
Lá em dezembro de 2019, nos cinemas brasileiros, o diretor Rian Johnson lançava Entre Facas e Segredos, excelente whodunit estrelado por Daniel Craig, Ana de Armas, Chris Evans e grande elenco. Talvez, na época, o cineasta não tivesse a pretensão de tornar sua ideia em uma grande franquia — o que aconteceu. Porém, esse sucesso passou das telonas para o serviço de streaming Netflix a partir da segunda entrada, Glass Onion: Um Mistério Knives Out (2022). Agora, em 12 de dezembro de 2025, o terceiro filme, Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out, estreia oficialmente na plataforma. A Rolling Stone Brasil assistiu com antecedência e te conta o que achou.
Vivo ou Morto mostra mais um caso (quase) impossível para Benoit Blanc (Craig) resolver: em uma pequena cidade, Monsignor Jefferson Wic (Josh Brolin), líder de uma igreja-culto, morre misteriosamente durante uma missa. Entre os suspeitos estão Jud Duplenticy (Josh O’Connor), ex-boxeador que virou assistente de Wic, e os fiéis seguidores da vítima: Simone Vivane (Cailee Spaeny), Lee Ross (Andrew Scott), Dr. Nat Sharp (Jeremy Renner), Samson Holt (Thomas Haden Church), Martha Delacroix (Glenn Close), Vera Draven (Kerry Washington) e Cy Draven (Daryl McCormack).
Se em Entre Facas e Segredos o diretor-roteirista zoou famílias aristocratas, enquanto Glass Onion mirava em bilionários donos de big techs, Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out aponta as hipocrisias de líderes religiosos aproveitadores e da falta de alma (e conteúdo) em influenciadores digitais.
No quesito religioso, a produção expõe a busca incessante por poder, com a crença alheia como escada, e a manipulação de pessoas por meio da fé. Já a influência digital é abordada na medida e mostra que, para muita gente, a fama por meio de polêmicas e edições exageradas é o caminho ideal a se seguir.
Como nos outros dois longas da franquia, o desempenho dos atores e atrizes é um dos grandes destaques, com atuações que convencem nesta mistura de drama, comédia e mistério. A grande estrela do novo filme é O’Connor, que divide os holofotes com Daniel Craig, o protagonista dos Knives Out anteriores.
Já o elenco de apoio, apesar de contar com grandes artistas, sofrem um pouco com o tempo de tela. Afinal, sobra pouco tempo para o roteiro desenvolver todos em tela. Ou seja, nomes como Cailee Spaeny, Thomas Haden Church, Mila Kunis (Geraldine Scott) e Andrew Scott fazem um bom trabalho, mas seus personagens não fogem daquilo quando são apresentados pela primeira vez. Por outro lado, Jeremy Renner, Glenn Close, Kerry Washington, Daryl McCormack, e Josh Brolin conseguem brilhar muito mais.
Todo o início de Vivo ou Morto é na perspectiva de Jud Duplenticy, desde o seu passado turbulento, marcado pela violência, até sua chegada na igreja de Jefferson Wic. Logo de cara, Jud já saca que aquele ambiente é recheado por futilidade — e é aí que os comentários sociais de Rian Johnson entram em cena.
A narrativa do longa subverte suas expectativas e noção do que está acontecendo logo no início, com a narração dos acontecimentos pelos olhos de Jud, que revela sua rotina até o crime para Benoit Blanc. Então, enquanto você tenta juntar as pontas e tentar apontar o que aconteceu e quem foi o assassino, o roteiro mostra o que de fato aconteceu, com acontecimentos mais complexos e reviravoltas dentro de reviravoltas.
Confesso que achei bastante criativo o desenrolar do crime e suas consequências. No entanto, parece que o roteiro fica a todo momento tentando provar que é inteligente, com diversos plot twists e revelações bombásticas. No fim das contas, só deixa a narrativa mais confusa. Curiosamente, este é o efeito contrário que Glass Onion causou, porque o filme foi bastante criticado por ser previsível até demais e destoar do capítulo anterior.
Apesar disso, Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out segue com a qualidade e refinamento das outras entradas, com destaque para a direção de Johnson, que brinca em diversos quadros com imagens sagradas, sejam elas dos próprios cenários da igreja ou com iluminação natural.
Mais uma vez, Daniel Craig parece que está se divertindo como nunca na pele do detetive excêntrico e carismático — suas primeiras falas acontecem bem depois do início, mas ele domina a trama com O’Connor assim que começa a abrir a boca. A inteligência e as tiradas sarcásticas e bem-humoradas do protagonista ainda encantam.
Tudo de bom que fez a franquia se destacar está presente em Vivo ou Morto (com exceção das exibições nas salas de cinema no Brasil, que não contará com circuito limitado, infelizmente). Desde os personagens ao roteiro afiado de Johnson, o filme cumpre muito bem seu objetivo de entregar uma história criativa em um gênero tão conhecido e explorado, com comentários sociais pertinentes e extremamente atuais.
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