
Jimmy London não é o tipo de artista que fica olhando para trás, mas admitiu à Rolling Stone Brasil que tem pensado mais em seu próprio legado. Afinal de contas, não é fácil chegar a 30 anos de carreira artística — ainda mais fazendo som pesado em nosso país.
Ao mesmo tempo em que começa a vislumbrar com carinho o 30º aniversário de sua trajetória musical, o cantor de nome Bruno Munk London continua envolvido em uma infinidade de projetos. Com a banda Matanza Ritual, lançou o álbum A Vingança é Meu Motor e realiza shows por todo o Brasil — incluindo uma passagem pelo Carioca Club, em São Paulo, no próximo dia 21 de novembro. Junto ao grupo Jimmy & Rats, volta a se apresentar nesta sexta-feira, 14, no Music Experience, Rio de Janeiro. Há ainda trabalhos recentes como ator pela Globo e Netflix e até uma expedição à Noruega em busca da aurora boreal.
Em meio a tantas atividades, o vocalista, ator e PhD na Arte do Insulto™ encontrou tempo para visitar os estúdios da Rolling Stone Brasil e falar não apenas sobre o que tem feito, como, também, celebrar as realizações passadas. A íntegra do bate-papo está disponível no YouTube. Abaixo, estão transcritas algumas das principais declarações.
Entrevista com Jimmy London — Matanza Ritual e mais
Resumo do momento atual
Jimmy London: “Que época feliz estou vivendo, com tanta coisa boa. Finalmente chegaram os primeiros vinis do primeiro disco do Matanza Ritual, A Vingança é Meu Motor. Estou me preparando para, em dezembro, voltar à Noruega com meu grupo para que possamos ver a aurora boreal no Círculo Polar Ártico — uma das coisas mais loucas que faço. Tem uma porrada de show muito legal de lançamento de disco do Matanza Ritual. Faço há 30 anos e continuo fazendo com muito tesão — até eu estranho. Tem show com Jimmy & Rats no Rio de Janeiro; [a banda] estava meio de lado. E ainda estava fazendo um filme muito louco com Leo Liberti.”
Um artista multifacetado
JL: “O mercado muda e eu fico com vontade de fazer coisas legais. Fora música em si e atuação, tem o festival [Matanza Ritual Fest] que sempre faço, todo ano. Sempre dá uma dor de cabeça mas das boas, porque é maneiro escolher banda. Ter projetos é o segredo da fonte da juventude — se é que com essa carcaça pode-se falar que está jovem. Concretizo e aprendo. E algo que me ajuda a rejuvenescer ou ao menos manter funcionando o cérebro é a atuação, pois tem toda uma técnica. Embora seja uma arte e seja baseado no instinto, como muito da música, tem técnica. Aprender isso é muito legal.”
Como é ter Antonio Araújo (guitarra, ex-Korzus), Felipe Andreoli (baixo, Angra) e Amílcar Christófaro (bateria, Torture Squad), três músicos consagrados no metal, no Matanza Ritual:
JL: “Na parte pessoal, venho me divertindo muito. O Matanza original não terminou em bons termos. Então, hoje, estou em uma banda onde a parte pessoal está super em dia. Temos interesses em comum… como comida. A gente come pra car#lho. Todo lugar em que vamos, queremos saber onde comer, qual a churrascaria boa, etc. Uma das grandes razões para ter escolhido esses três caras foi: são pessoas já bastante realizadas e tranquilas. É muito confortável estar com eles. Vira e mexe, algum deles não pode fazer show, por conta dos outros trabalhos. Aí pra tocar baixo, já tivemos o Juninho do Ratos de Porão — que é do cacete — e Renan Campos do Hatefulmurder, na bateria já tivemos Marcão Melloni do Dead Fish e Walman, diretor musical do Mundo Bita.”
Felipe Andreoli, a grande “cola” que une o som do Matanza Ritual
JL: “Felipe tem uma característica muito única. A maioria dos músicos virtuosos toca muito limpo, asséptico, correto. São incríveis, muita gente pira. Felipe toca desse e é, para mim, top baixistas do mundo. Quando viajamos para feira de música em Los Angeles, tem bandeirão de 3 metros de altura com o rosto dele junto dos caras mais cultuados. E ao mesmo tempo, ele senta a mão, toca com tesão, tem a sujeita, ouve a música e vê o que ela precisa. Ele não toca uma música mostrando o que ele pode fazer dentro daquela música. Ele ouve e toca o que precisa. Ele dá a liga da bateria com a guitarra, ocupa muito espaço. E ele faz isso amarradão. O som dele é assim, coloca bastante distorção até no Angra.”
Voltando às raízes de James McDowell com a expedição na Noruega
JL: “Estou indo pela segunda vez. Tenho uma parceria com a GoNorse Medieval Marketing, feita por dois historiadores brasileiros que moram na Noruega e fazem excursões que saem do óbvio. Já fizeram, por exemplo, com temática viking — e envolve papo sério, sobre Idade Média, a transiçãodas épocas. A primeira viagem que fiz com eles foi à Escandinávia, com muito foco na cultura viking. Agora vamos para Tromsø, cidade da Noruega que fica dentro do Círculo Polar Ártico, no inverno. Vamos em busca da aurora boreal, que, claro, depende da vontade da Mãe Natureza. A atividade geomagnética está louquérrima, então, está tendo Auroras louquíssimas. Também iremos nas aldeias Sami, dos povos originários.”
A retomada do Jimmy & Rats
JL: “Não houve nada oficial de ‘botar de lado’, é que fiquei muito focado no Ritual. Amo o Rats. Gravamos um belíssimo disco, Só Há Um Caminho a Seguir. Agora, finalmente, conseguimos pegar uma data no Rio de Janeiro. Será dia 14 de novembro, no Experience Music. Será a estreia da Pedrita Rocha [acordeonista]. O Gajo [Loko, antecessor] voltou para Portugal e entrou a Pedrita, uma pessoa muito doida, artista circense e sanfoneira. Se bobear, ela vai aparecer lá em cima de um monociclo ou fazendo malabarismo com tocha acesa. O Rats é meio que a antítese de tudo que fui formando na minha carreira nesses 30 anos com o Matanza e com o Matanza Ritual, pois eu gosto de tudo muito ‘é assim’, ‘a gente compõe assim’, entrar em estúdio com tudo organizado, saber como as músicas sairão — e com o Rats não é assim. Vamos indo, vamos fazendo, bastante ‘bagunçado’. Eu me amarro.”
A sensação ao olhar para trás e perceber os 30 anos de carreira
Jimmy: “No show de 2022 no Tokio Marine Hall, o Amílcar me falou: ‘parabéns, olha o que você fez, sua carreira, não sei o quê’. Olhei para a cara dele, não entendi muito bem e fui fazer o show. Um tempão depois, pensei: ‘já é coisa pra cacete, né?’. E num lugar muito difícil. Fazer rock pesado já é meio difícil. Fazer rock pesado no Brasil, mais ainda. Tirar isso daquele lugar de hobby/atividade fim de semana e transformar isso em atividade principal e desenvolver essa parte da produção… hoje estou muito feliz trabalhando com Paulo Baron e a Top Link, mas passei décadas como produtor da banda — com muita gente trabalhando junto comigo, mas fazendo a carreira acontecer e tomando conta dessa parte de empresariamento. É coisa pra car#lho mesmo. Não é autobabação de ovo. Não é sobre ter feito coisas do car#lho: é ter feito muitas coisas chatas várias vezes sem deixar cair a qualidade e o compromisso. Motivação dura muito pouco. Compromisso é fazer mesmo exausto, não querendo fazer, ou em horário ruim. É a mesma coisa de fazer show: muitas vezes você não quer ir. Não há vergonha de se dizer. Todos passamos por coisas na vida. Perdi meu pai e nesse processo eu estava trabalhando — menos, mas trabalhando. E tem dias que você não tem motivo, mas não quer: só acorda e fala: ‘hoje eu queria ficar em casa e comer sorvete’. F#da-se o que você queria. Você subiu no palco e fez o melhor que você podia fazer? Aí é irado.”
Segundo álbum do Matanza Ritual
JL: “No dia que entrei no estúdio pra fazer o primeiro álbum, chamei o Antonio de lado e falei: ‘não começa a ‘se achar’ muito, tem que começar a fazer o segundo disco pra ontem’. Acho super difícil fazer o segundo disco. No primeiro, você tem muito lugar pra ir, muita conversa pra ter. Ter um segundo álbum é mais difícil: continuar sendo relevante enquanto fala mais ou menos das mesmas coisas é muito mais difícil — assim como continuar fazendo a música de mesmo DNA, mas que não seja a mesma coisa. Já estamos trabalhando nisso. Ter um novo álbum em 2026 é um plano. Gosto, inclusive, da ideia de: se possível for, de lançar disco todo ano. Gosto muito de gravar. Estou escrevendo desde já, pensando desde já, tentando juntar experiência desde já, roubando um monte de coisa dos livros de História que leio o tempo todo. É isso que fazemos: a gente lê coisas, vê coisas, assiste coisas… depois rouba tudo e vai fazer música.”
Entrevista na íntegra:
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