Todd Snider, que ajudou a moldar o alt-country e o Americana, morre aos 59 anos

Todd Snider, cantor, compositor e contador de histórias que ajudou a moldar os movimentos de alt-country e Americana, morreu nesta sexta, 14, aos 59 anos. A Rolling Stone confirmou a morte de Snider. Nenhuma causa foi divulgada, mas, segundo relatos, ele havia sido diagnosticado com pneumonia nesta semana.
“A Aimless, Inc. Headquarters está de coração partido em compartilhar que nosso Fundador, nosso Herói Folk, nosso Poeta do Mundo, nosso Vice-Presidente do Departamento de Mudança Abrupta, o Contador de Histórias, nosso amado Todd Daniel Snider deixou este mundo”, dizia uma mensagem publicada na página de Snider no Facebook.
Nascido em Portland, Oregon, e mudando-se para o norte da Califórnia após o ensino médio, Snider vagou até o Texas nos anos 1980, onde conheceu e foi mentorado pelo compositor Jerry Jeff Walker. Nos anos 1990, migrou para Nashville, tornando-se uma figura-chave na cena áspera de East Nashville. Seu álbum de 2004, East Nashville Skyline, é considerado essencial no catálogo alt-country.
“Sempre gostei de ser um trovador. Amo o caos, essa vida de aventura — foi isso que me fisgou. Eu tinha uma predisposição para isso”, Snider disse à Rolling Stone em 2023. “Eu era um caroneiro e pessoa de circuito de sofá. Jerry Jeff me fez ver que a diferença entre um espírito livre e um aproveitador são três acordes no violão”.
Ao lado de Walker, Snider fez amizade e aprendeu com grandes nomes da composição como Billy Joe Shaver, John Prine, Jimmy Buffett, Guy Clark e Kris Kristofferson. “Ninguém nunca mereceu mais que exista um céu do que John Prine”, Snider disse à Rolling Stone em 2020, após a morte do cantor e compositor. “E se não houver um céu, eles deviam providenciar um bem rápido, porque o John tá chegando.”
A perda de cada uma dessas luzes-guia (Walker morreu seis meses depois de Prine) abalou o músico — “Hoje eu canto sobre amigos mortos mais do que sobre garotas”, ele disse no material de divulgação de seu último disco, High, Lonesome and Then Some, de 2025. Mas essas perdas também o deixaram como estandarte de um certo tipo de composição, moldada por experiências vividas — boas e ruins — e por um lirismo direto e honesto.
“Uma coisa que aprendi com John Prine é: se você não está se envergonhando, então sei lá”, Snider disse à Rolling Stone em 2014. “Você não quer ser aquele cara tentando se apresentar como um produto perfeito. Eu não sou um produto. Sabe, tipo aquelas pessoas Kathie Lee Gifford. Acabei de ver ela na TV. E se ela escrevesse um livro, aposto que seria cheio de ela nunca cometer erros”.
Snider se deleitava nos erros da vida — se ele aprendia com eles ou não, não era o ponto. “You’re gonna mix my emotions and you’re gonna tangle my net / You’re gonna make me do somethin’ / that I’m afraid I won’t regret”, ele cantou na ousada música de traição “Trouble”, de seu álbum de estreia de 1994, Songs for the Daily Planet. A favorita dos fãs “Alright Guy”, do mesmo disco, o traz admitindo falhas como fumar maconha demais e ter propensão a ser preso. “But I think I’m an alright guy”, ele rebate na letra.
Em seu livro de memórias de 2014, I Never Met a Story I Didn’t Like, Snider compartilhou abertamente muitos de seus deslizes com o mundo, provando ser tão destemido como autor quanto era como compositor. Em um dos relatos, lembrou um colapso no palco durante um show em Los Angeles; em outro, detalhou um incidente em que Jimmy Buffett, irritado pela recusa de Snider em tocar “Talkin’ Seattle Grunge Rock Blues” em seu set de abertura, o atingiu com frutas.
Essa mistura de teimosia e coragem foi o que fez Snider ser querido por fãs e colegas. Enquanto artistas como Gary Allan, Mark Chesnutt, Loretta Lynn e Tom Jones gravaram suas músicas — e ele lançou Songs for the Daily Planet (com ajuda de Buffett) pela grande gravadora MCA — Snider nunca abandonou suas raízes independentes. Ele lançou uma sequência de álbuns pelo selo indie de Prine, Oh Boy Records, começando com Happy to Be Here em 2000 e culminando na obra-prima East Nashville Skyline de 2004. Este último continha uma das marcas registradas de Snider, “Play a Train Song”, que Robert Earl Keen gravou em 2011.
Em 2008, Snider fundou seu próprio selo, Aimless Records, e lançou o EP Peace Queer, uma coleção de canções politicamente afiadas. Em 2012, prestou tributo a Walker com um álbum de suas músicas e, no mesmo ano, examinou sem rodeios a vida em uma América de “quem tem” e “quem não tem” com Agnostic Hymns and Stoner Fables.
Snider excursionou sem parar, tanto sozinho quanto como parte do seu projeto paralelo Hard Working Americans, com Dave Schools, do Widespread Panic, e o falecido guitarrista Neal Casal. Na estrada, entretinha plateias com seu humor seco e seu vasto repertório de histórias. Em um show, encontrou-se tocando com seu amigo, o comediante Richard Lewis, que abriu a noite e depois ficou rindo dele do balcão quando o público começou a sair antes do set de Snider. Ele não se importou. “Se você sabe tocar e cantar, pode ir a qualquer lugar que quiser e não precisa de dinheiro”, Snider disse certa vez à RS.
Mas os rigores da estrada cobraram seu preço, e Snider desenvolveu problemas debilitantes nas costas, que ele medicava com pílulas. Diversas batalhas contra o vício em drogas e passagens por reabilitação marcaram sua carreira. Ainda assim, Snider seguiu firme com a música, fazendo shows por livestream durante a pandemia a partir de seu estúdio/clube, o Purple Building, em East Nashville, e lançando discos tardios como First Agnostic Church of Hope and Wonder (2021) e Crank It, We’re Doomed (2023). Em 2025, lançou High, Lonesome and Then Some, um álbum de números arrastados e bluesy, com títulos como “Unforgivable (Worst Story Ever Told)”.
Apesar da dor crônica, Snider, eterno andarilho da estrada, estava determinado a excursionar com o álbum. “Quero pelo menos fazer isso mais uma vez”, disse. Logo após o início da turnê, no entanto, ela foi cancelada depois que Snider se envolveu em um incidente nebuloso em Salt Lake City, Utah, que o levou à prisão.
“É tudo dor no coração”, Snider disse à Rolling Stone em outubro de 2025, dando uma amostra das lutas emocionais e físicas que enfrentava. “Eu não diria que estou melhor, e não acho que vou melhorar, mas a última década foi difícil na minha vida pessoal”, disse. “Nos últimos anos, ficou mais difícil, e eu me senti como o título [High, Lonesome and Then Some]. Fiquei aqui sozinho e tive, tipo, uma noite escura da alma”.
“Como seguimos em frente sem aquele que nos deu incontáveis distrações de 90 minutos do nosso fim iminente?”, dizia a mensagem anunciando a morte de Snider. “Aquele que sempre tinha 18 minutos para contar uma história. Vamos seguir carregando suas histórias e canções que contêm mensagens de amor, compaixão e paz. Hoje, coloque um dos seus discos favoritos de Todd Snider e ‘toque alto o suficiente para acordar todos os seus vizinhos — ou pelo menos alto o suficiente para sempre acordar a si’”.
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A história do teste de Bruce Dickinson para o Iron Maiden, narrada pelo cantor

Muita movimentação no palco, correria para cima e para baixo, entrega absoluta e performance vocal irretocável. Assim ficou conhecida a postura de Bruce Dickinson nos shows com o Iron Maiden. Uma tradição que, na medida do possível, o vocalista tenta manter até hoje.
Lá no início, porém, antes mesmo dele entrar para o grupo, as coisas são começaram de forma tão calorosa. Segundo o próprio Bruce relata, seu teste na Donzela de Ferro iniciou de forma fria e até meio apática, dado o ânimo dos demais integrantes.
Em entrevista à Classic Rock (via Guitar.com), o cantor relembrou desse momento em 1981 e de como precisou “quebrar o gelo” na sala de ensaio do Maiden:
“Foi estranho… Cheguei lá e o Steve (Harris) não estava, ele ainda não tinha chegado, mas todos os outros estavam. E eu olhei em volta e todo mundo estava… infeliz.”
A solução foi começar a tocar alguma coisa para tentar entrosar. Bruce recorda:
“Todo mundo estava para baixo. E eu pensei: ‘Isso vai ser difícil…’ Mas começamos a tocar algumas músicas que conhecíamos e descobrimos que todos nós sabíamos metade de todas as músicas de rock do planeta. Tocamos um pouco de AC/DC, um pouco de Deep Purple – ‘Woman From Tokyo’ e depois ‘Black Night’ – e por aí vai. E de repente estávamos todos sorrindo e nos divertindo.”
Bruce Dickinson, o cara certo
Foi então que o “chefão” Steve Harris se fez presente e eles passaram a ensaiar as músicas da banda. A partir daí, estava claro que Bruce Dickinson era o homem certo para o posto. Pouco depois ele entrou oficialmente no Iron Maiden, após Paul Di’Anno cumprir os últimos compromissos e ser demitido.
Bruce relata:
“O Steve chegou. Certo, vamos tentar tocar algumas músicas do Iron Maiden. Tocamos três ou quatro músicas do Maiden, mas eu já as conhecia todas. Clive tinha sido baterista do Samson, então foi muito natural. Mas aí tive que esperar duas semanas para que eles pudessem lidar com o Paul depois dos últimos shows na Escandinávia.”
O primeiro disco de Bruce Dickison com o Iron Maiden foi The Number of the Beast, lançado em 1982. O álbum chegou ao topo das paradas no Reino Unido, provando que a escolha pelo novo vocalista havia sido um acerto.
Rolling Stone Brasil especial: Iron Maiden
Iron Maiden na capa: a Rolling Stone Brasil lançou uma edição de colecionador inédita para os fãs da banda de heavy metal. Os maiores álbuns, a lista dos shows no Brasil, o poder do merchadising do grupo e até um tour pelo avião da banda você confere no especial impresso, à venda na Loja Perfil.

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Quando estreia o 10º e último episódio da 3ª temporada de ‘Tulsa King’?

A terceira temporada de Tulsa King, série do Paramount+ criada por Taylor Sheridan, com Sylvester Stallone (Rocky, um Lutador), já está disponível na plataforma de streaming, com novos episódios lançados semanalmente. Mas quando estreia o décimo e último capítulo do novo ano?
Qual é a história de Tulsa King?
Em Tulsa King, assim que é libertado da prisão após quase trinta anos, Dwight (Stallone) é exilado sem cerimônia por seu chefe para manter um estabelecimento em Tulsa, Oklahoma. Percebendo que sua família mafiosa pode não ter seus melhores interesses em mente, Dwight lentamente constrói uma equipe de um grupo de personagens improváveis para ajudá-lo a estabelecer um novo império do crime.
Tulsa King conta com Andrea Savage (Episodes), Martin Starr (Party Down), Chris Caldovino (Boardwalk Empire), Dashiell Connery (Animal Kingdom), Tatiana Zappardino (O Consultor), Neal McDonough, de Justified e Arrow, Jay Will (Maravilhosa Sra. Maisel), Max Casella (The Good Fight), Vincent Piazza (Jersey Boys: Em Busca da Música), Neal McDonough (Capitão América: O Primeiro Vingador) e Garrett Hedlund (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi).
Frank Grillo, de Capitão América 2: O Soldado Invernal, interpreta Bill Bevilaqua, um mafioso de Kansas City, que tem interesses em Tulsa. Na 3ª temporada, os atores Robert Patrick (Pacificador) e Beau Knapp, conhecido por papéis em SEAL Team e FBI: International, também se juntam a Stallone. Samuel L. Jackson (Django Livre) completa as novidades.
Que horas estreia o próximo episódio da 3ª temporada de Tulsa King?
Os episódios da terceira temporada de Tulsa King são lançados sempre aos domingos no Paramount+. O décimo e último capítulo fica disponível, portanto, no próximo dia 23 de novembro, a partir das 5h (horário de Brasília). Assista ao trailer da 3ª temporada da série:
LEIA TAMBÉM: Que horas estreia a 2ª temporada de ‘Landman’, com Billy Bob Thornton?
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Quando estreia o 10º e último episódio da 3ª temporada de ‘Tulsa King’?

A terceira temporada de Tulsa King, série do Paramount+ criada por Taylor Sheridan, com Sylvester Stallone (Rocky, um Lutador), já está disponível na plataforma de streaming, com novos episódios lançados semanalmente. Mas quando estreia o décimo e último capítulo do novo ano?
Qual é a história de Tulsa King?
Em Tulsa King, assim que é libertado da prisão após quase trinta anos, Dwight (Stallone) é exilado sem cerimônia por seu chefe para manter um estabelecimento em Tulsa, Oklahoma. Percebendo que sua família mafiosa pode não ter seus melhores interesses em mente, Dwight lentamente constrói uma equipe de um grupo de personagens improváveis para ajudá-lo a estabelecer um novo império do crime.
Tulsa King conta com Andrea Savage (Episodes), Martin Starr (Party Down), Chris Caldovino (Boardwalk Empire), Dashiell Connery (Animal Kingdom), Tatiana Zappardino (O Consultor), Neal McDonough, de Justified e Arrow, Jay Will (Maravilhosa Sra. Maisel), Max Casella (The Good Fight), Vincent Piazza (Jersey Boys: Em Busca da Música), Neal McDonough (Capitão América: O Primeiro Vingador) e Garrett Hedlund (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi).
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Que horas estreia o próximo episódio da 3ª temporada de Tulsa King?
Os episódios da terceira temporada de Tulsa King são lançados sempre aos domingos no Paramount+. O décimo e último capítulo fica disponível, portanto, no próximo dia 23 de novembro, a partir das 5h (horário de Brasília). Assista ao trailer da 3ª temporada da série:
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Quando estreia o 10º e último episódio da 3ª temporada de ‘Tulsa King’?

A terceira temporada de Tulsa King, série do Paramount+ criada por Taylor Sheridan, com Sylvester Stallone (Rocky, um Lutador), já está disponível na plataforma de streaming, com novos episódios lançados semanalmente. Mas quando estreia o décimo e último capítulo do novo ano?
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Em Tulsa King, assim que é libertado da prisão após quase trinta anos, Dwight (Stallone) é exilado sem cerimônia por seu chefe para manter um estabelecimento em Tulsa, Oklahoma. Percebendo que sua família mafiosa pode não ter seus melhores interesses em mente, Dwight lentamente constrói uma equipe de um grupo de personagens improváveis para ajudá-lo a estabelecer um novo império do crime.
Tulsa King conta com Andrea Savage (Episodes), Martin Starr (Party Down), Chris Caldovino (Boardwalk Empire), Dashiell Connery (Animal Kingdom), Tatiana Zappardino (O Consultor), Neal McDonough, de Justified e Arrow, Jay Will (Maravilhosa Sra. Maisel), Max Casella (The Good Fight), Vincent Piazza (Jersey Boys: Em Busca da Música), Neal McDonough (Capitão América: O Primeiro Vingador) e Garrett Hedlund (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi).
Frank Grillo, de Capitão América 2: O Soldado Invernal, interpreta Bill Bevilaqua, um mafioso de Kansas City, que tem interesses em Tulsa. Na 3ª temporada, os atores Robert Patrick (Pacificador) e Beau Knapp, conhecido por papéis em SEAL Team e FBI: International, também se juntam a Stallone. Samuel L. Jackson (Django Livre) completa as novidades.
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Que diabos está acontecendo em ‘Para Sempre Minha’?

Uma mulher em perigo, uma cabana na floresta, uma força maligna à espreita nas sombras — esses são os elementos mais reconhecíveis do horror moderno, subgênero que se baseia em viagens de fim de semana que se transformam em massacres. Para Sempre Minha (no inglês, Keeper), de Osgood Perkins, quer adicionar algumas novidades a essa velha fórmula. Que tal: um bolo? Um primo babaca? Imagens aleatórias de água? Uma montagem de várias mulheres ao longo dos tempos, que ficam cada vez mais irritadas até que imagens de seus rostos ensanguentados passem num piscar de olhos? Uma pessoa com um saco plástico na cabeça, fazendo aquele gesto de coração com os dedos? Uns garotos com mosquetes, típicos da América antiga? Já mencionamos que tem bolo?
Perkins começou como cineasta com uma compreensão sólida do que causa arrepios na psique e um gosto refinado de fã — tanto A Enviada do Mal (2015) quanto A Bela Criatura Que Mora Nesta Casa (2016) exploraram elementos góticos e presenças fantasmagóricas de uma forma que parecia familiar, mas, ao mesmo tempo, inovadora. Ele agora se tornou o mestre do macabro da Neon, produzindo prolificamente três filmes em menos de dois anos (e outro a caminho). Seu thriller sobre um serial killer, Longlegs – Vínculo Mortal (2024), é o filme mais lucrativo da empresa até hoje, e O Macaco (2025) transforma um conto de Stephen King em uma espécie de festival de sangue e comédia pastelão. Perkins faz coletâneas de filmes de terror alternativos, reunindo diversas convenções e deixando-as colidir umas com as outras. Os resultados são definitivamente familiares. Quanto a serem “inovadores”, bem…
Para Sempre Minha mantém essa tradição, aplicando a atmosfera enigmática e assustadora de pesadelo característica do cineasta a uma premissa simples, adicionando uma série de elementos díspares, juntamente com uma boa dose de confusão. Ou talvez seja “ambiguidade” — você decide, leitor.
Liz (Tatiana Maslany) e Malcolm (Rossif Sutherland) namoram há um ano. Ele planejou uma viagem para a casa de campo da família, situada ao lado de um rio em meio à floresta. À primeira vista, o relacionamento parece sólido, embora a melhor amiga de Liz ainda a questione constantemente sobre o namoro. Eles já falaram sobre filhos? Ele está escondendo alguma coisa? O que é aquele cardigã bege que ele te deu de presente? Quem compra roupa bege para alguém?!
Assim que o casal chega a essa cabana pitoresca na floresta, Malcolm começa a agir de forma muito estranha. Há um bolo misterioso em uma caixa manchada, que ele alega ser um presente do zelador do local. Além disso, ele parece ter convenientemente esquecido de mencionar que seu primo babaca (Burkett Turton) mora na casa de hóspedes bem em frente. Quando o tal babaca aparece inesperadamente tarde da noite, acompanhado de uma modelo do Leste Europeu (Eden Weiss), o sujeito rapidamente leva Malcolm para uma conversa particular e depois vai embora. Mas não antes de sua acompanhante da noite mencionar de passagem que o bolo “tem gosto de merda”. Hum.
Depois que eles saem, Malcolm começa a insistir para que Liz coma um pedaço de bolo. Liz não quer bolo. “Coma só um pedacinho”, ele insiste. É de chocolate, e Liz não gosta de chocolate. “Mas é um bolo gostoso”, Malcolm reclama. (Vale ressaltar que esse namorado é um reclamão de primeira, além de ser um namorado inseguro e possessivo, com o ego facilmente ferido e que parece estar reprimido. Parabéns a Sutherland por interpretar tão bem essas camadas.) “Não, obrigada”, diz Liz. “Por favor, coma o bolo”, responde Malcolm, levando um pedaço da sobremesa úmida bem perto dos lábios de Liz. Finalmente, ela dá uma mordida no bolo. Ela realmente quer ser uma boa parceira. Preste atenção e você poderá escutar Malcolm suspirando de alívio.
Quer dizer, tudo isso é totalmente normal e tranquilo, né? Nada com que se preocupar. O mesmo vale para o fato de que nenhuma das portas da casa tranca, exceto a do banheiro. Ou que um coração misteriosamente aparece desenhado no vapor atrás da cabeça da Liz quando ela toma banho, e não tem mais ninguém lá. Ou que, no dia seguinte, Malcolm — que é médico — de repente precisa ir embora porque um paciente está, hum, em coma e, olha, ele simplesmente precisa ir! O que significa que Liz fica sozinha em uma casa onde sombras ocasionalmente parecem se mover pelas paredes por conta própria. Você já deve imaginar onde isso vai dar.
Ou será que não? Será que alguém, incluindo os criadores desta combinação inegavelmente atmosférica de terror sobrenatural, elementos diversos de folclore, travessuras de filme de terror, alusões vagas à política de gênero e exploração descarada de bolos, imagina? Perkins se especializa em evocar uma sensação geral de pavor e criar imagens alucinatórias que funcionam melhor como condutores livres de medo do que, digamos, como peças de um quebra-cabeça para compor um quadro maior. Você passa boa parte de Para Sempre Minha formulando teorias sobre o que está acontecendo, analisando cuidadosamente as pistas na esperança de encontrar possíveis respostas. No entanto, quando tudo é revelado, você deseja ter voltado àquela ignorância anterior que agora parece um estado de êxtase.
Dizer que Tatiana Maslany é um trunfo aqui é óbvio, visto que ela já salvou alguns projetos do desastre total. Este é o tipo de papel que nem sempre permite sutilezas ou nuances, e a atriz canadense sabe exatamente como interpretar alguém que tenta apaziguar potenciais predadores sem ceder, ou deixar o público ver seu terror enquanto o esconde dos aterrorizantes ao redor. Ela é realmente uma escolha valiosa. Quanto ao filme em si? Ainda não há consenso.
+++ LEIA MAIS: Diretor de Longlegs quer comandar novo filme de O Massacre da Serra Elétrica
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Uma mulher em perigo, uma cabana na floresta, uma força maligna à espreita nas sombras — esses são os elementos mais reconhecíveis do horror moderno, subgênero que se baseia em viagens de fim de semana que se transformam em massacres. Para Sempre Minha (no inglês, Keeper), de Osgood Perkins, quer adicionar algumas novidades a essa velha fórmula. Que tal: um bolo? Um primo babaca? Imagens aleatórias de água? Uma montagem de várias mulheres ao longo dos tempos, que ficam cada vez mais irritadas até que imagens de seus rostos ensanguentados passem num piscar de olhos? Uma pessoa com um saco plástico na cabeça, fazendo aquele gesto de coração com os dedos? Uns garotos com mosquetes, típicos da América antiga? Já mencionamos que tem bolo?
Perkins começou como cineasta com uma compreensão sólida do que causa arrepios na psique e um gosto refinado de fã — tanto A Enviada do Mal (2015) quanto A Bela Criatura Que Mora Nesta Casa (2016) exploraram elementos góticos e presenças fantasmagóricas de uma forma que parecia familiar, mas, ao mesmo tempo, inovadora. Ele agora se tornou o mestre do macabro da Neon, produzindo prolificamente três filmes em menos de dois anos (e outro a caminho). Seu thriller sobre um serial killer, Longlegs – Vínculo Mortal (2024), é o filme mais lucrativo da empresa até hoje, e O Macaco (2025) transforma um conto de Stephen King em uma espécie de festival de sangue e comédia pastelão. Perkins faz coletâneas de filmes de terror alternativos, reunindo diversas convenções e deixando-as colidir umas com as outras. Os resultados são definitivamente familiares. Quanto a serem “inovadores”, bem…
Para Sempre Minha mantém essa tradição, aplicando a atmosfera enigmática e assustadora de pesadelo característica do cineasta a uma premissa simples, adicionando uma série de elementos díspares, juntamente com uma boa dose de confusão. Ou talvez seja “ambiguidade” — você decide, leitor.
Liz (Tatiana Maslany) e Malcolm (Rossif Sutherland) namoram há um ano. Ele planejou uma viagem para a casa de campo da família, situada ao lado de um rio em meio à floresta. À primeira vista, o relacionamento parece sólido, embora a melhor amiga de Liz ainda a questione constantemente sobre o namoro. Eles já falaram sobre filhos? Ele está escondendo alguma coisa? O que é aquele cardigã bege que ele te deu de presente? Quem compra roupa bege para alguém?!
Assim que o casal chega a essa cabana pitoresca na floresta, Malcolm começa a agir de forma muito estranha. Há um bolo misterioso em uma caixa manchada, que ele alega ser um presente do zelador do local. Além disso, ele parece ter convenientemente esquecido de mencionar que seu primo babaca (Burkett Turton) mora na casa de hóspedes bem em frente. Quando o tal babaca aparece inesperadamente tarde da noite, acompanhado de uma modelo do Leste Europeu (Eden Weiss), o sujeito rapidamente leva Malcolm para uma conversa particular e depois vai embora. Mas não antes de sua acompanhante da noite mencionar de passagem que o bolo “tem gosto de merda”. Hum.
Depois que eles saem, Malcolm começa a insistir para que Liz coma um pedaço de bolo. Liz não quer bolo. “Coma só um pedacinho”, ele insiste. É de chocolate, e Liz não gosta de chocolate. “Mas é um bolo gostoso”, Malcolm reclama. (Vale ressaltar que esse namorado é um reclamão de primeira, além de ser um namorado inseguro e possessivo, com o ego facilmente ferido e que parece estar reprimido. Parabéns a Sutherland por interpretar tão bem essas camadas.) “Não, obrigada”, diz Liz. “Por favor, coma o bolo”, responde Malcolm, levando um pedaço da sobremesa úmida bem perto dos lábios de Liz. Finalmente, ela dá uma mordida no bolo. Ela realmente quer ser uma boa parceira. Preste atenção e você poderá escutar Malcolm suspirando de alívio.
Quer dizer, tudo isso é totalmente normal e tranquilo, né? Nada com que se preocupar. O mesmo vale para o fato de que nenhuma das portas da casa tranca, exceto a do banheiro. Ou que um coração misteriosamente aparece desenhado no vapor atrás da cabeça da Liz quando ela toma banho, e não tem mais ninguém lá. Ou que, no dia seguinte, Malcolm — que é médico — de repente precisa ir embora porque um paciente está, hum, em coma e, olha, ele simplesmente precisa ir! O que significa que Liz fica sozinha em uma casa onde sombras ocasionalmente parecem se mover pelas paredes por conta própria. Você já deve imaginar onde isso vai dar.
Ou será que não? Será que alguém, incluindo os criadores desta combinação inegavelmente atmosférica de terror sobrenatural, elementos diversos de folclore, travessuras de filme de terror, alusões vagas à política de gênero e exploração descarada de bolos, imagina? Perkins se especializa em evocar uma sensação geral de pavor e criar imagens alucinatórias que funcionam melhor como condutores livres de medo do que, digamos, como peças de um quebra-cabeça para compor um quadro maior. Você passa boa parte de Para Sempre Minha formulando teorias sobre o que está acontecendo, analisando cuidadosamente as pistas na esperança de encontrar possíveis respostas. No entanto, quando tudo é revelado, você deseja ter voltado àquela ignorância anterior que agora parece um estado de êxtase.
Dizer que Tatiana Maslany é um trunfo aqui é óbvio, visto que ela já salvou alguns projetos do desastre total. Este é o tipo de papel que nem sempre permite sutilezas ou nuances, e a atriz canadense sabe exatamente como interpretar alguém que tenta apaziguar potenciais predadores sem ceder, ou deixar o público ver seu terror enquanto o esconde dos aterrorizantes ao redor. Ela é realmente uma escolha valiosa. Quanto ao filme em si? Ainda não há consenso.
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Uma mulher em perigo, uma cabana na floresta, uma força maligna à espreita nas sombras — esses são os elementos mais reconhecíveis do horror moderno, subgênero que se baseia em viagens de fim de semana que se transformam em massacres. Para Sempre Minha (no inglês, Keeper), de Osgood Perkins, quer adicionar algumas novidades a essa velha fórmula. Que tal: um bolo? Um primo babaca? Imagens aleatórias de água? Uma montagem de várias mulheres ao longo dos tempos, que ficam cada vez mais irritadas até que imagens de seus rostos ensanguentados passem num piscar de olhos? Uma pessoa com um saco plástico na cabeça, fazendo aquele gesto de coração com os dedos? Uns garotos com mosquetes, típicos da América antiga? Já mencionamos que tem bolo?
Perkins começou como cineasta com uma compreensão sólida do que causa arrepios na psique e um gosto refinado de fã — tanto A Enviada do Mal (2015) quanto A Bela Criatura Que Mora Nesta Casa (2016) exploraram elementos góticos e presenças fantasmagóricas de uma forma que parecia familiar, mas, ao mesmo tempo, inovadora. Ele agora se tornou o mestre do macabro da Neon, produzindo prolificamente três filmes em menos de dois anos (e outro a caminho). Seu thriller sobre um serial killer, Longlegs – Vínculo Mortal (2024), é o filme mais lucrativo da empresa até hoje, e O Macaco (2025) transforma um conto de Stephen King em uma espécie de festival de sangue e comédia pastelão. Perkins faz coletâneas de filmes de terror alternativos, reunindo diversas convenções e deixando-as colidir umas com as outras. Os resultados são definitivamente familiares. Quanto a serem “inovadores”, bem…
Para Sempre Minha mantém essa tradição, aplicando a atmosfera enigmática e assustadora de pesadelo característica do cineasta a uma premissa simples, adicionando uma série de elementos díspares, juntamente com uma boa dose de confusão. Ou talvez seja “ambiguidade” — você decide, leitor.
Liz (Tatiana Maslany) e Malcolm (Rossif Sutherland) namoram há um ano. Ele planejou uma viagem para a casa de campo da família, situada ao lado de um rio em meio à floresta. À primeira vista, o relacionamento parece sólido, embora a melhor amiga de Liz ainda a questione constantemente sobre o namoro. Eles já falaram sobre filhos? Ele está escondendo alguma coisa? O que é aquele cardigã bege que ele te deu de presente? Quem compra roupa bege para alguém?!
Assim que o casal chega a essa cabana pitoresca na floresta, Malcolm começa a agir de forma muito estranha. Há um bolo misterioso em uma caixa manchada, que ele alega ser um presente do zelador do local. Além disso, ele parece ter convenientemente esquecido de mencionar que seu primo babaca (Burkett Turton) mora na casa de hóspedes bem em frente. Quando o tal babaca aparece inesperadamente tarde da noite, acompanhado de uma modelo do Leste Europeu (Eden Weiss), o sujeito rapidamente leva Malcolm para uma conversa particular e depois vai embora. Mas não antes de sua acompanhante da noite mencionar de passagem que o bolo “tem gosto de merda”. Hum.
Depois que eles saem, Malcolm começa a insistir para que Liz coma um pedaço de bolo. Liz não quer bolo. “Coma só um pedacinho”, ele insiste. É de chocolate, e Liz não gosta de chocolate. “Mas é um bolo gostoso”, Malcolm reclama. (Vale ressaltar que esse namorado é um reclamão de primeira, além de ser um namorado inseguro e possessivo, com o ego facilmente ferido e que parece estar reprimido. Parabéns a Sutherland por interpretar tão bem essas camadas.) “Não, obrigada”, diz Liz. “Por favor, coma o bolo”, responde Malcolm, levando um pedaço da sobremesa úmida bem perto dos lábios de Liz. Finalmente, ela dá uma mordida no bolo. Ela realmente quer ser uma boa parceira. Preste atenção e você poderá escutar Malcolm suspirando de alívio.
Quer dizer, tudo isso é totalmente normal e tranquilo, né? Nada com que se preocupar. O mesmo vale para o fato de que nenhuma das portas da casa tranca, exceto a do banheiro. Ou que um coração misteriosamente aparece desenhado no vapor atrás da cabeça da Liz quando ela toma banho, e não tem mais ninguém lá. Ou que, no dia seguinte, Malcolm — que é médico — de repente precisa ir embora porque um paciente está, hum, em coma e, olha, ele simplesmente precisa ir! O que significa que Liz fica sozinha em uma casa onde sombras ocasionalmente parecem se mover pelas paredes por conta própria. Você já deve imaginar onde isso vai dar.
Ou será que não? Será que alguém, incluindo os criadores desta combinação inegavelmente atmosférica de terror sobrenatural, elementos diversos de folclore, travessuras de filme de terror, alusões vagas à política de gênero e exploração descarada de bolos, imagina? Perkins se especializa em evocar uma sensação geral de pavor e criar imagens alucinatórias que funcionam melhor como condutores livres de medo do que, digamos, como peças de um quebra-cabeça para compor um quadro maior. Você passa boa parte de Para Sempre Minha formulando teorias sobre o que está acontecendo, analisando cuidadosamente as pistas na esperança de encontrar possíveis respostas. No entanto, quando tudo é revelado, você deseja ter voltado àquela ignorância anterior que agora parece um estado de êxtase.
Dizer que Tatiana Maslany é um trunfo aqui é óbvio, visto que ela já salvou alguns projetos do desastre total. Este é o tipo de papel que nem sempre permite sutilezas ou nuances, e a atriz canadense sabe exatamente como interpretar alguém que tenta apaziguar potenciais predadores sem ceder, ou deixar o público ver seu terror enquanto o esconde dos aterrorizantes ao redor. Ela é realmente uma escolha valiosa. Quanto ao filme em si? Ainda não há consenso.
+++ LEIA MAIS: Diretor de Longlegs quer comandar novo filme de O Massacre da Serra Elétrica
O post Que diabos está acontecendo em ‘Para Sempre Minha’? apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.
Que diabos está acontecendo em ‘Para Sempre Minha’?

Uma mulher em perigo, uma cabana na floresta, uma força maligna à espreita nas sombras — esses são os elementos mais reconhecíveis do horror moderno, subgênero que se baseia em viagens de fim de semana que se transformam em massacres. Para Sempre Minha (no inglês, Keeper), de Osgood Perkins, quer adicionar algumas novidades a essa velha fórmula. Que tal: um bolo? Um primo babaca? Imagens aleatórias de água? Uma montagem de várias mulheres ao longo dos tempos, que ficam cada vez mais irritadas até que imagens de seus rostos ensanguentados passem num piscar de olhos? Uma pessoa com um saco plástico na cabeça, fazendo aquele gesto de coração com os dedos? Uns garotos com mosquetes, típicos da América antiga? Já mencionamos que tem bolo?
Perkins começou como cineasta com uma compreensão sólida do que causa arrepios na psique e um gosto refinado de fã — tanto A Enviada do Mal (2015) quanto A Bela Criatura Que Mora Nesta Casa (2016) exploraram elementos góticos e presenças fantasmagóricas de uma forma que parecia familiar, mas, ao mesmo tempo, inovadora. Ele agora se tornou o mestre do macabro da Neon, produzindo prolificamente três filmes em menos de dois anos (e outro a caminho). Seu thriller sobre um serial killer, Longlegs – Vínculo Mortal (2024), é o filme mais lucrativo da empresa até hoje, e O Macaco (2025) transforma um conto de Stephen King em uma espécie de festival de sangue e comédia pastelão. Perkins faz coletâneas de filmes de terror alternativos, reunindo diversas convenções e deixando-as colidir umas com as outras. Os resultados são definitivamente familiares. Quanto a serem “inovadores”, bem…
Para Sempre Minha mantém essa tradição, aplicando a atmosfera enigmática e assustadora de pesadelo característica do cineasta a uma premissa simples, adicionando uma série de elementos díspares, juntamente com uma boa dose de confusão. Ou talvez seja “ambiguidade” — você decide, leitor.
Liz (Tatiana Maslany) e Malcolm (Rossif Sutherland) namoram há um ano. Ele planejou uma viagem para a casa de campo da família, situada ao lado de um rio em meio à floresta. À primeira vista, o relacionamento parece sólido, embora a melhor amiga de Liz ainda a questione constantemente sobre o namoro. Eles já falaram sobre filhos? Ele está escondendo alguma coisa? O que é aquele cardigã bege que ele te deu de presente? Quem compra roupa bege para alguém?!
Assim que o casal chega a essa cabana pitoresca na floresta, Malcolm começa a agir de forma muito estranha. Há um bolo misterioso em uma caixa manchada, que ele alega ser um presente do zelador do local. Além disso, ele parece ter convenientemente esquecido de mencionar que seu primo babaca (Burkett Turton) mora na casa de hóspedes bem em frente. Quando o tal babaca aparece inesperadamente tarde da noite, acompanhado de uma modelo do Leste Europeu (Eden Weiss), o sujeito rapidamente leva Malcolm para uma conversa particular e depois vai embora. Mas não antes de sua acompanhante da noite mencionar de passagem que o bolo “tem gosto de merda”. Hum.
Depois que eles saem, Malcolm começa a insistir para que Liz coma um pedaço de bolo. Liz não quer bolo. “Coma só um pedacinho”, ele insiste. É de chocolate, e Liz não gosta de chocolate. “Mas é um bolo gostoso”, Malcolm reclama. (Vale ressaltar que esse namorado é um reclamão de primeira, além de ser um namorado inseguro e possessivo, com o ego facilmente ferido e que parece estar reprimido. Parabéns a Sutherland por interpretar tão bem essas camadas.) “Não, obrigada”, diz Liz. “Por favor, coma o bolo”, responde Malcolm, levando um pedaço da sobremesa úmida bem perto dos lábios de Liz. Finalmente, ela dá uma mordida no bolo. Ela realmente quer ser uma boa parceira. Preste atenção e você poderá escutar Malcolm suspirando de alívio.
Quer dizer, tudo isso é totalmente normal e tranquilo, né? Nada com que se preocupar. O mesmo vale para o fato de que nenhuma das portas da casa tranca, exceto a do banheiro. Ou que um coração misteriosamente aparece desenhado no vapor atrás da cabeça da Liz quando ela toma banho, e não tem mais ninguém lá. Ou que, no dia seguinte, Malcolm — que é médico — de repente precisa ir embora porque um paciente está, hum, em coma e, olha, ele simplesmente precisa ir! O que significa que Liz fica sozinha em uma casa onde sombras ocasionalmente parecem se mover pelas paredes por conta própria. Você já deve imaginar onde isso vai dar.
Ou será que não? Será que alguém, incluindo os criadores desta combinação inegavelmente atmosférica de terror sobrenatural, elementos diversos de folclore, travessuras de filme de terror, alusões vagas à política de gênero e exploração descarada de bolos, imagina? Perkins se especializa em evocar uma sensação geral de pavor e criar imagens alucinatórias que funcionam melhor como condutores livres de medo do que, digamos, como peças de um quebra-cabeça para compor um quadro maior. Você passa boa parte de Para Sempre Minha formulando teorias sobre o que está acontecendo, analisando cuidadosamente as pistas na esperança de encontrar possíveis respostas. No entanto, quando tudo é revelado, você deseja ter voltado àquela ignorância anterior que agora parece um estado de êxtase.
Dizer que Tatiana Maslany é um trunfo aqui é óbvio, visto que ela já salvou alguns projetos do desastre total. Este é o tipo de papel que nem sempre permite sutilezas ou nuances, e a atriz canadense sabe exatamente como interpretar alguém que tenta apaziguar potenciais predadores sem ceder, ou deixar o público ver seu terror enquanto o esconde dos aterrorizantes ao redor. Ela é realmente uma escolha valiosa. Quanto ao filme em si? Ainda não há consenso.
+++ LEIA MAIS: Diretor de Longlegs quer comandar novo filme de O Massacre da Serra Elétrica
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Que diabos está acontecendo em ‘Para Sempre Minha’?

Uma mulher em perigo, uma cabana na floresta, uma força maligna à espreita nas sombras — esses são os elementos mais reconhecíveis do horror moderno, subgênero que se baseia em viagens de fim de semana que se transformam em massacres. Para Sempre Minha (no inglês, Keeper), de Osgood Perkins, quer adicionar algumas novidades a essa velha fórmula. Que tal: um bolo? Um primo babaca? Imagens aleatórias de água? Uma montagem de várias mulheres ao longo dos tempos, que ficam cada vez mais irritadas até que imagens de seus rostos ensanguentados passem num piscar de olhos? Uma pessoa com um saco plástico na cabeça, fazendo aquele gesto de coração com os dedos? Uns garotos com mosquetes, típicos da América antiga? Já mencionamos que tem bolo?
Perkins começou como cineasta com uma compreensão sólida do que causa arrepios na psique e um gosto refinado de fã — tanto A Enviada do Mal (2015) quanto A Bela Criatura Que Mora Nesta Casa (2016) exploraram elementos góticos e presenças fantasmagóricas de uma forma que parecia familiar, mas, ao mesmo tempo, inovadora. Ele agora se tornou o mestre do macabro da Neon, produzindo prolificamente três filmes em menos de dois anos (e outro a caminho). Seu thriller sobre um serial killer, Longlegs – Vínculo Mortal (2024), é o filme mais lucrativo da empresa até hoje, e O Macaco (2025) transforma um conto de Stephen King em uma espécie de festival de sangue e comédia pastelão. Perkins faz coletâneas de filmes de terror alternativos, reunindo diversas convenções e deixando-as colidir umas com as outras. Os resultados são definitivamente familiares. Quanto a serem “inovadores”, bem…
Para Sempre Minha mantém essa tradição, aplicando a atmosfera enigmática e assustadora de pesadelo característica do cineasta a uma premissa simples, adicionando uma série de elementos díspares, juntamente com uma boa dose de confusão. Ou talvez seja “ambiguidade” — você decide, leitor.
Liz (Tatiana Maslany) e Malcolm (Rossif Sutherland) namoram há um ano. Ele planejou uma viagem para a casa de campo da família, situada ao lado de um rio em meio à floresta. À primeira vista, o relacionamento parece sólido, embora a melhor amiga de Liz ainda a questione constantemente sobre o namoro. Eles já falaram sobre filhos? Ele está escondendo alguma coisa? O que é aquele cardigã bege que ele te deu de presente? Quem compra roupa bege para alguém?!
Assim que o casal chega a essa cabana pitoresca na floresta, Malcolm começa a agir de forma muito estranha. Há um bolo misterioso em uma caixa manchada, que ele alega ser um presente do zelador do local. Além disso, ele parece ter convenientemente esquecido de mencionar que seu primo babaca (Burkett Turton) mora na casa de hóspedes bem em frente. Quando o tal babaca aparece inesperadamente tarde da noite, acompanhado de uma modelo do Leste Europeu (Eden Weiss), o sujeito rapidamente leva Malcolm para uma conversa particular e depois vai embora. Mas não antes de sua acompanhante da noite mencionar de passagem que o bolo “tem gosto de merda”. Hum.
Depois que eles saem, Malcolm começa a insistir para que Liz coma um pedaço de bolo. Liz não quer bolo. “Coma só um pedacinho”, ele insiste. É de chocolate, e Liz não gosta de chocolate. “Mas é um bolo gostoso”, Malcolm reclama. (Vale ressaltar que esse namorado é um reclamão de primeira, além de ser um namorado inseguro e possessivo, com o ego facilmente ferido e que parece estar reprimido. Parabéns a Sutherland por interpretar tão bem essas camadas.) “Não, obrigada”, diz Liz. “Por favor, coma o bolo”, responde Malcolm, levando um pedaço da sobremesa úmida bem perto dos lábios de Liz. Finalmente, ela dá uma mordida no bolo. Ela realmente quer ser uma boa parceira. Preste atenção e você poderá escutar Malcolm suspirando de alívio.
Quer dizer, tudo isso é totalmente normal e tranquilo, né? Nada com que se preocupar. O mesmo vale para o fato de que nenhuma das portas da casa tranca, exceto a do banheiro. Ou que um coração misteriosamente aparece desenhado no vapor atrás da cabeça da Liz quando ela toma banho, e não tem mais ninguém lá. Ou que, no dia seguinte, Malcolm — que é médico — de repente precisa ir embora porque um paciente está, hum, em coma e, olha, ele simplesmente precisa ir! O que significa que Liz fica sozinha em uma casa onde sombras ocasionalmente parecem se mover pelas paredes por conta própria. Você já deve imaginar onde isso vai dar.
Ou será que não? Será que alguém, incluindo os criadores desta combinação inegavelmente atmosférica de terror sobrenatural, elementos diversos de folclore, travessuras de filme de terror, alusões vagas à política de gênero e exploração descarada de bolos, imagina? Perkins se especializa em evocar uma sensação geral de pavor e criar imagens alucinatórias que funcionam melhor como condutores livres de medo do que, digamos, como peças de um quebra-cabeça para compor um quadro maior. Você passa boa parte de Para Sempre Minha formulando teorias sobre o que está acontecendo, analisando cuidadosamente as pistas na esperança de encontrar possíveis respostas. No entanto, quando tudo é revelado, você deseja ter voltado àquela ignorância anterior que agora parece um estado de êxtase.
Dizer que Tatiana Maslany é um trunfo aqui é óbvio, visto que ela já salvou alguns projetos do desastre total. Este é o tipo de papel que nem sempre permite sutilezas ou nuances, e a atriz canadense sabe exatamente como interpretar alguém que tenta apaziguar potenciais predadores sem ceder, ou deixar o público ver seu terror enquanto o esconde dos aterrorizantes ao redor. Ela é realmente uma escolha valiosa. Quanto ao filme em si? Ainda não há consenso.
+++ LEIA MAIS: Diretor de Longlegs quer comandar novo filme de O Massacre da Serra Elétrica
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