis. No entanto, é a maneira como Keaton transforma uma intelectual boba (ou talvez seja uma intelectual desajeitada?) em uma mulher moderna tridimensional e totalmente desenvolvida. O papel lhe rendeu um Oscar, e Keaton continuaria a trabalhar esporadicamente com Allen nas décadas seguintes. Mas este permanece como o auge tanto de seu trabalho conjunto quanto da era de “It Girl” de Keaton nos anos 70. La di da, de fato.
À Procura de Mr. Goodbar (1977)

“Prefiro ser seduzida a confortada”, diz Theresa Dunn, a professora interpretada por Diane Keaton, a alguém no início da adaptação de Richard Brooks para o best-seller de Judith Rossner — e sua personagem passará o resto do filme procurando o Sr. Certo (ou o Sr. Serve-Para-Esta-Noite) em busca tanto de sedução quanto de conforto.
Visto hoje, esta abordagem à então crescente tendência dos bares de solteiros parece datada em todos os sentidos, exceto pela performance extraordinária de Keaton. Ela consegue fazer com que Dunn pareça tanto um símbolo representativo de toda mulher tentando navegar em águas sociais agitadas, quanto o tipo de mulher comum que você veria no metrô.
Sério, nomeie outro ator por volta de 1977 que poderia se manter firme contra um maníaco Richard Gere usando um suspensório atlético, agitando os braços enquanto segura o que parece ser uma faca cor fluorescente! Keaton faz você sentir a solidão e a esperança dessa mulher sem fazê-la parecer lamentável ou desesperada; o jogo de emoções que transcorre em seu rosto durante aquela sequência com Gere, ou quando ela percebe que o último encontro que leva para casa é menos estável do que imaginava, entrega tudo sem dizer uma palavra.
Reds (1981)

Vendido como um épico drama romântico histórico, este retrato do ativista comunista do início do século XX, John Reed, tinha a grandiosidade de …E o Vento Levou ou Doutor Jivago. Mas nem Vivien Leigh nem Julie Christie tiveram um papel tão substancial quanto o que foi dado a Diane Keaton pelo diretor Warren Beatty — o da autora feminista Louise Bryant, que se apaixona por Reed, mas nunca perde sua ardente independência no processo.
Após uma década ganhando aclamação nos filmes de O Poderoso Chefão e como musa frequente de Woody Allen, Keaton encontrou uma nova marcha aqui, exibindo um intelecto cortante que estava muito distante das personagens mais suaves e doces de sua carreira anterior. No entanto, a desafiança de Bryant é muito bem complementada pelas vulnerabilidades da personagem, dando a Keaton a chance de fazer uma história de amor em uma tela grandiosa que, no entanto, parece íntima da maneira que suas melhores performances sempre foram.
E quem pode esquecer os trechos finais de Reds, nos quais Bryant vai àquela estação de trem lotada na esperança de que seu verdadeiro amor, Reed, apareça — sua antecipação se transformando em pânico, depois em desespero, e finalmente em gratidão lacrimosa.
A Chama Que Não Se Apaga (1982)

Para muitos, Keaton epitomou a mulher independente da década de 1970. No contundente drama doméstico de Alan Parker, ela daria um rosto ao crescente número de divorciadas no início dos anos 1980.
Como uma das metades do casal que se desintegra diante de seus olhos, Faith Dunlap (Keaton) é forçada a lidar com seu marido infiel, George (interpretado por Albert Finney), e tenta encontrar o amor em meio às ruínas de sua situação com um empreiteiro (Peter Weller) que está construindo sua quadra de tênis. Você não chamaria a separação deles de amigável. Todos se lembram da pura crueldade das brigas neste filme — acredite, elas são brutais — e o quociente de amargura é altíssimo.
Mas são os momentos silenciosos de Keaton no filme que nos atingem quando o revemos agora, desde o olhar de choque em seu rosto enquanto os Dunlaps voltam para casa após um evento formal, até Faith fumando um cigarro de maconha na banheira e cantando suavemente “If I Fell” dos Beatles. É de alguma forma o momento mais bonito e devastador em um filme repleto de som e fúria, e é tudo obra de Keaton.
Crimes do Coração (1986)

É a santíssima trindade de atrizes de peso dos anos 1980 (se Meryl Streep estivesse envolvida, seria como Os Vingadores para as mulheres fortes daquela época, cujos nomes ficavam acima do título nos cinemas). E você não poderia pedir um trio melhor do que Sissy Spacek, Jessica Lange e Diane Keaton para abordar a peça vencedora do Pulitzer de Beth Henley sobre três irmãs sulistas lidando com as consequências de um crime — especificamente, um que envolve não apenas o coração, mas o corpo de um dos maridos.
Retornando à casa da família no Mississippi, as irmãs Magrath têm cada uma sua maneira de lidar com a situação; para Lenny Magrath de Keaton, que é mais reservada, isso significa se preocupar que a família seja dilacerada pelo escândalo e lamentar uma juventude que a deixou para trás. É definitivamente um trabalho de conjunto, e a alegria do filme é ver essas três estrelas interagindo entre si. Mas isso não significa que Keaton não tenha seus momentos de destaque, ou que não consiga transformar uma cena simples envolvendo o ato de comer seus chocolates em uma ária de raiva e ressentimento acumulado.
Presente de Grego (1987)

A década de 1980 teve sua parcela de comédias sobre mulheres no ambiente de trabalho corporativo, de Como Eliminar Seu Chefe (9 to 5) a Uma Secretária de Futuro (Working Girl). No meio desses clássicos está Presente de Grego (Baby Boom), a primeira colaboração entre Keaton e Nancy Meyers.
Ela estrela como J.C. Wiatt, uma yuppie obcecada pela carreira que herda o bebê de uma prima que não via desde 1954. Ela acaba abandonando Nova York — e seu namorado banqueiro, interpretado por Harold Ramis — e se muda para a zona rural de Vermont, onde assume totalmente o papel de mãe e inventa comida natural para bebês.
Tinha se passado apenas uma década desde Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, mas Keaton passou os anos recentes estrelando dramas; é quase como se ela estivesse armazenando toda essa energia cômica e ansiosa, esperando para liberá-la. Nem um único segundo deste filme de 110 minutos é desperdiçado, enquanto ela tem um colapso histérico após o outro, como quando seu poço literalmente seca e ela desabafa com o técnico de reparos — de forma tão profunda que cai de costas na neve.
Revisitando o filme anos depois, ela ficou surpresa com sua própria atuação. “Eu assisti”, ela disse, “e pensei, ‘Meu Deus, eu não sei como eu fiz isso’”.
O Pai da Noiva (1991)

Logo após O Poderoso Chefão Parte III, Keaton interpretou uma esposa muito diferente — o tipo calma, cool e controlada, que tira o marido teimoso (Steve Martin) da cadeia depois que ele se recusa a comprar um pacote de doze pães de cachorro-quente em vez dos oito que ele queria.
Neste remake da comédia de 1950 O Pai da Noiva, Nina Banks era o contraponto cômico ao seu marido tenso e neurótico, que simplesmente não conseguia aceitar o fato de que a filha, Annie (Kimberly Williams), estava se casando. Nina genuinamente gosta de seu charmoso futuro genro (George Newbern) e do planejador de casamentos caprichosamente estranho, Franck Eggelhoffer (Martin Short). Mas em vez de apenas interpretar uma dona de casa complacente que balança a cabeça para as palhaçadas ridículas do marido — aquele casamento custou US$ 250 por cabeça! —, Keaton trouxe profundidade a Nina, tornando-a pé-no-chão, lógica e incrivelmente engraçada.
Ela ganhou ainda mais material para trabalhar na sequência de 1995, quando Nina engravida junto com a filha, e George vende a casa sem lhe contar. Keaton brilha com cada fala naquele filme também, como quando Annie lhe pergunta se ela tirou uma foto da árvore favorita deles antes de se mudarem. “Apenas um rolo inteiro, querida”, ela responde em lágrimas.
O Clube das Desquitadas (1996)

Como Annie MacDuggan-Paradis, uma dona de casa ansiosa preterida pelo marido em favor da terapeuta do casal, Keaton ofereceu empatia àquelas que lutam para encontrar autonomia no final de um casamento.
Sua química com as co-estrelas de O Clube das Desquitadas, Bette Midler e Goldie Hawn — que supostamente sugeriu Sally Field para o papel de Annie — era inegável e cativantemente convincente. Juntas, era impossível não torcer por elas, e a merecida vingança de Annie, quando ela finalmente se impôs e assumiu a agência de publicidade do marido, gerou aplausos.
O filme não estaria completo sem o trio performando sua própria versão do sucesso de Lesley Gore, “You Don’t Own Me” — um hino para qualquer pessoa tentando se reerguer. Keaton frequentemente refletia sobre o quanto foi divertido filmar este longa, e é um sentimento que o espectador consegue captar. Ela era alguém que realmente apreciava seu trabalho.
Alguém Tem que Ceder (2003)

Keaton colaborou com Nancy Meyers quatro vezes ao longo de sua carreira, mas nenhum filme foi tão satisfatório quanto Alguém Tem Que Ceder. Era uma comédia romântica clássica, mas com uma reviravolta: Meyers rejeitou a ideia de que esses tipos de filmes tivessem que ser estrelados por atores jovens, permitindo que Keaton e Jack Nicholson tivessem a oportunidade de provar que o amor chega em todas as idades.
Ela trouxe uma doçura a Erica, uma dramaturga de sucesso que não sucumbiu à amargura do divórcio. Era fácil ver por que o jovem Julian (Keanu Reeves) estava tão apaixonado por ela — o público também estava.
Ela venceu o Globo de Ouro e conquistou várias indicações adicionais, incluindo a de Melhor Atriz no Oscar. O filme apresenta a memorável cena em que Keaton se despe para uma sequência cômica com Nicholson, e ela disse mais tarde à Interview: “Não era a minha ideia de um bom momento, mas era um filme tão maravilhoso. E, claro, eu fiz a coisa que pensei que nunca faria. Então, o que isso diz sobre mim?”.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, no dia 12 de outubro, e pode ser conferido aqui.
O post Diane Keaton: 10 filmes essenciais apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.
Diane Keaton: 10 filmes essenciais
A esposa original da máfia, a excêntrica pioneira da comédia romântica, a autora feminista do início do século XX, a mulher moderna do final do século XX navegando tanto pela turbulenta “década do eu” quanto pelos anos 1980 do “você pode ter tudo” — esses papéis poderiam ter sido memoráveis nas mãos de inúmeros atores. Diane Keaton os tornou icônicos.
Desde seu papel de destaque em O Poderoso Chefão até sua inesquecível interpretação de uma dramaturga que navega por traiçoeiras águas românticas em Alguém Tem Que Ceder, Keaton — que faleceu ontem aos 79 anos — nunca deixou de adicionar profundidade, humanidade, força e um senso de vulnerabilidade a cada personagem que interpretou. Aqui estão 10 de nossas performances favoritas da grande e saudosa atriz.
O Poderoso Chefão (1972)

Quando a maioria das pessoas menciona este marco imponente dos anos 1970 — a fusão perfeita entre a amplitude da velha Hollywood e a garra da nova Hollywood — elas falam de Brando, Pacino, Coppola, as citações intermináveis que permanecem parte do léxico pop (“Eu vou fazer uma oferta que ele não pode recusar”). Diane Keaton geralmente não é a primeira pessoa a ser mencionada, mas não se engane: ela é uma parte absolutamente essencial desta obra-prima americana.
Sua personagem, Kay Corleone, não é apenas a substituta do público, observando a cultura e os costumes deste clã ítalo-americano da perspectiva de uma estranha e, assim, nos permitindo entrar também nesse mundo. Ela é o centro moral do filme, aquela que confronta Michael Corleone por barganhar sua alma e fazer tudo ser sobre negócios em vez de ser pessoal. Até mesmo a insistência de Kay de que “senadores e presidentes não mandam matar pessoas” (quem está sendo ingênua agora, Kay?) sugere uma visão otimista do mundo que neutraliza a realidade violenta da mentalidade da máfia de seu namorado. Sua leitura daquela frase diz tudo. E quando aquela porta é fechada para Kay na cena final do filme, Keaton garante que você veja a perda no rosto de Kay.
Ela reprisaria a personagem com grande efeito em O Poderoso Chefão: Parte II — sua cena “isso tudo tem que acabar” permanece absolutamente devastadora — e retornaria para a Parte III décadas depois. Mas seu papel de estreia no cinema estabeleceu Keaton como alguém que seguiríamos para qualquer lugar. Vê-la era uma oferta que nunca poderíamos recusar.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Keaton foi escalada ao lado de Woody Allen na produção teatral original de 1969 de Play It Again, Sam (Sonhos de um Sedutor), que marcaria o início de um longo relacionamento romântico e de uma colaboração profissional ainda mais longa e indelével. Seu trabalho contracenando com o ator-diretor na versão cinematográfica de 1972 dessa comédia que idolatra Humphrey Bogart, bem como em O Dorminhoco (Sleeper, 1973) e Guerra e Paz (Love and Death, 1975), ajudou a estabelecê-la como uma comediante de primeira linha e a parceira perfeita para o desajeitado e eterno nebbish (indivíduo patético e inseguro) de Allen.
No entanto, foi o tributo de Allen a Keaton em 1977 que a transformou em uma estrela de cinema de boa-fé. A partir do momento em que ela profere a frase característica de Annie, “La di da” — um termo que Keaton pegou de seu próprio repertório de frases da vida real —, ficamos tão encantados por esta nova-iorquina maluca, adorável e neurótica quanto Alvy Singer.
As roupas por si só foram suficientes para tornar a personagem-título um ícone e impulsionar uma tendência de moda de ternos folgados e chapéus flexíveis. No entanto, é a maneira como Keaton transforma uma intelectual boba (ou talvez seja uma intelectual desajeitada?) em uma mulher moderna tridimensional e totalmente desenvolvida. O papel lhe rendeu um Oscar, e Keaton continuaria a trabalhar esporadicamente com Allen nas décadas seguintes. Mas este permanece como o auge tanto de seu trabalho conjunto quanto da era de “It Girl” de Keaton nos anos 70. La di da, de fato.
À Procura de Mr. Goodbar (1977)

“Prefiro ser seduzida a confortada”, diz Theresa Dunn, a professora interpretada por Diane Keaton, a alguém no início da adaptação de Richard Brooks para o best-seller de Judith Rossner — e sua personagem passará o resto do filme procurando o Sr. Certo (ou o Sr. Serve-Para-Esta-Noite) em busca tanto de sedução quanto de conforto.
Visto hoje, esta abordagem à então crescente tendência dos bares de solteiros parece datada em todos os sentidos, exceto pela performance extraordinária de Keaton. Ela consegue fazer com que Dunn pareça tanto um símbolo representativo de toda mulher tentando navegar em águas sociais agitadas, quanto o tipo de mulher comum que você veria no metrô.
Sério, nomeie outro ator por volta de 1977 que poderia se manter firme contra um maníaco Richard Gere usando um suspensório atlético, agitando os braços enquanto segura o que parece ser uma faca cor fluorescente! Keaton faz você sentir a solidão e a esperança dessa mulher sem fazê-la parecer lamentável ou desesperada; o jogo de emoções que transcorre em seu rosto durante aquela sequência com Gere, ou quando ela percebe que o último encontro que leva para casa é menos estável do que imaginava, entrega tudo sem dizer uma palavra.
Reds (1981)

Vendido como um épico drama romântico histórico, este retrato do ativista comunista do início do século XX, John Reed, tinha a grandiosidade de …E o Vento Levou ou Doutor Jivago. Mas nem Vivien Leigh nem Julie Christie tiveram um papel tão substancial quanto o que foi dado a Diane Keaton pelo diretor Warren Beatty — o da autora feminista Louise Bryant, que se apaixona por Reed, mas nunca perde sua ardente independência no processo.
Após uma década ganhando aclamação nos filmes de O Poderoso Chefão e como musa frequente de Woody Allen, Keaton encontrou uma nova marcha aqui, exibindo um intelecto cortante que estava muito distante das personagens mais suaves e doces de sua carreira anterior. No entanto, a desafiança de Bryant é muito bem complementada pelas vulnerabilidades da personagem, dando a Keaton a chance de fazer uma história de amor em uma tela grandiosa que, no entanto, parece íntima da maneira que suas melhores performances sempre foram.
E quem pode esquecer os trechos finais de Reds, nos quais Bryant vai àquela estação de trem lotada na esperança de que seu verdadeiro amor, Reed, apareça — sua antecipação se transformando em pânico, depois em desespero, e finalmente em gratidão lacrimosa.
A Chama Que Não Se Apaga (1982)

Para muitos, Keaton epitomou a mulher independente da década de 1970. No contundente drama doméstico de Alan Parker, ela daria um rosto ao crescente número de divorciadas no início dos anos 1980.
Como uma das metades do casal que se desintegra diante de seus olhos, Faith Dunlap (Keaton) é forçada a lidar com seu marido infiel, George (interpretado por Albert Finney), e tenta encontrar o amor em meio às ruínas de sua situação com um empreiteiro (Peter Weller) que está construindo sua quadra de tênis. Você não chamaria a separação deles de amigável. Todos se lembram da pura crueldade das brigas neste filme — acredite, elas são brutais — e o quociente de amargura é altíssimo.
Mas são os momentos silenciosos de Keaton no filme que nos atingem quando o revemos agora, desde o olhar de choque em seu rosto enquanto os Dunlaps voltam para casa após um evento formal, até Faith fumando um cigarro de maconha na banheira e cantando suavemente “If I Fell” dos Beatles. É de alguma forma o momento mais bonito e devastador em um filme repleto de som e fúria, e é tudo obra de Keaton.
Crimes do Coração (1986)

É a santíssima trindade de atrizes de peso dos anos 1980 (se Meryl Streep estivesse envolvida, seria como Os Vingadores para as mulheres fortes daquela época, cujos nomes ficavam acima do título nos cinemas). E você não poderia pedir um trio melhor do que Sissy Spacek, Jessica Lange e Diane Keaton para abordar a peça vencedora do Pulitzer de Beth Henley sobre três irmãs sulistas lidando com as consequências de um crime — especificamente, um que envolve não apenas o coração, mas o corpo de um dos maridos.
Retornando à casa da família no Mississippi, as irmãs Magrath têm cada uma sua maneira de lidar com a situação; para Lenny Magrath de Keaton, que é mais reservada, isso significa se preocupar que a família seja dilacerada pelo escândalo e lamentar uma juventude que a deixou para trás. É definitivamente um trabalho de conjunto, e a alegria do filme é ver essas três estrelas interagindo entre si. Mas isso não significa que Keaton não tenha seus momentos de destaque, ou que não consiga transformar uma cena simples envolvendo o ato de comer seus chocolates em uma ária de raiva e ressentimento acumulado.
Presente de Grego (1987)

A década de 1980 teve sua parcela de comédias sobre mulheres no ambiente de trabalho corporativo, de Como Eliminar Seu Chefe (9 to 5) a Uma Secretária de Futuro (Working Girl). No meio desses clássicos está Presente de Grego (Baby Boom), a primeira colaboração entre Keaton e Nancy Meyers.
Ela estrela como J.C. Wiatt, uma yuppie obcecada pela carreira que herda o bebê de uma prima que não via desde 1954. Ela acaba abandonando Nova York — e seu namorado banqueiro, interpretado por Harold Ramis — e se muda para a zona rural de Vermont, onde assume totalmente o papel de mãe e inventa comida natural para bebês.
Tinha se passado apenas uma década desde Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, mas Keaton passou os anos recentes estrelando dramas; é quase como se ela estivesse armazenando toda essa energia cômica e ansiosa, esperando para liberá-la. Nem um único segundo deste filme de 110 minutos é desperdiçado, enquanto ela tem um colapso histérico após o outro, como quando seu poço literalmente seca e ela desabafa com o técnico de reparos — de forma tão profunda que cai de costas na neve.
Revisitando o filme anos depois, ela ficou surpresa com sua própria atuação. “Eu assisti”, ela disse, “e pensei, ‘Meu Deus, eu não sei como eu fiz isso’”.
O Pai da Noiva (1991)

Logo após O Poderoso Chefão Parte III, Keaton interpretou uma esposa muito diferente — o tipo calma, cool e controlada, que tira o marido teimoso (Steve Martin) da cadeia depois que ele se recusa a comprar um pacote de doze pães de cachorro-quente em vez dos oito que ele queria.
Neste remake da comédia de 1950 O Pai da Noiva, Nina Banks era o contraponto cômico ao seu marido tenso e neurótico, que simplesmente não conseguia aceitar o fato de que a filha, Annie (Kimberly Williams), estava se casando. Nina genuinamente gosta de seu charmoso futuro genro (George Newbern) e do planejador de casamentos caprichosamente estranho, Franck Eggelhoffer (Martin Short). Mas em vez de apenas interpretar uma dona de casa complacente que balança a cabeça para as palhaçadas ridículas do marido — aquele casamento custou US$ 250 por cabeça! —, Keaton trouxe profundidade a Nina, tornando-a pé-no-chão, lógica e incrivelmente engraçada.
Ela ganhou ainda mais material para trabalhar na sequência de 1995, quando Nina engravida junto com a filha, e George vende a casa sem lhe contar. Keaton brilha com cada fala naquele filme também, como quando Annie lhe pergunta se ela tirou uma foto da árvore favorita deles antes de se mudarem. “Apenas um rolo inteiro, querida”, ela responde em lágrimas.
O Clube das Desquitadas (1996)

Como Annie MacDuggan-Paradis, uma dona de casa ansiosa preterida pelo marido em favor da terapeuta do casal, Keaton ofereceu empatia àquelas que lutam para encontrar autonomia no final de um casamento.
Sua química com as co-estrelas de O Clube das Desquitadas, Bette Midler e Goldie Hawn — que supostamente sugeriu Sally Field para o papel de Annie — era inegável e cativantemente convincente. Juntas, era impossível não torcer por elas, e a merecida vingança de Annie, quando ela finalmente se impôs e assumiu a agência de publicidade do marido, gerou aplausos.
O filme não estaria completo sem o trio performando sua própria versão do sucesso de Lesley Gore, “You Don’t Own Me” — um hino para qualquer pessoa tentando se reerguer. Keaton frequentemente refletia sobre o quanto foi divertido filmar este longa, e é um sentimento que o espectador consegue captar. Ela era alguém que realmente apreciava seu trabalho.
Alguém Tem que Ceder (2003)

Keaton colaborou com Nancy Meyers quatro vezes ao longo de sua carreira, mas nenhum filme foi tão satisfatório quanto Alguém Tem Que Ceder. Era uma comédia romântica clássica, mas com uma reviravolta: Meyers rejeitou a ideia de que esses tipos de filmes tivessem que ser estrelados por atores jovens, permitindo que Keaton e Jack Nicholson tivessem a oportunidade de provar que o amor chega em todas as idades.
Ela trouxe uma doçura a Erica, uma dramaturga de sucesso que não sucumbiu à amargura do divórcio. Era fácil ver por que o jovem Julian (Keanu Reeves) estava tão apaixonado por ela — o público também estava.
Ela venceu o Globo de Ouro e conquistou várias indicações adicionais, incluindo a de Melhor Atriz no Oscar. O filme apresenta a memorável cena em que Keaton se despe para uma sequência cômica com Nicholson, e ela disse mais tarde à Interview: “Não era a minha ideia de um bom momento, mas era um filme tão maravilhoso. E, claro, eu fiz a coisa que pensei que nunca faria. Então, o que isso diz sobre mim?”.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, no dia 12 de outubro, e pode ser conferido aqui.
O post Diane Keaton: 10 filmes essenciais apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.
Diane Keaton: 10 filmes essenciais
A esposa original da máfia, a excêntrica pioneira da comédia romântica, a autora feminista do início do século XX, a mulher moderna do final do século XX navegando tanto pela turbulenta “década do eu” quanto pelos anos 1980 do “você pode ter tudo” — esses papéis poderiam ter sido memoráveis nas mãos de inúmeros atores. Diane Keaton os tornou icônicos.
Desde seu papel de destaque em O Poderoso Chefão até sua inesquecível interpretação de uma dramaturga que navega por traiçoeiras águas românticas em Alguém Tem Que Ceder, Keaton — que faleceu ontem aos 79 anos — nunca deixou de adicionar profundidade, humanidade, força e um senso de vulnerabilidade a cada personagem que interpretou. Aqui estão 10 de nossas performances favoritas da grande e saudosa atriz.
O Poderoso Chefão (1972)

Quando a maioria das pessoas menciona este marco imponente dos anos 1970 — a fusão perfeita entre a amplitude da velha Hollywood e a garra da nova Hollywood — elas falam de Brando, Pacino, Coppola, as citações intermináveis que permanecem parte do léxico pop (“Eu vou fazer uma oferta que ele não pode recusar”). Diane Keaton geralmente não é a primeira pessoa a ser mencionada, mas não se engane: ela é uma parte absolutamente essencial desta obra-prima americana.
Sua personagem, Kay Corleone, não é apenas a substituta do público, observando a cultura e os costumes deste clã ítalo-americano da perspectiva de uma estranha e, assim, nos permitindo entrar também nesse mundo. Ela é o centro moral do filme, aquela que confronta Michael Corleone por barganhar sua alma e fazer tudo ser sobre negócios em vez de ser pessoal. Até mesmo a insistência de Kay de que “senadores e presidentes não mandam matar pessoas” (quem está sendo ingênua agora, Kay?) sugere uma visão otimista do mundo que neutraliza a realidade violenta da mentalidade da máfia de seu namorado. Sua leitura daquela frase diz tudo. E quando aquela porta é fechada para Kay na cena final do filme, Keaton garante que você veja a perda no rosto de Kay.
Ela reprisaria a personagem com grande efeito em O Poderoso Chefão: Parte II — sua cena “isso tudo tem que acabar” permanece absolutamente devastadora — e retornaria para a Parte III décadas depois. Mas seu papel de estreia no cinema estabeleceu Keaton como alguém que seguiríamos para qualquer lugar. Vê-la era uma oferta que nunca poderíamos recusar.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Keaton foi escalada ao lado de Woody Allen na produção teatral original de 1969 de Play It Again, Sam (Sonhos de um Sedutor), que marcaria o início de um longo relacionamento romântico e de uma colaboração profissional ainda mais longa e indelével. Seu trabalho contracenando com o ator-diretor na versão cinematográfica de 1972 dessa comédia que idolatra Humphrey Bogart, bem como em O Dorminhoco (Sleeper, 1973) e Guerra e Paz (Love and Death, 1975), ajudou a estabelecê-la como uma comediante de primeira linha e a parceira perfeita para o desajeitado e eterno nebbish (indivíduo patético e inseguro) de Allen.
No entanto, foi o tributo de Allen a Keaton em 1977 que a transformou em uma estrela de cinema de boa-fé. A partir do momento em que ela profere a frase característica de Annie, “La di da” — um termo que Keaton pegou de seu próprio repertório de frases da vida real —, ficamos tão encantados por esta nova-iorquina maluca, adorável e neurótica quanto Alvy Singer.
As roupas por si só foram suficientes para tornar a personagem-título um ícone e impulsionar uma tendência de moda de ternos folgados e chapéus flexíveis. No entanto, é a maneira como Keaton transforma uma intelectual boba (ou talvez seja uma intelectual desajeitada?) em uma mulher moderna tridimensional e totalmente desenvolvida. O papel lhe rendeu um Oscar, e Keaton continuaria a trabalhar esporadicamente com Allen nas décadas seguintes. Mas este permanece como o auge tanto de seu trabalho conjunto quanto da era de “It Girl” de Keaton nos anos 70. La di da, de fato.
À Procura de Mr. Goodbar (1977)

“Prefiro ser seduzida a confortada”, diz Theresa Dunn, a professora interpretada por Diane Keaton, a alguém no início da adaptação de Richard Brooks para o best-seller de Judith Rossner — e sua personagem passará o resto do filme procurando o Sr. Certo (ou o Sr. Serve-Para-Esta-Noite) em busca tanto de sedução quanto de conforto.
Visto hoje, esta abordagem à então crescente tendência dos bares de solteiros parece datada em todos os sentidos, exceto pela performance extraordinária de Keaton. Ela consegue fazer com que Dunn pareça tanto um símbolo representativo de toda mulher tentando navegar em águas sociais agitadas, quanto o tipo de mulher comum que você veria no metrô.
Sério, nomeie outro ator por volta de 1977 que poderia se manter firme contra um maníaco Richard Gere usando um suspensório atlético, agitando os braços enquanto segura o que parece ser uma faca cor fluorescente! Keaton faz você sentir a solidão e a esperança dessa mulher sem fazê-la parecer lamentável ou desesperada; o jogo de emoções que transcorre em seu rosto durante aquela sequência com Gere, ou quando ela percebe que o último encontro que leva para casa é menos estável do que imaginava, entrega tudo sem dizer uma palavra.
Reds (1981)

Vendido como um épico drama romântico histórico, este retrato do ativista comunista do início do século XX, John Reed, tinha a grandiosidade de …E o Vento Levou ou Doutor Jivago. Mas nem Vivien Leigh nem Julie Christie tiveram um papel tão substancial quanto o que foi dado a Diane Keaton pelo diretor Warren Beatty — o da autora feminista Louise Bryant, que se apaixona por Reed, mas nunca perde sua ardente independência no processo.
Após uma década ganhando aclamação nos filmes de O Poderoso Chefão e como musa frequente de Woody Allen, Keaton encontrou uma nova marcha aqui, exibindo um intelecto cortante que estava muito distante das personagens mais suaves e doces de sua carreira anterior. No entanto, a desafiança de Bryant é muito bem complementada pelas vulnerabilidades da personagem, dando a Keaton a chance de fazer uma história de amor em uma tela grandiosa que, no entanto, parece íntima da maneira que suas melhores performances sempre foram.
E quem pode esquecer os trechos finais de Reds, nos quais Bryant vai àquela estação de trem lotada na esperança de que seu verdadeiro amor, Reed, apareça — sua antecipação se transformando em pânico, depois em desespero, e finalmente em gratidão lacrimosa.
A Chama Que Não Se Apaga (1982)

Para muitos, Keaton epitomou a mulher independente da década de 1970. No contundente drama doméstico de Alan Parker, ela daria um rosto ao crescente número de divorciadas no início dos anos 1980.
Como uma das metades do casal que se desintegra diante de seus olhos, Faith Dunlap (Keaton) é forçada a lidar com seu marido infiel, George (interpretado por Albert Finney), e tenta encontrar o amor em meio às ruínas de sua situação com um empreiteiro (Peter Weller) que está construindo sua quadra de tênis. Você não chamaria a separação deles de amigável. Todos se lembram da pura crueldade das brigas neste filme — acredite, elas são brutais — e o quociente de amargura é altíssimo.
Mas são os momentos silenciosos de Keaton no filme que nos atingem quando o revemos agora, desde o olhar de choque em seu rosto enquanto os Dunlaps voltam para casa após um evento formal, até Faith fumando um cigarro de maconha na banheira e cantando suavemente “If I Fell” dos Beatles. É de alguma forma o momento mais bonito e devastador em um filme repleto de som e fúria, e é tudo obra de Keaton.
Crimes do Coração (1986)

É a santíssima trindade de atrizes de peso dos anos 1980 (se Meryl Streep estivesse envolvida, seria como Os Vingadores para as mulheres fortes daquela época, cujos nomes ficavam acima do título nos cinemas). E você não poderia pedir um trio melhor do que Sissy Spacek, Jessica Lange e Diane Keaton para abordar a peça vencedora do Pulitzer de Beth Henley sobre três irmãs sulistas lidando com as consequências de um crime — especificamente, um que envolve não apenas o coração, mas o corpo de um dos maridos.
Retornando à casa da família no Mississippi, as irmãs Magrath têm cada uma sua maneira de lidar com a situação; para Lenny Magrath de Keaton, que é mais reservada, isso significa se preocupar que a família seja dilacerada pelo escândalo e lamentar uma juventude que a deixou para trás. É definitivamente um trabalho de conjunto, e a alegria do filme é ver essas três estrelas interagindo entre si. Mas isso não significa que Keaton não tenha seus momentos de destaque, ou que não consiga transformar uma cena simples envolvendo o ato de comer seus chocolates em uma ária de raiva e ressentimento acumulado.
Presente de Grego (1987)

A década de 1980 teve sua parcela de comédias sobre mulheres no ambiente de trabalho corporativo, de Como Eliminar Seu Chefe (9 to 5) a Uma Secretária de Futuro (Working Girl). No meio desses clássicos está Presente de Grego (Baby Boom), a primeira colaboração entre Keaton e Nancy Meyers.
Ela estrela como J.C. Wiatt, uma yuppie obcecada pela carreira que herda o bebê de uma prima que não via desde 1954. Ela acaba abandonando Nova York — e seu namorado banqueiro, interpretado por Harold Ramis — e se muda para a zona rural de Vermont, onde assume totalmente o papel de mãe e inventa comida natural para bebês.
Tinha se passado apenas uma década desde Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, mas Keaton passou os anos recentes estrelando dramas; é quase como se ela estivesse armazenando toda essa energia cômica e ansiosa, esperando para liberá-la. Nem um único segundo deste filme de 110 minutos é desperdiçado, enquanto ela tem um colapso histérico após o outro, como quando seu poço literalmente seca e ela desabafa com o técnico de reparos — de forma tão profunda que cai de costas na neve.
Revisitando o filme anos depois, ela ficou surpresa com sua própria atuação. “Eu assisti”, ela disse, “e pensei, ‘Meu Deus, eu não sei como eu fiz isso’”.
O Pai da Noiva (1991)

Logo após O Poderoso Chefão Parte III, Keaton interpretou uma esposa muito diferente — o tipo calma, cool e controlada, que tira o marido teimoso (Steve Martin) da cadeia depois que ele se recusa a comprar um pacote de doze pães de cachorro-quente em vez dos oito que ele queria.
Neste remake da comédia de 1950 O Pai da Noiva, Nina Banks era o contraponto cômico ao seu marido tenso e neurótico, que simplesmente não conseguia aceitar o fato de que a filha, Annie (Kimberly Williams), estava se casando. Nina genuinamente gosta de seu charmoso futuro genro (George Newbern) e do planejador de casamentos caprichosamente estranho, Franck Eggelhoffer (Martin Short). Mas em vez de apenas interpretar uma dona de casa complacente que balança a cabeça para as palhaçadas ridículas do marido — aquele casamento custou US$ 250 por cabeça! —, Keaton trouxe profundidade a Nina, tornando-a pé-no-chão, lógica e incrivelmente engraçada.
Ela ganhou ainda mais material para trabalhar na sequência de 1995, quando Nina engravida junto com a filha, e George vende a casa sem lhe contar. Keaton brilha com cada fala naquele filme também, como quando Annie lhe pergunta se ela tirou uma foto da árvore favorita deles antes de se mudarem. “Apenas um rolo inteiro, querida”, ela responde em lágrimas.
O Clube das Desquitadas (1996)

Como Annie MacDuggan-Paradis, uma dona de casa ansiosa preterida pelo marido em favor da terapeuta do casal, Keaton ofereceu empatia àquelas que lutam para encontrar autonomia no final de um casamento.
Sua química com as co-estrelas de O Clube das Desquitadas, Bette Midler e Goldie Hawn — que supostamente sugeriu Sally Field para o papel de Annie — era inegável e cativantemente convincente. Juntas, era impossível não torcer por elas, e a merecida vingança de Annie, quando ela finalmente se impôs e assumiu a agência de publicidade do marido, gerou aplausos.
O filme não estaria completo sem o trio performando sua própria versão do sucesso de Lesley Gore, “You Don’t Own Me” — um hino para qualquer pessoa tentando se reerguer. Keaton frequentemente refletia sobre o quanto foi divertido filmar este longa, e é um sentimento que o espectador consegue captar. Ela era alguém que realmente apreciava seu trabalho.
Alguém Tem que Ceder (2003)

Keaton colaborou com Nancy Meyers quatro vezes ao longo de sua carreira, mas nenhum filme foi tão satisfatório quanto Alguém Tem Que Ceder. Era uma comédia romântica clássica, mas com uma reviravolta: Meyers rejeitou a ideia de que esses tipos de filmes tivessem que ser estrelados por atores jovens, permitindo que Keaton e Jack Nicholson tivessem a oportunidade de provar que o amor chega em todas as idades.
Ela trouxe uma doçura a Erica, uma dramaturga de sucesso que não sucumbiu à amargura do divórcio. Era fácil ver por que o jovem Julian (Keanu Reeves) estava tão apaixonado por ela — o público também estava.
Ela venceu o Globo de Ouro e conquistou várias indicações adicionais, incluindo a de Melhor Atriz no Oscar. O filme apresenta a memorável cena em que Keaton se despe para uma sequência cômica com Nicholson, e ela disse mais tarde à Interview: “Não era a minha ideia de um bom momento, mas era um filme tão maravilhoso. E, claro, eu fiz a coisa que pensei que nunca faria. Então, o que isso diz sobre mim?”.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, no dia 12 de outubro, e pode ser conferido aqui.
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Diane Keaton: 10 filmes essenciais
A esposa original da máfia, a excêntrica pioneira da comédia romântica, a autora feminista do início do século XX, a mulher moderna do final do século XX navegando tanto pela turbulenta “década do eu” quanto pelos anos 1980 do “você pode ter tudo” — esses papéis poderiam ter sido memoráveis nas mãos de inúmeros atores. Diane Keaton os tornou icônicos.
Desde seu papel de destaque em O Poderoso Chefão até sua inesquecível interpretação de uma dramaturga que navega por traiçoeiras águas românticas em Alguém Tem Que Ceder, Keaton — que faleceu ontem aos 79 anos — nunca deixou de adicionar profundidade, humanidade, força e um senso de vulnerabilidade a cada personagem que interpretou. Aqui estão 10 de nossas performances favoritas da grande e saudosa atriz.
O Poderoso Chefão (1972)

Quando a maioria das pessoas menciona este marco imponente dos anos 1970 — a fusão perfeita entre a amplitude da velha Hollywood e a garra da nova Hollywood — elas falam de Brando, Pacino, Coppola, as citações intermináveis que permanecem parte do léxico pop (“Eu vou fazer uma oferta que ele não pode recusar”). Diane Keaton geralmente não é a primeira pessoa a ser mencionada, mas não se engane: ela é uma parte absolutamente essencial desta obra-prima americana.
Sua personagem, Kay Corleone, não é apenas a substituta do público, observando a cultura e os costumes deste clã ítalo-americano da perspectiva de uma estranha e, assim, nos permitindo entrar também nesse mundo. Ela é o centro moral do filme, aquela que confronta Michael Corleone por barganhar sua alma e fazer tudo ser sobre negócios em vez de ser pessoal. Até mesmo a insistência de Kay de que “senadores e presidentes não mandam matar pessoas” (quem está sendo ingênua agora, Kay?) sugere uma visão otimista do mundo que neutraliza a realidade violenta da mentalidade da máfia de seu namorado. Sua leitura daquela frase diz tudo. E quando aquela porta é fechada para Kay na cena final do filme, Keaton garante que você veja a perda no rosto de Kay.
Ela reprisaria a personagem com grande efeito em O Poderoso Chefão: Parte II — sua cena “isso tudo tem que acabar” permanece absolutamente devastadora — e retornaria para a Parte III décadas depois. Mas seu papel de estreia no cinema estabeleceu Keaton como alguém que seguiríamos para qualquer lugar. Vê-la era uma oferta que nunca poderíamos recusar.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Keaton foi escalada ao lado de Woody Allen na produção teatral original de 1969 de Play It Again, Sam (Sonhos de um Sedutor), que marcaria o início de um longo relacionamento romântico e de uma colaboração profissional ainda mais longa e indelével. Seu trabalho contracenando com o ator-diretor na versão cinematográfica de 1972 dessa comédia que idolatra Humphrey Bogart, bem como em O Dorminhoco (Sleeper, 1973) e Guerra e Paz (Love and Death, 1975), ajudou a estabelecê-la como uma comediante de primeira linha e a parceira perfeita para o desajeitado e eterno nebbish (indivíduo patético e inseguro) de Allen.
No entanto, foi o tributo de Allen a Keaton em 1977 que a transformou em uma estrela de cinema de boa-fé. A partir do momento em que ela profere a frase característica de Annie, “La di da” — um termo que Keaton pegou de seu próprio repertório de frases da vida real —, ficamos tão encantados por esta nova-iorquina maluca, adorável e neurótica quanto Alvy Singer.
As roupas por si só foram suficientes para tornar a personagem-título um ícone e impulsionar uma tendência de moda de ternos folgados e chapéus flexíveis. No entanto, é a maneira como Keaton transforma uma intelectual boba (ou talvez seja uma intelectual desajeitada?) em uma mulher moderna tridimensional e totalmente desenvolvida. O papel lhe rendeu um Oscar, e Keaton continuaria a trabalhar esporadicamente com Allen nas décadas seguintes. Mas este permanece como o auge tanto de seu trabalho conjunto quanto da era de “It Girl” de Keaton nos anos 70. La di da, de fato.
À Procura de Mr. Goodbar (1977)

“Prefiro ser seduzida a confortada”, diz Theresa Dunn, a professora interpretada por Diane Keaton, a alguém no início da adaptação de Richard Brooks para o best-seller de Judith Rossner — e sua personagem passará o resto do filme procurando o Sr. Certo (ou o Sr. Serve-Para-Esta-Noite) em busca tanto de sedução quanto de conforto.
Visto hoje, esta abordagem à então crescente tendência dos bares de solteiros parece datada em todos os sentidos, exceto pela performance extraordinária de Keaton. Ela consegue fazer com que Dunn pareça tanto um símbolo representativo de toda mulher tentando navegar em águas sociais agitadas, quanto o tipo de mulher comum que você veria no metrô.
Sério, nomeie outro ator por volta de 1977 que poderia se manter firme contra um maníaco Richard Gere usando um suspensório atlético, agitando os braços enquanto segura o que parece ser uma faca cor fluorescente! Keaton faz você sentir a solidão e a esperança dessa mulher sem fazê-la parecer lamentável ou desesperada; o jogo de emoções que transcorre em seu rosto durante aquela sequência com Gere, ou quando ela percebe que o último encontro que leva para casa é menos estável do que imaginava, entrega tudo sem dizer uma palavra.
Reds (1981)

Vendido como um épico drama romântico histórico, este retrato do ativista comunista do início do século XX, John Reed, tinha a grandiosidade de …E o Vento Levou ou Doutor Jivago. Mas nem Vivien Leigh nem Julie Christie tiveram um papel tão substancial quanto o que foi dado a Diane Keaton pelo diretor Warren Beatty — o da autora feminista Louise Bryant, que se apaixona por Reed, mas nunca perde sua ardente independência no processo.
Após uma década ganhando aclamação nos filmes de O Poderoso Chefão e como musa frequente de Woody Allen, Keaton encontrou uma nova marcha aqui, exibindo um intelecto cortante que estava muito distante das personagens mais suaves e doces de sua carreira anterior. No entanto, a desafiança de Bryant é muito bem complementada pelas vulnerabilidades da personagem, dando a Keaton a chance de fazer uma história de amor em uma tela grandiosa que, no entanto, parece íntima da maneira que suas melhores performances sempre foram.
E quem pode esquecer os trechos finais de Reds, nos quais Bryant vai àquela estação de trem lotada na esperança de que seu verdadeiro amor, Reed, apareça — sua antecipação se transformando em pânico, depois em desespero, e finalmente em gratidão lacrimosa.
A Chama Que Não Se Apaga (1982)

Para muitos, Keaton epitomou a mulher independente da década de 1970. No contundente drama doméstico de Alan Parker, ela daria um rosto ao crescente número de divorciadas no início dos anos 1980.
Como uma das metades do casal que se desintegra diante de seus olhos, Faith Dunlap (Keaton) é forçada a lidar com seu marido infiel, George (interpretado por Albert Finney), e tenta encontrar o amor em meio às ruínas de sua situação com um empreiteiro (Peter Weller) que está construindo sua quadra de tênis. Você não chamaria a separação deles de amigável. Todos se lembram da pura crueldade das brigas neste filme — acredite, elas são brutais — e o quociente de amargura é altíssimo.
Mas são os momentos silenciosos de Keaton no filme que nos atingem quando o revemos agora, desde o olhar de choque em seu rosto enquanto os Dunlaps voltam para casa após um evento formal, até Faith fumando um cigarro de maconha na banheira e cantando suavemente “If I Fell” dos Beatles. É de alguma forma o momento mais bonito e devastador em um filme repleto de som e fúria, e é tudo obra de Keaton.
Crimes do Coração (1986)

É a santíssima trindade de atrizes de peso dos anos 1980 (se Meryl Streep estivesse envolvida, seria como Os Vingadores para as mulheres fortes daquela época, cujos nomes ficavam acima do título nos cinemas). E você não poderia pedir um trio melhor do que Sissy Spacek, Jessica Lange e Diane Keaton para abordar a peça vencedora do Pulitzer de Beth Henley sobre três irmãs sulistas lidando com as consequências de um crime — especificamente, um que envolve não apenas o coração, mas o corpo de um dos maridos.
Retornando à casa da família no Mississippi, as irmãs Magrath têm cada uma sua maneira de lidar com a situação; para Lenny Magrath de Keaton, que é mais reservada, isso significa se preocupar que a família seja dilacerada pelo escândalo e lamentar uma juventude que a deixou para trás. É definitivamente um trabalho de conjunto, e a alegria do filme é ver essas três estrelas interagindo entre si. Mas isso não significa que Keaton não tenha seus momentos de destaque, ou que não consiga transformar uma cena simples envolvendo o ato de comer seus chocolates em uma ária de raiva e ressentimento acumulado.
Presente de Grego (1987)

A década de 1980 teve sua parcela de comédias sobre mulheres no ambiente de trabalho corporativo, de Como Eliminar Seu Chefe (9 to 5) a Uma Secretária de Futuro (Working Girl). No meio desses clássicos está Presente de Grego (Baby Boom), a primeira colaboração entre Keaton e Nancy Meyers.
Ela estrela como J.C. Wiatt, uma yuppie obcecada pela carreira que herda o bebê de uma prima que não via desde 1954. Ela acaba abandonando Nova York — e seu namorado banqueiro, interpretado por Harold Ramis — e se muda para a zona rural de Vermont, onde assume totalmente o papel de mãe e inventa comida natural para bebês.
Tinha se passado apenas uma década desde Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, mas Keaton passou os anos recentes estrelando dramas; é quase como se ela estivesse armazenando toda essa energia cômica e ansiosa, esperando para liberá-la. Nem um único segundo deste filme de 110 minutos é desperdiçado, enquanto ela tem um colapso histérico após o outro, como quando seu poço literalmente seca e ela desabafa com o técnico de reparos — de forma tão profunda que cai de costas na neve.
Revisitando o filme anos depois, ela ficou surpresa com sua própria atuação. “Eu assisti”, ela disse, “e pensei, ‘Meu Deus, eu não sei como eu fiz isso’”.
O Pai da Noiva (1991)

Logo após O Poderoso Chefão Parte III, Keaton interpretou uma esposa muito diferente — o tipo calma, cool e controlada, que tira o marido teimoso (Steve Martin) da cadeia depois que ele se recusa a comprar um pacote de doze pães de cachorro-quente em vez dos oito que ele queria.
Neste remake da comédia de 1950 O Pai da Noiva, Nina Banks era o contraponto cômico ao seu marido tenso e neurótico, que simplesmente não conseguia aceitar o fato de que a filha, Annie (Kimberly Williams), estava se casando. Nina genuinamente gosta de seu charmoso futuro genro (George Newbern) e do planejador de casamentos caprichosamente estranho, Franck Eggelhoffer (Martin Short). Mas em vez de apenas interpretar uma dona de casa complacente que balança a cabeça para as palhaçadas ridículas do marido — aquele casamento custou US$ 250 por cabeça! —, Keaton trouxe profundidade a Nina, tornando-a pé-no-chão, lógica e incrivelmente engraçada.
Ela ganhou ainda mais material para trabalhar na sequência de 1995, quando Nina engravida junto com a filha, e George vende a casa sem lhe contar. Keaton brilha com cada fala naquele filme também, como quando Annie lhe pergunta se ela tirou uma foto da árvore favorita deles antes de se mudarem. “Apenas um rolo inteiro, querida”, ela responde em lágrimas.
O Clube das Desquitadas (1996)

Como Annie MacDuggan-Paradis, uma dona de casa ansiosa preterida pelo marido em favor da terapeuta do casal, Keaton ofereceu empatia àquelas que lutam para encontrar autonomia no final de um casamento.
Sua química com as co-estrelas de O Clube das Desquitadas, Bette Midler e Goldie Hawn — que supostamente sugeriu Sally Field para o papel de Annie — era inegável e cativantemente convincente. Juntas, era impossível não torcer por elas, e a merecida vingança de Annie, quando ela finalmente se impôs e assumiu a agência de publicidade do marido, gerou aplausos.
O filme não estaria completo sem o trio performando sua própria versão do sucesso de Lesley Gore, “You Don’t Own Me” — um hino para qualquer pessoa tentando se reerguer. Keaton frequentemente refletia sobre o quanto foi divertido filmar este longa, e é um sentimento que o espectador consegue captar. Ela era alguém que realmente apreciava seu trabalho.
Alguém Tem que Ceder (2003)

Keaton colaborou com Nancy Meyers quatro vezes ao longo de sua carreira, mas nenhum filme foi tão satisfatório quanto Alguém Tem Que Ceder. Era uma comédia romântica clássica, mas com uma reviravolta: Meyers rejeitou a ideia de que esses tipos de filmes tivessem que ser estrelados por atores jovens, permitindo que Keaton e Jack Nicholson tivessem a oportunidade de provar que o amor chega em todas as idades.
Ela trouxe uma doçura a Erica, uma dramaturga de sucesso que não sucumbiu à amargura do divórcio. Era fácil ver por que o jovem Julian (Keanu Reeves) estava tão apaixonado por ela — o público também estava.
Ela venceu o Globo de Ouro e conquistou várias indicações adicionais, incluindo a de Melhor Atriz no Oscar. O filme apresenta a memorável cena em que Keaton se despe para uma sequência cômica com Nicholson, e ela disse mais tarde à Interview: “Não era a minha ideia de um bom momento, mas era um filme tão maravilhoso. E, claro, eu fiz a coisa que pensei que nunca faria. Então, o que isso diz sobre mim?”.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, no dia 12 de outubro, e pode ser conferido aqui.
O post Diane Keaton: 10 filmes essenciais apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.