Um bar, assim como um palco, pode ser um santuário. Um refúgio onde o conforto vem do familiar. Bruce Springsteen, frequentador assíduo do Stone Pony. Um apelido que surgiu em meados dos anos 1970, quando ele atravessava a pista de dança cantando “Havin’ a Party” com Stevie e Southside. No início dos anos 1980, com sua fama disparando após The River e Born in the U.S.A., a reputação de Springsteen como presença regular no Pony virou notícia nacional. “Ouvi dizer que o Bruce pode aparecer” virou o lema da cidade. Suas participações surpresa no palco se tornaram quase rotina, mas só aumentaram a lenda do Stone Pony e de Asbury Park. Essa mitologia é a espinha dorsal do livro I Don’t Want to Go Home: The Oral History of the Stone Pony, que traça os altos e baixos de um bar de cidade pequena que se recusou a desistir e ainda resiste hoje, em aberta afronta à expectativa de vida de um clube de rock and roll.
Bruce Springsteen: O lugar onde cresci significava algo para mim. Eu gostava dos clubes, gostava das cidades pequenas. Gostava das pessoas que estavam lá. Eu me sentia seguro, me sentia valorizado. As pessoas meio que cuidavam de você, e era um clima adorável, achei. Eu ainda era jovem. Estava nos meus trinta e poucos. Born in the U.S.A.… eu tinha só 34. Então eu saía, tinha minha caminhonete branca, pegava aquela velha sucata e ia até o Pony. E era lá que eu passava minhas sextas e domingos, sem o menor interesse no que estava acontecendo em Nova York ou em L.A. Eu sempre dizia: “Não, não, não.” Isso aqui é interessante. Essas pessoas são interessantes para mim. Esse lugar é interessante para mim. O que acontece aqui, eu acho que importa. O que fazemos aqui importa. Você está sustentando uma cena local. Mesmo tendo um sucesso tremendo, você ainda faz parte da engrenagem de uma banda local, servindo à sua comunidade, o que eu sempre achei ótimo e muito divertido. E gostei de continuar fazendo parte disso. Então foi natural para mim. Era simplesmente o que eu queria e gostava de fazer, onde me sentia seguro, confortável e sendo eu mesmo.
Bobby Bandiera: Eu saí da Holme para entrar numa banda chamada Cats on a Smooth Surface. Foi aí que comecei a tocar no Pony praticamente toda semana, em qualquer noite. Às vezes quartas, às vezes domingos.
Glen Burtnik: Eu tinha feito um tempo no show da Broadway Beatlemania. Fazia o papel de Paul McCartney. Quando acabou, larguei aquilo e voltei para casa em Nova Jersey. Precisava de um trabalho e essa banda cover, Cats on a Smooth Surface, me ligou. Achei um lugar legal. Tinha esse lance do Bruce em torno dele. Isso já era pós-Born to Run e tal. Existia a conexão Bruce e Asbury Jukes. Parecia um lugar maneiro.
Bobby Bandiera: Então estou lá, tocando com essa banda, e tentamos compor mais material original. Não rolou nesse sentido, mas o Bruce começou a aparecer. Isso foi em 1981, lembro da primeira noite em que o conheci. Não foi a primeira vez que o vi ali, mas a primeira em que nos falamos. Eu disse: “Oi.” Ele disse: “Sou o Bruce.” Eu disse: “Sim. Como vai, irmão?” E ele: “Se importa se eu subir e tocar?” Eu disse: “Claro que não. Sobe.” Era o verão de 81. Ele começou a aparecer, se divertir, curtir demais. A plateia sempre ficava elétrica quando ele chegava.
Bruce Springsteen: Os Cats atraíam muita gente. Muita gente. Muitas das bandas de segunda linha, tirando o Southside, levavam bastante público. Quero dizer, o Pony ficava cheio com frequência, só com grupos locais. Era uma cena. Todo mundo conhecia todo mundo. Uma cena legítima mesmo. Tinha uma galera que ia para aquele clube quase exclusivamente, com raras exceções. E isso era muito valioso na época.
Bobby Bandiera: Ele aparecia, se não fosse toda semana, era quase semana sim, semana não.
Bruce Springsteen: Havia um pequeno grupo de músicas que sabíamos e costumávamos cantar juntos, ou coisas bem fáceis que surgiam do nada. “Ei, vamos tocar ‘Long Tall Sally’.” Eu só gostava de tocar, ir ao bar, subir no palco. E eles tocavam muito bem. Então eu sempre curti. Toquei quase todo fim de semana lá.
Glen Burtnik: O Bruce chamava qualquer coisa que desse na cabeça. A primeira vez que toquei com ele foi “Twist and Shout”. Era a minha primeira vez conhecendo ele, e ele cantou um verso, depois apontou para mim. Era a minha vez de cantar um verso — e agora, olhando para trás, acho que era só o jeito dele de me testar ou algo assim.
Ernest Carter: O Bruce costumava aparecer nos shows com os Fairlanes e improvisar com a gente.
Eileen Chapman: Nas noites em que o Bruce ou alguém tocava, tinha uma fila enorme de gente naquele telefone ao lado da porta do banheiro, porque não existia celular naquela época.
Tracey Story Prince: O telefone público ficava dentro ou ao lado do banheiro feminino, então você não precisava de multidão quando tentava ir ao banheiro. Era bem ali, no corredor do banheiro das mulheres.
Joe Prinzo: Antes da internet, havia uma cabine telefônica no fundo do Pony que todo mundo usava para ligar para os amigos. Você ligava para um ou dois, e eles ligavam para mais um ou dois. “Cara, ele está aqui hoje. Vamos lá.”
Stan Goldstein: Também tinha uma cabine telefônica no calçadão, na Second Avenue com a Boardwalk, bem em frente ao Pony. Naquela época, eles carimbavam sua mão e deixavam você entrar de volta.
Jean Mikle: A corrente de telefonemas — eu soube dela por um grupo de garotas que iam ver os Cats toda semana e fazíamos o Dance Till You Drop todo domingo. A gente chamava uma delas de Kitty. Não sei se era o nome verdadeiro dela, mas foi assim que nos apresentaram. Ela foi uma das que começaram a corrente de telefonemas. Lembro que eu tinha o número e ficava tentando ligar sem parar.
Kyle Brendle: Aqueles domingos, o Bruce simplesmente estava lá. Não tinha gente extra com ele, nada. Ele só estava lá.
Bruce Springsteen: Você entrava pela cozinha. Bem, eles têm uma espécie de cozinha. É mais ou menos uma cozinha, mas você entrava pela porta dos fundos. Nunca tiveram um espaço de camarim de verdade.
Pete Llewelyn: Era uma noite de domingo, tinha umas cento e cinquenta pessoas ali, a maioria no bar dos fundos — todos locais, garçonetes, bartenders de outros lugares. O Bruce entrava e, em quarenta minutos, já tinha quatrocentas pessoas no lugar. Como isso acontecia era um mistério para mim. Se o Bruce não aparecesse, ficava naquelas 150, 200 pessoas. Se ele aparecesse — lembro de uma noite em que aconteceu — fiquei observando o telefone público. Aquele telefone do banheiro feminino, bem antes de entrar, ficava em uso o tempo todo. Assim que ele chegava, não parava mais. Era o único meio de comunicação, e funcionava. Um telefone público — não havia bipers, não havia celulares. De algum jeito as pessoas ficavam sabendo e o lugar lotava. A galera ia a outros bares e dizia: “Ei, o Bruce está no Pony”, e o bar esvaziava. Tinha um bar chamado Golddigger, podia ter quarenta pessoas lá dentro. Se o Bruce entrasse no Pony, em um minuto não tinha mais ninguém no Golddigger.
Jean Mikle: Eu o via e corria para lá, esperando o telefone, pensando: “Preciso usar o telefone.”
Eileen Chapman: Havia um relógio na cozinha do Mrs. Jay’s, e eram tipo onze da noite. Peguei o relógio e girei os ponteiros, e disse: “Ok, duas da manhã, última chamada.” Todo mundo ficou de boca aberta, até com comida caindo. Diziam: “Espera aí, espera aí. Eu vi o que você fez.” E eu: “Não, estamos fechando.” Então botamos todo mundo para fora, fechamos tudo, e fomos todos para o Pony assistir ao show, ver o Bruce tocar com os Cats. Depois virou praticamente um hábito semanal. Fechávamos mais cedo, íamos para o bar dos fundos e curtíamos o show.
Tracey Story Prince: Ele tocava todo domingo e ficava no bar dos fundos. Um domingo, eu estava sentada com ele e queria dançar. Eu disse: “Você pode ficar aqui e tomar conta da minha bolsa?” Dancei quatro músicas. Quando voltei, ele ainda estava sentado lá. Eu fiquei tipo: “Ahh.”
Stan Levinstone: O Bruce tocava aos domingos. Tocava quase toda semana, ou pelo menos uma vez por mês, sei lá. Quando ele não estava, o Butch ainda cobrava dez dólares para entrar. Era tipo roleta russa. “Se o Bruce aparecer, ótimo; se não, azar o seu.”
Judy DeNucci: Eu sempre tinha um segurança na porta dos fundos, ao lado do bar. Se eu tivesse algum problema ou precisasse de alguma coisa, ele chamava alguém para buscar cerveja ou o que fosse, mas sempre havia alguém ali. E quando o Bruce vinha pelos fundos — especialmente nos últimos tempos — ele sempre tinha o seu. Não exatamente o dele, mas designávamos um dos nossos seguranças só para segui-lo, por precaução.
Tony Shanahan: No começo dos anos 1980, eu tinha uma banda. Tocamos no Pony e conseguimos alguns shows melhores, acho. Abrimos para o Joe Grushecky ou para o John Cafferty. Estávamos em uma salinha nos fundos, sentados depois de tocar. De repente, a porta se abriu e o Springsteen enfiou a cabeça. Ele disse: “Bom show, pessoal.” Depois fechou a porta e foi embora. Esse foi o nosso grande momento. Lembro que ficamos nas nuvens naquela noite porque ele tinha dito aquilo para a gente.
Tony Amato: Qualquer coisa depois de 79 era toda noite a mesma coisa: Bruce, Bruce, Bruce. A gente ia para Asbury só para ver se o Bruce ia aparecer e improvisar.
Eileen Chapman: Aqueles shows eram uma loucura. O pessoal dançava em cima das cadeiras, na lareira do Stone Pony, em todo lugar. Era muito divertido. E foi numa época em que Asbury Park estava realmente começando a decair. As coisas estavam fechando no calçadão. Todo o comércio tinha saído do centro, porque construíram o Seaview Mall. Todo mundo passou a ir para lá. Então, aquilo trouxe as pessoas de volta para Asbury Park numa época em que as multidões estavam diminuindo. Foi algo muito bom para a cidade e para a cena musical. Devolveu a atenção à cena e ao Stone Pony.
Bruce Haring: Sempre que ele aparecia num clube, era notícia grande. Era sobre isso que escrevíamos, e era isso que as pessoas queriam. Você estava correndo atrás de um fantasma. Tudo dependia do capricho dele — onde e como ele ia aparecer. Não era como se existisse um site com calendário de possíveis aparições ou algo assim, mas sempre circulavam boatos de que o Bruce tocaria naquela noite. Era como no Kenny Rogers Roaster, em que sempre diziam: “O Kenny vem na semana que vem.” Era a mesma coisa. Tenho certeza de que muito disso vinha dos próprios clubes tentando atrair mais gente, fazendo o hype.
Butch Pielka: Eu nunca divulguei o nome do Bruce e nunca lhe paguei um centavo para tocar aqui. É engraçado. Muita gente até acha que ele é dono de uma parte do Pony.
Jean Mikle: Quando o Bruce tocava, muitas vezes ele só subia ao palco por volta da uma e meia da manhã. Então você simplesmente não podia ir embora. Se ele estava no bar e você sabia disso, não dava para sair, porque, Deus me livre, você ia embora à uma ou uma e meia — e aí ele subia às duas menos dez. E você perdia.
Tracey Story Prince: Trabalhei em muitas dessas noites de Bruce com os Cats. A única coisa que eu não gostava era que eles tocavam até as quatro da manhã. Eu deveria já estar liberada, mas pensava: “Não consigo sair do bar.” Era todo domingo, e eu ficava: “Estou indo para casa.” Graças a Deus meus chefes eram tranquilos e diziam: “Ok, toma um drinque, relaxa e espera passar.” Eu podia subir no balcão. Eles diziam: “Não deixe ninguém subir no balcão.” Então eu ficava em cima dele para garantir. E sempre tinha a melhor vista.
Eileen Chapman: Os E Streeters apareciam. Clarence ia. O Max aparecia de vez em quando.
Ernest Carter: Uma noite ele apareceu com a banda dele. O Max teve algum problema para chegar a tempo, ou algo assim. E o Bruce virou para mim e disse: “Ok, vamos nessa.” Ele simplesmente aparecia, fazia o que sabia, e todo mundo se espremia no palco assim que ele chegava — e pronto.
Bobby Bandiera: O Bruce chegou a ir a um ensaio. “Onde vocês ensaiam?”, ele perguntou. Eu disse: “Lá no aeroporto, na Rota 34.” Ele falou: “Então vou aparecer.” Eu disse: “O quê?” Ele foi mesmo, e era uma noite de aniversário no Pony. Ele disse: “Vou subir para tocar esse show com vocês, mas vamos ensaiar.” Eu falei: “Tá bom.” Ele estava fazendo aquele Detroit Medley, o negócio do Mitch Ryder, quando estava na estrada. “Vamos fazer isso.” Eu disse: “Beleza, claro.” E aprendemos.
Bruce Springsteen: A maioria dessas bandas eram de covers. O Southside tocava originais, mas quase todo o resto… Bem, alguns outros grupos também tocavam algumas originais, na verdade. Mas ainda rolava muito cover.
Kyle Brendle: Eles traziam alguns artistas nacionais, umas turnês aqui e ali, mas não muitas. A programação era quase toda de bandas regionais e das melhores bandas de cover. Tinha Farm, Nines, Holme, Baby Blue. Posso continuar listando: Salty Dog, Cahoots, Lance Larson. Não era uma casa de shows naquela época. Era um bar com um palco incrível.
Richie “La Bamba” Rosenberg: Acho que foi em 82. Eu não estava mais com os Disciples — o Steven tinha dispensado a seção de metais. Eu estava por ali, sem banda, não estava nos Jukes também porque tinha ficado uns anos com a Diana Ross, e depois o Steven me chamou para os Disciples. Quando acabou, fiquei circulando no Pony, e o Butch veio e disse: “Ei, vou liberar as noites de quarta, se quiser montar uma banda. O que você quer fazer?” Eu falei: “Sim, parece uma boa ideia.” E o Lee Mrowicki inventou o nome The Hubcaps. Então chamamos de La Bamba and the Hubcaps e começamos a tocar às quartas. Depois mudamos para as quintas, acho.
Glen Burtnik: Saí dos Cats e entrei nos Hubcaps. Cats era um grupo de quatro ou cinco — guitarras, teclado, bateria. O La Bamba vinha dos Jukes e trouxe os metais. Não foi a primeira banda de metais em que toquei, mas era muito boa. Por ser um “braço” dos Asbury Jukes, digamos assim, tinha mais status, mais fator de prestígio. Musicalmente, não fazíamos Eurythmics nem John Cougar nem nada disso. Era mais R&B.
Gary U.S. Bonds: Acho que o Kyle me colocou para tocar com o La Bamba and the Hubcaps. Quando cheguei, me contaram toda a história e pensei: “Ah, legal. Não sei o que significa, mas legal.” Nova Jersey sempre foi ótima para mim. Não sei o que aconteceu. Imagino que, por eu ser supostamente muito amigo do Bruce, eles me acolheram como “Ok, você é bem-vindo.” Na verdade, até hoje muita gente acha que eu sou de Jersey.
Mark Pender: O Bruce aparecia e tocava com o La Bamba and the Hubcaps. E de repente, lembro que em algumas bandas, caras que normalmente não tocavam tão bem, quando o Bruce subia ao palco, magicamente ficavam bons. Era tipo: “Cara, nunca te ouvi tocar assim. Você geralmente é meio ruim. E hoje você está… com tudo em cima. O que aconteceu?”
Glen Burtnik: Lembro de uma vez tocando com os Hubcaps. Ao lado do palco havia uma porta que dava direto para a calçada. Não sei se tínhamos feito um intervalo ou o quê, mas eu saí, abri a porta, e o Bruce estava andando na rua. Eu disse: “Bruce, vem. Quer tocar?” Ele disse: “Quero.”
Nils Lofgren: Improvisar com o La Bamba, o Ed Manion, o Mark Pender nos metais — era empolgante. Alguns anos depois, eles se juntaram à E Street na turnê de Tunnel of Love, o que foi maravilhoso.
Erik Henderiks: O Bruce era tranquilo, porém. Ele nunca simplesmente subia ao palco. Sempre perguntava, porque acho que, para um músico, você não quer compartilhar seu palco a menos que convide alguém. Você não quer dividir seu palco. O Bruce sabia disso. Ele sempre foi muito educado nesse sentido. As pessoas diziam: “Quer subir?” “Sim, tem certeza que está tudo bem? Não quero—” “Sim, Bruce, sobe.”
Lee Mrowicki: Isso é meio que… sabe, volta aos dias do Upstage, quando todo mundo sabia as mesmas músicas, ou podia aprender facilmente, e eram bons músicos o suficiente para tocar junto. Isso também se transferiu para o Pony, nas jams da madrugada. Era algo único em cada lugar, porque nenhum outro tinha isso, exceto o Pony. Especialmente aos domingos, quando a maioria dos músicos não trabalhava, eles vinham ver os amigos e tocar. Alguns até subiam no palco, como o Bruce. Isso era único na indústria. Tínhamos gente que vinha de Washington, DC, dirigia até lá e voltava na mesma noite, e no dia seguinte ia trabalhar. Sempre pensei que a música “Dancing in the Dark” foi escrita sobre ir ao Pony.
Jack Roig: Uma noite eu saí do trem e estava andando pela rua. Era dia de semana, ninguém na rua, cedo. Entrei no bar. Quem estava atrás do balcão? Bruce. Ele estava lá, todo musculoso, e era o bartender. A bartender real, minha mulher especial, saiu de trás do balcão e deixou ele servir. Não sei quanto dinheiro me custou, mas valeu a pena. Foi divertido. Ele tinha dado a casa de presente para nós, e estava se divertindo muito. Acho que ele não subiu ao palco depois disso, foi esperto o suficiente para não tentar.
Bruce Springsteen: Comecei a me aventurar atrás do balcão. Não era muito bom como bartender, mas servia cerveja e me divertia com os fãs. Meu “trunfo” era a cerveja. Talvez com um Jack Daniel’s ao lado.
Southside Johnny: Quando o Bruce era bartender convidado, todo mundo queria tequila. E eu dizia: “Eu não bebo tequila.” Aí a Eileen vinha e me dava um shot de whiskey.
Max Weinberg: Lembro que o Bruce comprava shots para todo mundo, às vezes em cima do balcão do fundo.
Judy DeNucci: Uma noite ele tocava com os Cats, como fazia frequentemente, e era meu aniversário. Ele disse do palco: “Isso vai para a Judy pelo aniversário. Feliz aniversário, Judy!” Depois veio para trás do meu balcão e começou a servir. Eu disse: “O que você está fazendo? Olha toda essa gente.” Tinha uns cinco de profundidade ao redor do balcão, todo mundo com a mão levantada. Eu disse: “Ninguém quer que eu sirva, eles querem você.” Ele gritava: “Só posso servir cerveja!” Pessoas que normalmente bebiam drinks pediam cerveja. Eu ficava no caixa, ele me dava o dinheiro e dizia: “Isso é por duas Buds.” Eu entregava o troco e ele dizia: “Não quer dar isso para a Judy de aniversário?” Bem, ninguém dizia não para o Bruce, então eu colocava no pote de gorjeta. Ele ficava ali uns trinta minutos e eu ganhei quinhentos dólares nesse tempo.
Erik Henderiks: Ele só sabia fazer umas quatro bebidas: gin tônica, rum com Coca, vodka com algo, um copo de água e uma cerveja. Esse era o repertório. Você ganhava algo, mas podia ter gosto de combustível de foguete ou de água. Ele às vezes não cobrava ou cobrava errado. Ele se sentia em casa, e nós ríamos disso. Era apenas outro show paralelo no circo.
Butch Pielka: É um lugar onde ele podia vir sem as garotas arrancarem as roupas dele. Era confortável, sem problemas de segurança.
Erik Henderiks: Deixávamos ele fazer o que quisesse, basicamente, a não ser que estivesse quebrando a lei. Ele se sentia à vontade, e queríamos garantir um lugar assim para ele.
Jack Roig: Ele nunca pedia nada. Mas uma noite, devia estar louco. Não lembro por quê. Ele disse: “Preciso me esconder no escritório, ok?” Eu falei: “Beleza, vai lá.” Aí pensei: “Ah não, o cachorro.” Eu tinha um cachorro grande, uns 47 kg, Doberman totalmente treinado. Corri de volta e disse: “Ramel, ele está bem.” Esse era o nome dele: Ramel. Voltei uns trinta minutos depois, e ele estava só sentado no sofá, pernas cruzadas. E o cachorro mordendo a bota dele. Eu disse: “Que diabos você está fazendo?” Ele respondeu: “Apenas curtindo.”
Bruce Springsteen: É aquela velha do Dylan: “Onde você se sente mais confortável?” Ele diz: “Em qualquer lugar que ninguém me lembre quem eu sou.” E é isso, achei bem legal. Às vezes a galera ficava doida, mas e daí? Faz parte do trabalho.
Jack Roig: Recebíamos correspondência do mundo inteiro: Bruce Springsteen, EUA. E ela vinha para nós. Aposto que recebíamos cinquenta, cem cartas por semana. E ele vinha e a gente dizia: “Aqui está sua correspondência.”
Jean Mikle: Eu trabalhava no Freehold Weekly, que não existe mais, chamado Colonial Free Press. Foi a primeira vez que vi turistas atrás do Bruce. Eu trabalhava lá em 1984, e o Bruce estava na turnê Born in the U.S.A., quando um cara entrou no nosso escritório vindo da Alemanha com uma câmera, perguntando onde ficavam as casas do Bruce. E a única que eu conhecia na época era a 68 South Street, que ficava bem perto do nosso escritório. Eu falei: “Realmente não sei de mais nada. Você pode ir até lá.” E pensei: “Caramba. As pessoas estão vindo aqui por causa do Bruce. Viajando até aqui.” Foi a primeira vez que percebi isso.
Pete Llewelyn: Ele tinha um apartamento de garagem e estava escrevendo Born in the U.S.A. Por volta de, talvez, início de 1985, não me lembro se havia cinco pessoas comigo lá. O Pony fechou, domingo à noite, três horas da manhã, expulsamos todo mundo. Bruce, era uma noite de neve, pegou sua guitarra, sentamos perto da lareira, éramos dez pessoas, e ele tocou músicas que iria colocar no álbum Born in the U.S.A. Tocou só para nós. Se você quiser falar sobre um verdadeiro unplugged, era isso. E eu conheço cada pessoa que estava sentada perto da lareira. Ele tocava uma música e depois conversávamos sobre ela.

Lance Larson: O chapéu vermelho da capa de Born in the U.S.A. era um presente que um amigo meu me deu. Vinha com uma vara de pesca ou carretilha Rembass. Eu e o Bruce estávamos saindo uma noite e voltamos para meu apartamento em Wanamassa para eu mostrar algumas guitarras e amplificadores novos. Quando saímos, o Bruce disse: “Cara, gostei desse chapéu.” E eu falei: “Aqui, pode ficar com ele.” Alguns meses depois, ou talvez um ano, ele entrou procurando por mim, no lugar que ficava perto do Pony, e disse: “Tenho uma surpresa para você.” Eu perguntei: “O quê?” Ele disse: “O chapéu vermelho que você me deu estava na MTV.” Só descobri isso mais tarde, quando cheguei em casa e liguei a TV. Na MTV, ele aparecia em Born in the U.S.A. com o chapéu no bolso de trás.
Richie “La Bamba” Rosenberg: Tocar com o Cats on a Smooth Surface sempre foi divertido. Começamos a fazer isso aos domingos com eles, e depois a Patti vinha e cantávamos alguns duetos juntos.
Patti Scialfa: O Bobby disse: “Deixe-me aprender várias músicas para que possamos, nos fins de semana, tocar juntos.” Então eles aprenderam várias músicas que eu podia cantar, algumas antigas de girl groups, e algumas de R&B. Não muitas, mas suficientes para nos divertir bastante. Entramos nas músicas das Ronettes, das Crystals, essas coisas. Um pouco de Carole King, Etta James, “Time Is on My Side”. Cantava do jeito dela. Ela fez antes dos Stones. Coisas assim. O que fosse divertido e sexy de cantar. Só escolhíamos e aprendíamos; não havia grande planejamento. Vamos colocar assim: você não estava ensaiando, você estava jamando.
Richie “La Bamba” Rosenberg: Tocávamos “Ain’t No Mountain High Enough”, “I’m Gonna Make You Love Me”, coisas assim.
Patti Scialfa: Explorar todos esses catálogos com grandes girl groups, eu nunca tinha feito antes. Foi uma introdução para mim. E, quando fiz meu disco Rumble Doll, minha primeira gravação, havia uma música chamada “As Long as I (Can Be with You)”. Havia alguns acenos a esse estilo girl group. Então isso me influenciou. Sempre gostei desses grupos. Foram as primeiras mulheres que ouvi no meu rádio de transístor quando era criança, andando de bicicleta. Você podia colocar o rádio no guidão. Era mágico e místico para mim. De novo, pensei: “Ok, adoro o que elas estão cantando.”
Lee Mrowicki: A Patti era boa amiga do Bobby Bandiera e do Richie Rosenberg. Ela tocava com a banda do Bobby, Cats on a Smooth Surface, no final da noite. Ela costumava cantar “Boy from New York City” e mais algumas músicas antigas.
Bruce Springsteen: Conheci minha esposa [no Pony]. A gente se esbarrava algumas vezes antes, mas nada significativo. Vi a Patti antes da turnê Born in the U.S.A., e foi assim que ela entrou na banda.
Patti Scialfa: Sabe quantas vezes corrigi isso quando ele conta a história? Até para nossos amigos, às vezes eu digo: “Eu entrei na banda? Você que me pediu para entrar na banda.” Eu não estava batendo na porta da banda tentando entrar.
Pete Llewelyn: Ele estava no meu bar na noite em que viu a Patti pela primeira vez. Estava prestes a ir para o bar de trás. Lembro até o que ele estava bebendo: kamikaze on the rocks. Eu falava um pouco com ele, acho que sobre softball ou algo irrelevante. O Cats ligou e disse que teriam um convidado especial. Claro que todo mundo achou que seria o Bruce, mas era a Patti Scialfa. Ela subiu e deve ter cantado três músicas com ele. O Bruce estava completamente fixado nela; não tirava os olhos.
Bruce Springsteen: Ela subiu ao palco para tocar, talvez com o Bobby Bandiera ou alguma banda local. Cantou o hit dos Exciters, “Tell Him”, e ela era muito marcante desde o começo.
Pete Llewelyn: Quando ela desceu, foi para o bar de trás—zoom, lá vai o Bruce. Ele a seguiu direto para lá. Levou a bebida com ele. Ele se foi, a seguiu. Quando ela saiu do palco, ele a seguiu direto para o bar de trás.
Patti Scialfa: Saí do palco e fui mais para a parte de trás do palco, caminhando para lá, e tinha uma bebida na mão. Alguém me deu um drinque. Então vi todas essas pessoas se aproximando aos poucos. Eu pensava: “O que está acontecendo?” Era como um pequeno enxame devagar, e eu pensava: “Nossa, o que é isso?” Aí ele me toca no ombro por trás. Ele estava atrás de mim enquanto eu conversava com alguns amigos, e foi por isso que as pessoas se aglomeraram na minha frente. Eu pensei: “Ah, entendi.” Ele se apresentou novamente e disse que gostava da maneira como eu cantava. Então nos tornamos amigos. Voltamos, tomamos alguns drinques juntos. Oh Deus, lembro daquela noite. É engraçado. Tomamos alguns drinques juntos. Enfim, nos conhecemos um pouco. E quando eu ia aos bares nos fins de semana, ele sempre me dava carona para casa depois de passar um tempo com o Cats. Íamos comer um hambúrguer no Inkwell, coisas assim.
Max Weinberg: Bruce foi até o Stone Pony. La Bamba, o trombonista, estava tocando com a banda dele, e Patti estava cantando com a banda dele. E claro, Bruce conhecia a Patti. Todos nós conhecíamos a Patti. E foi naquela noite que ele disse: “Ok, eu tenho o guitarrista, vamos pegar a Patti.” Então ela entrou na E Street Band no dia seguinte.
Patti Scialfa: E então ele me ligou uma noite e disse: “Você pode vir? Estamos em Lititz ensaiando para a turnê.” Acho que Steven tinha saído da banda, o Little Steven. E Nils estava lá, mas com laringite, então precisavam de alguém para cantar. Fui para lá por alguns dias. Achei que ficaria só à tarde. Isso foi uma semana antes da turnê, e depois ele me ligou três dias antes pedindo para eu entrar.
Max Weinberg: Acho que eles foram juntos para Lititz, Pensilvânia. Nós já estávamos lá. Ficamos nesse pequeno Route 66 Motel. Lembro enquanto ensaiávamos para aquela turnê, e o resto é história.
John Eddie: Nosso objetivo óbvio era o Stone Pony, mas havia etapas antes disso. O Brighton Bar, o Fast Lane, então começamos tocando no Brighton Bar primeiro, e Big Man, claro, Clarence tinha o Big Man’s Club.
Bob Burger: John Eddie, todo mundo achava que ele era a reencarnação do Bruce naquela época.
John Eddie: Criamos uma base de fãs tão legal que acabamos conseguindo uma residência no Pony nas sextas-feiras. Isso foi no verão, quando o Bruce estava prestes a lançar Born in the U.S.A. E fazíamos parte de todo aquele fenômeno Bruce. Então, todas as sextas-feiras estávamos lotados. Era insano, era como fazer parte da cena, então deu certo estarmos lá naquele momento. O show mais famoso foi quando Bruce tocou antes da turnê Born in the U.S.A. Foi o primeiro show antes da turnê. Recebi uma ligação do Bruce, e ele não costuma me ligar. Tenho certeza que ele não tinha meu número. Obie provavelmente deu meu número a ele. Ele foi muito gentil e disse: “Ei, John. Quero tocar um show no Pony, e sei que é a sua noite.” Ele poderia ter dito: “Queime o show do John Eddie.” E teriam feito isso sem pensar duas vezes. Ele disse: “Quero tocar um show, sei que é a sua noite. Pode ser que eu e a banda abramos para você?” Eu disse: “Cara, pode tocar o quanto quiser, mas não vou tocar depois de você.” Foi muito gentil e incrivelmente legal. Abrimos para ele. Eddie Testa ia abrir para nós, mas foi deslocado. “Desculpa, Eddie, mas agora é a minha vez, irmão.”
Bruce Springsteen: Eu queria que os caras tocassem localmente e só queria ensaiar o show. John era o headliner daquela noite. Só perguntei se seria ok se víssemos de tocar em algum momento da noite. John sempre foi ótimo e disse: “Vem sim.”
John Eddie: Imagino que foi como ver os Beatles no Cavern Club para todos na plateia. Porque era o primeiro show da turnê Born in the U.S.A. e todo aquele fenômeno. E eu pude abrir o show, ficar de lado no palco e assistir. Depois fomos para a casa do Bruce. Foi um momento de “believe it or not”, e provavelmente não será superado na minha vida.
Nils Lofgren: Tocar um show de aquecimento com Bruce e a E Street no Pony antes da turnê Born in the U.S.A. também foi uma noite memorável. Como só consegui o trabalho quatro semanas antes da abertura da turnê, foi uma experiência avassaladora e maravilhosa. Estar no Pony com o público do Bruce ao nosso lado foi de enorme ajuda naquela noite.
Max Weinberg: Ensaiamos porque tínhamos dois novos membros, Nils e Patti, e ensaiamos na Pensilvânia num estúdio, depois voltamos e havia fotos daquela noite. Minha lembrança mais clara é tocar aquele material no Stone Pony, o material de Born in the U.S.A. Naqueles dias não tinha ar-condicionado. Podiam ter, mas não funcionava, e estava incrivelmente quente. Em um momento, Bruce disse para a plateia: “Show interrompido por causa do calor.” Quase desmaiei na bateria. Eu era jovem, tinha só 31 anos. Estava quente e úmido, claro, e acho que era só maio, mas principalmente porque não havia ar-condicionado e o aperto de gente lá dentro.
John Eddie: Tenho certeza que ultrapassamos o limite permitido pelo corpo de bombeiros naquela noite. Era lotação total, de parede a parede, pendurados no teto. Suado, quente, puro rock and roll. Era como imaginar uma música do Little Richard.
Nils Lofgren: Tocar no Pony depois que entrei na E Street me deu um pouco mais de confiança e a sensação de que eu pertencia, ainda mais do que de costume.
Bruce Springsteen: Era um evento. Foi uma coisa grande na época. Éramos uma das maiores bandas do mundo naquele tempo, se não a maior, mas aquele era o nosso lugar e não pensávamos muito sobre isso. Apenas íamos lá e fazíamos.
Tim Donnelly: Para nós, o Pony sempre foi como ter o Yankee Stadium na rua, de certa forma, onde as lendas estavam. Me formei no ensino médio em 1985. Bruce Springsteen era a maior estrela do mundo em 1984, 1985. Então Bruce Springsteen, Michael Jackson e Prince. E nós tínhamos um deles.
Pete Llewelyn: Bruce podia entrar lá a qualquer momento e ninguém o incomodava, pedindo autógrafos ou dizendo “Por favor, sobe e toca. Queremos ouvir você.” Sem importunar. Ele entrava e relaxava. Sempre usava um boné de beisebol. Ele se sentia em casa, conhecia todo mundo: os bartenders, os donos, os seguranças. Ele sabia que estava seguro porque cada segurança se certificava de que ele estava protegido. Se, Deus nos livre, algo acontecesse, teríamos que chegar a ele rapidamente.
Jack Roig: Ele não queria gente vigiando-o de perto. Você observava, mas de longe. Bruce sabia como se mover e se cuidar. Ele não queria o Serviço Secreto ao redor dele.
Bobby Bandiera: Tocando no Pony tanto quanto eu tocava em qualquer dia da semana, quarta-feira ou domingo, fim de semana, muitos caras dos Jukes apareciam. Kevin Kavanaugh morava a alguns quarteirões, então ele estava sempre lá. De vez em quando tocava comigo no Cats. Eu o chamava para tocar. Ele dizia: “Mark Pender e La Bamba estão por aí. Por que você não os chama para tocar metais?” Eu dizia: “Sim, sim.” Então montava algo aos domingos. Era um show onde muitos desses caras subiam para tocar na banda, e Patti Scialfa também estava por perto. Eu a fazia subir para cantar, Bruce assistia; ele subia e cantava. E aquele domingo se tornava uma noite louca. Era uma época divertida, estar no meio de um lugar cheio de talento. Bruce, Steven, Southside, Patti Scialfa estavam por lá. Alguém sempre aparecia.
John Eddie: Estávamos testemunhando os últimos dias de glória da versão fantasiosa das músicas do Bruce, aquela vibe American Graffiti, com carros rápidos, garotas bonitas, tudo estava bem na América. Vimos os últimos vestígios disso.
Max Weinberg: Chamam de “A Casa que Bruce Construiu”, ele e os Jukes. Sempre pensamos que era meio que nosso Cavern Club, pelo menos do meu ponto de vista.
Jean Mikle: Tudo mudou depois de Born in the U.S.A.. Acho que ele não se sentia tão à vontade de sair por aí. Ainda o via bastante.
Tracey Story Prince: Depois de Born in the U.S.A., foi quando ele ficou realmente grande.
Stan Goldstein: Sempre havia uma regra. Não incomodávamos o Bruce. Você queria que ele tocasse, mas não queria irritá-lo ou ele iria embora. Essa sempre foi a regra dos locais. Deixe-o em paz. Talvez você conseguisse vê-lo tocar.
Eileen Chapman: Bruce tinha um senso muito aguçado de quando sua presença podia fazer diferença em algo ou em alguém. A forma como ele distribuía dinheiro pela cidade: computadores para o Boys and Girls Club, jaquetas para a banda marcial, um telhado para a Stephen Crane House. Coisas que as pessoas não percebiam, mas que faziam diferença. E o Pony era a mesma coisa. Nos verões de 1982 ou 1983, às vezes tinha mais gente no Mrs. Jay’s do que no Pony. Não sei por quê. Talvez as bandas ou outros clubes surgindo. Havia clubes novos e brilhantes, Key Largo, Pier Pub, e todos esses clubes de dança que estavam abrindo, além do Green Parrot e lugares fora de Asbury Park que atraíam gente por serem novos. Isso impactou o Pony por alguns anos.
Southside Johnny: Isso fez de Asbury Park — entre Greetings from Asbury Park do Bruce, New Jersey do Jon Bon Jovi quando saiu mais tarde, nós e os Asbury Jukes, e todos esses jovens atos de rock — um destino. Mas também virou uma cidade “hip”, de certo modo. Ainda era um bairro degradado. Era arriscado andar pelas ruas à noite, mas nas sextas e sábados, a polícia estava presente, ajudando a estacionar, e havia presença policial para as pessoas se sentirem seguras. Foi um verdadeiro farol de luz para New Jersey e Asbury Park.
Bruce Springsteen: Eu diria que, de 1975 a 1985, a cidade estava meio nos últimos suspiros da classe trabalhadora. Logo se tornaria muito desesperadora. Mas lembro que o calçadão ainda estava aberto, com diversões e brinquedos, e aquela parte da cidade não tinha fechado. Mas era pós-motins, então uma grande parte da cidade estava fechando naqueles dias. Então era apenas uma pequena cidade costeira da classe trabalhadora, resistindo por um fio, que por acaso era nossa casa.
Eric Deggans: Bruce indo ao Stone Pony, vendo quem estava lá e tocando com as bandas, virou toda uma coisa. Hoje em dia, nem consigo imaginar um equivalente, tipo se a Taylor Swift decidisse ir a um clube na cidade onde mora e tocar com as bandas de vez em quando — imagine, imagine as multidões que apareceriam só pela possibilidade de vê-la fazendo isso. Ele fez isso, e virou notícia internacional, transformando o Stone Pony em uma marca conhecida mundialmente. As pessoas ouviam falar dele de uma forma que era o jeito mais romântico e clássico de se ouvir sobre rock-and-roll: essa superestrela é tão pé-no-chão que vem tomar uma cerveja e, se tiver bebido o suficiente e estiver no clima, sobe ao palco e toca para as pessoas. Você podia pagar seu ingresso de cinco ou dez dólares e ver o Bruce Springsteen.
Isso também alimenta a mitologia da região, porque o lugar sempre se orgulhou de seus rock stars pé-no-chão, da classe trabalhadora, que se sustentam por conta própria. Isso era o Bruce, isso era o Jon Bon Jovi, isso eram os Smithereens. Certo? Não era a Taylor Swift, não era alguém isolado em alguma colina longe das pessoas. Eram pessoas como qualquer outra. Isso só ajudou a construir a lenda e se tornou uma história poderosa para os fãs de rock, e então o Pony pôde se apoiar nisso e se tornar um local que recebeu vários shows incríveis. É assim que você se torna um local clássico: você cria uma cena e se torna a casa de grandes momentos musicais.
É isso que o Pony fez.
+++LEIA MAIS: Bruce Springsteen detona Trump em entrevista e pede novo impeachment
*Texto publicado originalmente em 2 de junho de 2024 na Rolling Stone.
O post A história do bar de Jersey Shore que Bruce Springsteen tornou famoso apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.