
A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um dos principais eventos de cinema do Brasil e da América Latina, encerrou oficialmente nesta quarta-feira, 5 de novembro, após duas semanas em cartaz e mais seis dias de repescagem. No 49º ano do evento, a Rolling Stone Brasil conferiu 33 filmes no total, no entanto, como é praticamente impossível assistir a todos eles nos próximos meses, separamos os 10 melhores, aqueles que você precisa assistir. Confira a seguir os 10 melhores da Mostra de SP, eleitos por Angelo Cordeiro, repórter de cinema do site, em ordem de preferência, do pior para o melhor:
10º Blue Moon
Sinopse:
Blue Moon se passa na noite de 31 de março de 1943, quando o lendário letrista Lorenz Hart (Ethan Hawke), convivendo com uma crise pessoal e criativa, se encontra no bar Sardi’s, enquanto seu antigo parceiro Richard Rodgers (Andrew Scott) comemora a estreia triunfal de seu revolucionário musical “Oklahoma!”.
Breve comentário:
Hawke, colaborador de longa data de Linklater, oferece aqui uma das atuações mais devastadoras de sua carreira. Ele conduz o filme com um desempenho simultaneamente exuberante e contido. No início, Hart parece expansivo, espirituoso, ainda dono de certo brilho; mas, aos poucos, o filme lhe retira as máscaras, revelando a exaustão e a tristeza que o corroem. Leia a crítica completa clicando aqui.
Onde assistir: ainda sem previsão de estreia.
9º Foi Apenas Um Acidente
Sinopse:
Em Foi Apenas Um Acidente, novo filme do diretor Jafar Panahi, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2025, o que começa como um pequeno acidente desencadeia uma série de crescentes consequências.
Breve comentário:
Em vez de respostas, Panahi oferece zonas cinzentas. Seu filme não investiga apenas um crime ou um evento isolado, mas o eco prolongado da violência e a dificuldade de seguir adiante quando o passado insiste em permanecer. Vahid vai atrás de outras pessoas que possam confirmar a identidade do torturador, mas a incerteza parece cada vez mais certa e a vingança vai perdendo sentido. Leia a crítica completa clicando aqui.
Onde assistir: 4 de dezembro de 2025 nos cinemas.
8º A Natureza das Coisas Invisíveis
Sinopse:
A Natureza das Coisas Invisíveis traz Glória (Laura Brandão), de 10 anos, que passa as férias no hospital onde sua mãe trabalha como enfermeira. Lá ela conhece Sofia (Serena), uma menina que está convencida de que a piora na saúde da bisavó é causada pela internação no hospital. Unidas pelo desejo de sair dali, as crianças encontram conforto na companhia uma da outra. Quando a partida se torna inevitável, as meninas e suas mães seguem para um refúgio no interior de Goiás para passar os últimos dias de um verão inesquecível.
Breve comentário:
A morte se apresenta como parte da vida, e as meninas aprendem a lidar com ela de maneira natural, refletindo o processo de amadurecimento precoce que a infância, em certas circunstâncias, exige. Dessa forma, o filme se destaca pela forma delicada com que lida com seus temas contemporâneos, como identidade de gênero e rituais religiosos, que surgem de maneira orgânica, permitindo que o espectador compreenda a complexidade da vida sem perder a pureza do olhar infantil. Leia a crítica completa clicando aqui.
Onde assistir: 27 de novembro de 2025 nos cinemas.
7º Duas Vezes João Liberada
Sinopse:
Duas Vezes João Liberada é a história de João, uma atriz lisboeta, estrela um filme biográfico sobre Liberada, uma figura de gênero não-conforme perseguida pela Inquisição Portuguesa no século 18. A produção do filme se torna um campo de batalha, com João em conflito com o diretor sobre como o legado de Liberada deve ser retratado. Essas tensões se aprofundam ao mesmo tempo em que os sonhos de João são cada vez mais assombrados pelo fantasma de Liberada, confundindo os limites entre passado e presente. Quando o diretor sucumbe a uma paralisia misteriosa, deixando o filme inacabado, João se vê obrigada a navegar pelo caos desencadeado pela situação. Ela enfrenta perguntas sem resposta, não apenas sobre o futuro do filme, mas também sobre sua própria conexão com o espírito e a história de Liberada.
Breve comentário:
Duas Vezes João Liberada é um filme de camadas densas e complexas, no qual a cineasta Paula Tomás Marques mergulha na interseção entre história, política e representação artística. A narrativa acompanha João, atriz lisboeta, durante a filmagem de um longa sobre Liberada, figura de identidade dissidente perseguida pela Inquisição portuguesa, enquanto sonhos e visões da própria Liberada começam a invadir sua realidade, borrando a linha entre passado e presente. Conflitos com o diretor da produção revelam dilemas éticos e conceituais sobre fidelidade histórica e a representação da comunidade LGBTQIA+, transformando o set em um campo de batalha criativo e simbólico. June João se destaca como presença central e política na tela, articulando suas objeções, escolhas poéticas e preocupações éticas, questionando a forma como sua personagem é retratada e reivindicando autonomia sobre a narrativa.
O filme se afasta de soluções narrativas tradicionais, explorando experimentações estéticas e refletindo sobre os paradoxos entre criação artística e experiência humana da própria protagonista e sua retratada. Mais do que reconstruir o passado, Duas Vezes João Liberada busca transcender o tempo e confrontar preconceitos ainda persistentes, oferecendo um estudo meticuloso sobre identidade, memória e a responsabilidade de dar voz a vidas invisibilizadas. Ao final, Marques permite que as duas João — a atriz e sua inspiração histórica — assumam o controle de suas histórias, num gesto simbólico de reparação histórica e autorrepresentação, equilibrando sensibilidade, crítica e inventividade narrativa.
Onde assistir: ainda sem previsão de estreia.
6º Morte e Vida Madalena
Sinopse:
Morte e Vida Madalena conta a história de Madalena (Noá Bonoba), uma produtora de cinema tendo que lidar com a morte recente do pai, sua gravidez de 8 meses e a produção de uma ficção científica B onde tudo parece dar errado.
Breve comentário:
Guto Parente (Estranho Caminho) encontra comédia e humanidade em cada percalço: na equipe desorganizada, no abandono do diretor, nos problemas que se acumulam no set. Esse bom humor é o que sustenta o filme — um riso que brota da tensão e da persistência, celebrando o fazer cinema independente a partir de uma luta após a outra: conseguir financiamento, improvisar uma arma para uma cena, lidar com uma greve inesperada ou com os caprichos de uma equipe exausta e desmotivada. Tudo parece prestes a desabar, mas é justamente dessa precariedade que Morte e Vida Madalena extrai sua vitalidade — como na sequência em animação em que Madalena confessa o que a levou a fazer cinema. Parente transforma o caos e o sonho em energia, e a repetição do fracasso em resistência, uma forma de reafirmar que o cinema continua possível, mesmo quando tudo conspira contra ele. Leia a crítica completa clicando aqui.
Onde assistir: ainda sem previsão de estreia.
5º A Sombra do Meu Pai
Sinopse:
A Sombra do Meu Pai é um conto semi autobiográfico do diretor Akinola Davies Jr ambientado em um único dia na metrópole nigeriana de Lagos, durante a crise eleitoral de 1993. A história acompanha um pai, afastado dos dois filhos pequenos, durante uma jornada por essa enorme cidade enquanto a agitação política ameaça sua volta para casa.
Breve comentário:
Logo nos primeiros minutos, A Sombra do Meu Pai flerta com o horror. A ventania forte que balança as árvores, o som amplificado da natureza, a câmera que persegue uma presença invisível — tudo sugere uma assombração prestes a se revelar. “Nos meus sonhos eu vou te encontrar”, diz um dos irmãos, e essa promessa onírica logo ganha forma: a figura do pai, quase mítica, paira sobre os filhos como uma sombra constante — distante, mas determinante. Akinola Davies Jr., nesta obra semi autobiográfica, filma o pai (Ṣọpẹ́ Dìrísù, O Que Ficou Para Trás) como alguém que está prestes a desaparecer ou que já se foi e insiste em permanecer na memória dos filhos graças à magia do cinema.
Mas o filme não se limita a esse drama intimista sobre paternidade com ecos de terror — ainda que essencialmente o seja. Davies Jr. também faz dessa jornada uma experiência multifacetada: há o horror do colapso político da Nigéria de 1993, há o road movie pelas ruas caóticas de Lagos, há o coming of age de dois irmãos que, pela primeira vez, acompanham o pai para longe da vila onde moram e, junto dele, conhecem o peso e os perigos do mundo adulto além da própria figura paterna. A Sombra do Meu Pai é sobre um país à beira de perder a democracia e sobre o esforço de um homem comum para proteger os filhos desse abismo. É uma obra de memória e luto, mas também de ternura, que o próprio diretor apresentou na Mostra de São Paulo como “muito pessoal para mim e minha família“: um retrato assombrado e profundamente humano daquilo que permanece e o cinema permite que seja contado.
Onde assistir: ainda sem previsão de estreia.
4º A Garota Canhota
Sinopse:
Uma mãe solo e suas duas filhas voltam a Taipei após anos vivendo no interior para trabalhar em um movimentado mercado noturno da cidade. Cada uma, à sua maneira, precisa se adaptar a esse novo ambiente para conseguir sobreviver e preservar a união da família. Três gerações de segredos familiares começam a ser revelados depois que a filha mais nova, canhota, ouve de seu avô, preso a costumes tradicionais, que ela nunca deve usar sua “mão do diabo”.
Breve comentário:
A Garota Canhota, escolha de Taiwan para representar o país no Oscar 2026, é um pequeno achado — uma obra delicada e atenta às pequenas vitórias e gestos invisíveis da vida comum. Dirigido por Shih-Ching Tsou, o filme equilibra com graça o realismo social e a doçura familiar ao retratar uma mãe e suas filhas enfrentando as pressões econômicas e emocionais da vida em uma Taiwan moderna, vibrante e cheia de contrastes. A relação entre elas, marcada por fragilidade e afeto, ganha leveza sempre que a menina canhota (a encantadora Nina Yeh) está em cena.
Mais do que um retrato da infância ou um coming of age tradicional, A Garota Canhota é um duplo amadurecimento — o da irmã mais velha, obrigada a assumir responsabilidades sem ser responsável, e o da garotinha que observa tudo, curiosa e intrometida. Filmado com a ternura e o olhar humanista típicos do cinema de Sean Baker (Anora) — autor do roteiro e responsável pela montagem —, o longa confirma o surgimento de uma cineasta de sensibilidade rara, em quem vale a pena ficar de olho.
Onde assistir: 28 de novembro no catálogo da Netflix.
3º Frankenstein
Sinopse:
Victor Frankenstein (Oscar Isaac), um cientista brilhante, porém egocêntrico, dá vida a uma criatura em um experimento monstruoso que acaba levando à ruína tanto do criador quanto de sua trágica criação. Frankenstein é uma releitura do romance clássico de Mary Shelley pelo diretor Guillermo del Toro.
Breve comentário:
Nesta nova adaptação do clássico de Mary Shelley, Guillermo del Toro dá à história um romantismo gótico inconfundível, um deleite visual e emocional que reflete o carinho e o fascínio que o diretor tem pela criatura. É um filme não apenas sobre monstros, mas feito por alguém que os ama profundamente. E essa devoção se manifesta sobretudo na atuação hipnotizante de Jacob Elordi (Euphoria), que dá vida — e uma comovente humanidade — à criatura. Sua interpretação é contida e dolorosa, feita de gestos quebrados e olhares aflitos, e que merecia maior sorte na temporada de premiações. Leia a crítica completa clicando aqui.
Onde assistir: 7 de novembro no catálogo da Netflix.
2º No Other Choice
Sinopse:
Man-su (Lee Byung-hun, Round 6) vive dias felizes, até ser surpreendido pela notícia de que foi demitido. O choque é devastador, mas, ainda assim, Man-su promete a si mesmo que encontrará um novo emprego em três meses pelo bem da família. Porém, a realidade se revela bem mais complicada. Apesar da determinação, ele passa mais de um ano pulando de entrevista em entrevista e se sustentando com um trabalho no comércio. Em pouco tempo, começa a correr o risco de perder a casa pela qual tanto lutou. No desespero, aparece de surpresa na Moon Paper para entregar seu currículo, mas acaba humilhado pelo gerente de linha Sun-chul. Convencido de que é mais qualificado do que qualquer candidato para trabalhar na empresa, Man-su toma uma decisão drástica: “Se não existe uma vaga para mim, vou ter que criá-la”. No Other Choice, de Park Chan-wook (A Criada), é o candidato da Coreia do Sul ao Oscar 2026 e uma adaptação do livro “O Corte”, de Donald E. Westlake.
Breve comentário:
Com humor afiado, No Other Choice mostra até onde esse homem está disposto a ir para manter sua posição confortável na sociedade e conseguir a vaga de emprego que tanto almeja: matar seus principais concorrentes pela vaga — isso pode ser visto como um spoiler, mas o importante é a forma com que Park desenvolve tudo. As cenas de assassinato, exageradas e desastradas, remetem ao melhor do cinema sul-coreano — e também a Fargo — nessa comédia de erros que equilibra absurdo e tragédia. Cada tropeço, golpe ou embate físico reforça a sensação de caos, transformando o desespero em momentos tragicômicos e divertidos — destaque para uma sequência em que três personagens disputam uma arma enquanto a música está super alta. Leia a crítica completa clicando aqui.
Onde assistir: ainda sem previsão de estreia.
1º O Agente Secreto
Sinopse:
Em O Agente Secreto, Marcelo (Wagner Moura, Praia do Futuro) é um professor universitário, que foge para Recife para escapar de agentes governamentais que o procuram por atividades subversivas. No entanto, ao chegar na cidade, onde acredita que está seguro até conseguir fugir do país com o filho pequeno, ele descobre que está jurado de morte por um antigo desafeto.
Breve comentário:
Para quem acompanha o cinema de Kleber Mendonça Filho, não é exagero afirmar que O Agente Secreto chega como o seu filme mais ambicioso até agora. Laureado no Festival de Cannes de 2025, onde conquistou os prêmios de Melhor Direção, Melhor Ator para Wagner Moura, além do Prêmio FIPRESCI da crítica internacional e o Prix des Cinémas d’Art et Essai, concedido pela Associação Francesa de Cinemas de Arte e Ensaio, o longa é uma belíssima declaração de amor do diretor a Recife, sua cidade natal, a partir de uma recriação de época minuciosa que mistura memória, lendas urbanas e cultura popular. A cidade, mais do que cenário, torna-se protagonista: suas ruas, sons, blocos de carnaval, cinemas e edifícios históricos compõem um retrato vívido da cidade em 1977, refletindo tanto a vitalidade de sua população quanto as tensões políticas do período. Leia a crítica completa clicando aqui.
Onde assistir: em cartaz nos cinemas brasileiros a partir de 6 de novembro.
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