Em agosto, Johnny Massaro esteve nos estúdios da Rolling Stone Brasil para falar sobre Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente, série da HBO que retrata a epidemia de HIV no Brasil nos anos 1980. Na trama, o ator interpreta Fernando, comissário de bordo que contrabandeia AZT para pacientes com aids, quando o medicamento ainda não era permitido no país.
Com direção de Marcelo Gomes e Carol Minêm e roteiros de Patricia Corso e Leonardo Moreira, a série de cinco episódios, que também está disponível no catálogo da HBO Max, aborda coragem, amizade e luta pela vida. Nesta entrevista, Massaro comenta a preparação para o papel, o contato com a história real e os avanços da TV brasileira na representação de protagonistas LGBTQIA+. Confira a seguir:
A série dá voz a protagonistas LGBTQIA+, historicamente negligenciados. Qual a importância de levar essas histórias à TV brasileira hoje?
Gosto de uma frase da Marcinha Rachid, nossa consultora de aids e HIV: “A arte é um caminho seguro para transformar como as pessoas veem o mundo”. Precisamos atualizar a percepção sobre viver com HIV. Hoje, quem está em tratamento tem expectativa de vida igual ou maior que quem não vive com o vírus, e não transmite a doença. Ainda assim, cerca de 10 mil pessoas morrem por preconceito e desinformação. A série cumpre esse papel e celebra a vida.
Como você acredita que a série contribui para a reflexão sobre os direitos da comunidade LGBTQIA+ e o acesso à saúde no Brasil hoje?
A série mostra um momento em que o remédio ainda não era permitido no Brasil, e meu personagem contrabandeia essas medicações. É um contraste enorme com hoje, 40 anos depois, quando o SUS garante acesso total e gratuito para quem vive com HIV ou quer se prevenir, incluindo PrEP, PEP e até camisinha — algo único no mundo. Quero saudar esses profissionais e o Sistema Público. Muitas vezes, o medo vem do desconhecido; conhecer é deixar de temer.
Você sente que a televisão brasileira avançou na forma de representar a comunidade LGBTQIA+ desde os seus primeiros trabalhos?
Seria incoerente dizer que não. Comecei a atuar aos 12 anos, e durante muito tempo não podia falar sobre minha sexualidade por medo de perder trabalhos. Hoje, felizmente, interpreto personagens homo e heterossexuais com liberdade — e isso é motivo de celebração. Ainda há muito a avançar, tragédias acontecem e mentalidades precisam mudar. Mas também é justo reconhecer os progressos.
Como foi a preparação para interpretar o Fernando, considerando a dimensão social do HIV e a carga emocional de quem quebra leis para salvar vidas?
Essa história me afetou profundamente. Carregava preconceitos e desconhecimento sobre aids/HIV, e poder abordá-los pelo meu trabalho me ajudou a desmistificar o tema. Participei de um treinamento em cabine de voo com comissários da época. Foi um processo intenso e muito enriquecedor.
Como você se sente fazendo parte dessa homenagem ao legado de pessoas que morreram vítimas de aids e foram invisibilizadas?
É o segundo trabalho meu sobre AIDS/HIV; o primeiro foi Os Primeiros Soldados. Sempre achei essencial honrar quem veio antes, especialmente aqueles que lutaram nesse front e nos possibilitaram estar aqui hoje. Sem respeitar essas pessoas, o trabalho perde profundidade.
Como foi receber a direção da Carol e do Marcelo?
O mais importante pra mim é quem está comigo contando a história. Marcelo é um cineasta que sempre admirei, e a Carol se tornou uma parceira incrível. Trabalhar com eles foi uma honra, especialmente porque foi a primeira série do Marcelo e ele conhece intensamente aquela época. A direção deles é delicada e precisa, e o resultado confirma como conseguiram retratar a época com autenticidade e emoção.
A série também conta com um elenco de peso. Como foi contracenar com esses atores e como era a convivência nos ensaios?
O que me emociona nesse projeto é reencontrar Bruna Linzmeyer e Ícaro Silva, artistas que conheço há mais de 15 anos. Já interpretamos de tudo juntos, e aqui, nesse trabalho queer, essa parceria ganhou uma carga especial. A amizade e a confiança se refletem na tela. E o elenco todo — Hermila Guedes, Kika Sena, Verónica Valenttino — é simplesmente incrível.
Desde Os Primeiros Soldados, seu primeiro projeto após falar abertamente sobre sua sexualidade, você sente mais liberdade para escolher e interpretar papéis?
Acho que, como artista, precisamos nos comprometer com a nossa verdade — descobrir, honrar e viver o que é verdadeiro para nós. Falar livremente sobre quem somos nos torna artistas mais coerentes e consistentes. Quanto mais o tempo passa, mais dúvidas surgem, e não me coloco em gavetas como “gay” ou “bi”. Eu celebro poder falar sobre isso, porque durante muito tempo não foi possível. E mesmo assim, consigo viver personagens héteros, homo… e a vida segue.
Bom, você está com vários projetos, né? Poderia falar quais são e como você concilia tudo isso?
É muita coisa [risos]. A gente se vê num lugar que sempre sonhou estar, mas esquece de celebrar o caminho que fez pra chegar até aqui. Mesmo assim, a insegurança nunca some.
Além de Máscaras, estreia ainda este ano O Filho de Mil Homens, inspirado no livro de Walter Hugo Mãe, que amo. Acabamos de gravar Emergência Radioativa para a Netflix, baseada em fatos reais do “Césio 137” em Goiânia, deve estrear no próximo ano. Também participei de Delegado, série da CinemaScópio em Recife, com Alice Carvalho.
Johnny, para finalizar, tem algum papel ou história que você ainda sonha em contar?
Tem, com certeza. Muitas, na verdade. Estou aberto ao que vier: se a história for boa e a equipe também, bora lá. Ainda há muita história boa para ser contada.
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