Robyn está de volta: colaborador confirma novo álbum após sete anos
Quando Robyn decide fazer música, o mundo para para escutar. A artista sueca, conhecida por seus longos períodos de silêncio entre lançamentos, parece estar pronta para quebrar mais um jejum criativo. Depois de sete anos desde Honey (2018), um novo álbum da rainha do electropop cult está a caminho.
A informação vazou de forma completamente casual durante uma conversa no podcast Nordmark Pod, do produtor Per Nordmark. Klas Åhlund, colaborador de longa data da cantora, simplesmente mencionou que “acabou de terminar um novo álbum da Robyn que está saindo” e que está “super animado e muito orgulhoso” do resultado. Para quem conhece o estilo discreto da artista, que raramente faz teasers ou campanhas promocionais antecipadas, essa revelação espontânea soa ainda mais autêntica.
O timing não poderia ser mais significativo. No próximo mês, Robyn Is Here (1995), seu álbum de estreia, completa 30 anos, enquanto uma edição de 20º aniversário de seu aclamado disco homônimo está programada para lançamento nesta sexta-feira.
Robyn sempre operou em seus próprios termos e cronograma. Entre Body Talk (2010) e Honey (2018), ela desapareceu por quase uma década, retornando com um dos álbums mais celebrados daquela década. Poucos artistas conseguem manter tamanha relevância cultural após períodos tão extensos de ausência.
Durante este período, ela manteve presença seletiva na cena musical. Em 2024, apareceu no remix de “360” da Charli XCX e colaborou com Jamie xx em “Life”. Este ano, suas apresentações incluíram performances com David Byrne no especial SNL 50 e com Gracie Abrams no Lollapalooza. Na semana passada, esteve na festa de casamento de Charli XCX ao lado de nomes como Caroline Polachek, Clairo e Troye Sivan.
Embora não haja confirmação oficial sobre datas ou detalhes do lançamento, a declaração espontânea do produtor indica que o projeto está finalizado. Para os fãs que esperaram pacientemente, a notícia chega como um presente inesperado.
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Amazon define perfil do próximo 007: jovem, britânico e sem fama
A busca pelo próximo James Bond finalmente ganhou contornos mais definidos. De acordo com informações divulgadas pelo Deadline, o escolhido para vestir o smoking do agente secreto mais famoso do cinema será um “rosto desconhecido” e obrigatoriamente britânico.
Desde que Daniel Craig se despediu definitivamente do personagem em 007 – Sem Tempo para Morrer (2021), a especulação sobre seu sucessor tem movimentado tanto a imprensa especializada quanto os fãs da franquia. O processo de seleção ganhou novo fôlego este ano quando a Amazon assumiu o controle criativo da série, trazendo nomes de peso como Denis Villeneuve (diretor de Duna) para a direção e Steven Knight (criador de Peaky Blinders) para o roteiro.
Segundo o relatório, Villeneuve e os produtores têm uma visão clara do perfil desejado: querem apostar em um ator completamente novo no cenário hollywoodiano, preferencialmente na faixa etária entre o final dos 20 e início dos 30 anos. Esta abordagem marca uma mudança significativa em relação às especulações anteriores, que frequentemente incluíam nomes já estabelecidos da indústria.
Alguns candidatos já surgiram nos bastidores. O ator desconhecido Scott Rose-Marsh teria feito testes para o papel, enquanto Harris Dickinson, Jacob Elordi e Tom Holland aparecem como possibilidades sendo consideradas pela Amazon. Holland, inclusive, comentou recentemente sobre os rumores, descrevendo o papel como “o ápice de trabalhar em nossa indústria”.
Por outro lado, Taron Egerton, ator de Kingsman e favorito entre os fãs, parece ter se retirado da corrida voluntariamente. Em declaração franca, ele afirmou não se considerar uma boa escolha para o papel e expressou reservas sobre o compromisso que a franquia exigiria: “É uma grande empreitada, meio que consome sua vida, um papel como esse”.
O debate sobre a identidade do próximo Bond também tocou questões de gênero. Helen Mirren se posicionou de forma categórica sobre o assunto, defendendo que Bond deve continuar sendo interpretado por um homem. “Sou feminista, mas James Bond tem que ser um cara. Não pode ser uma mulher. Simplesmente não funciona”, declarou a atriz.
Com a Amazon no comando e uma visão clara do perfil desejado, a franquia parece estar se preparando para uma renovação completa. A escolha de um rosto novo pode representar tanto uma oportunidade de revitalizar a série quanto um risco calculado de apostar em talento não testado no blockbuster internacional.
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Paul McCartney ressuscita ‘Help!’ após 35 anos de silêncio
Existe algo profundamente tocante quando um artista revisita canções que marcaram gerações, especialmente quando essa volta acontece após décadas de ausência. Paul McCartney acabou de nos presentear com um desses momentos raros e emocionantes que fazem o coração dos fãs de música acelerar.
Na última sexta-feira, 26 de setembro, no icônico Santa Barbara Bowl, McCartney fez algo que ninguém esperava: tocou “Help!” pela primeira vez em 35 anos. Sim, você leu certo. Desde 1990, quando a canção foi executada em Chicago como parte de uma homenagem a John Lennon, esta pérola de 1965 permaneceu guardada no baú das memórias do ex-beatle.
O momento aconteceu durante um show de aquecimento para a etapa norte-americana de sua turnê Got Back, que oficialmente começou na segunda-feira seguinte em Palm Desert, Califórnia. Mas foi neste ensaio íntimo que a magia realmente aconteceu. Imaginem a surpresa e a emoção daqueles poucos sortudos que estavam presentes quando as primeiras notas de “Help!” ecoaram pela casa californiana.
A escolha de trazer de volta “Help!” não parece aleatória. A canção, escrita principalmente por Lennon em 1965, sempre foi um dos clássicos dos Beatles. Após 35 anos ausente dos shows, McCartney decidiu incluí-la novamente em seu repertório ao vivo.
O que torna este retorno ainda mais especial é o contexto. Após décadas focando em seu extenso repertório solo e nos sucessos mais celebrados dos Fab Four, McCartney decidiu mergulhar fundo em seu arquivo pessoal para desenterrar uma música que muitos fãs já consideravam perdida para sempre em seus shows ao vivo.
Resta agora a grande questão que paira no ar: será que “Help!” se tornará uma presença regular nos próximos shows da turnê Got Back? Ou foi apenas um presente especial para aquela noite única em Santa Barbara? Conhecendo McCartney e sua propensão para surpresas, é provável que outros tesouros esquecidos possam emergir durante esta nova jornada pelos palcos americanos.
Mas, e cadê os vídeos? Bom, o único registro que achamos não é dos melhores, porque para essa apresentação de Santa Barbara foi usada a política de não permitir telefones no show, prática que permite que o público esteja mais presente e aproveite mais o show. Então quando a pessoa chega no local do show, ela deixa o telefone numa espécie de locker que só consegue abrir ao final do show.
Então o que sabemos é isso:
Paul McCartney abrió con Help! en la vuelta de Got Back 🔙 Setlist completo de una noche memorable https://t.co/RkVEU1nMKc pic.twitter.com/Nw7NY65pct
— Calico Skies Radio | McCartney 👐🏻 (@calicoradio) September 27, 2025
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Sean Combs passou seu tempo na prisão fazendo coaching empresarial para outros detentos
Sean “Diddy” Combs passou boa parte de seu tempo na prisão durante o último ano instruindo outros detentos sobre gestão empresarial, empreendedorismo e, aparentemente, como ser mais parecido com Sean “Diddy” Combs.
Uma descrição e currículo do curso, apelidado de “Jogo Gratuito com Diddy”, foi apresentado ao tribunal esta semana, junto com depoimentos dos alunos de Combs e uma avaliação positiva da aula pelo Conselheiro da Unidade prisional. Tudo isso foi enviado ao Juiz Arun Subramanian enquanto os advogados de Combs trabalham para garantir ao cliente a sentença mais branda possível após sua condenação por duas acusações de prostituição neste verão.
Como asseguraram ao juiz em sua carta sobre o curso de Combs: “Notavelmente, a avaliação reconhece o Sr. Combs como tutor, dá-lhe as maiores notas possíveis e conclui com ‘excelente aula, continue o ótimo trabalho’. Além disso, como declarado em nosso memorando de sentença, este curso teve um impacto substancial nos outros detentos”.
“Jogo Gratuito com Diddy” é descrito como um “programa educacional de seis semanas projetado para equipar os participantes com habilidades essenciais em gestão empresarial, empreendedorismo e desenvolvimento pessoal”. E Combs escolheu transmitir esse conhecimento, essencialmente, falando sobre si mesmo.
“O curso oferece insights exclusivos sobre a jornada de Sean ‘Diddy’ Combs, traçando sua ascensão desde origens humildes até se tornar um ícone globalmente reconhecido e magnata empresarial influente”, diz a descrição. “Através de relatos em primeira pessoa e experiências do mundo real extraídas dos empreendimentos corporativos e ventures empresariais do Sr. Combs, o programa fornece uma perspectiva única sobre navegar e ter sucesso no mundo dos negócios”.
Enquanto isso, o programa da aula é uma lista de tópicos repleta de jargão corporativo e clichês. “Pessoas bem-sucedidas fazem o que pessoas mal-sucedidas não fazem”, afirma um cabeçalho, sob o qual estão listados três critérios de acompanhamento (dois dos quais, como era de se esperar, têm a ver com administrar o próprio ego): “Nunca se envergonhe — Sem ego”; “Trabalhe mais que a concorrência”; “Ego — o eu consciente/extremo”.
Outras aulas tinham nomes como “Apenas Faça”, na qual Combs falou sobre objetivos de curto prazo e fazer planos (“Quanto?” “Por quanto tempo?”); e “O Tempo não espera por ninguém”, onde a importância dos prazos foi discutida. Outro tópico — “Você pode fazer dinheiro mas não pode fazer tempo” — encontra Combs supostamente explanando sobre a parábola.
O tópico de aula mais denso era “A maratona 26.2”, com subtópicos incluindo: “Nada acontece da noite para o dia”, “Confie no processo”, “Como é o sucesso”, “Pesada é a cabeça”, “O preço do sucesso”, e “Sucesso — Responsabilidade”. Combs até ensinou uma aula bônus chamada “Não posso parar não vou parar”, com os subtópicos adequadamente listados simplesmente como: “Não pare” e “Nunca desista”.
Agora, nada disso sugere que Combs, que foi genuinamente um dos produtores musicais e empresários mais bem-sucedidos dos últimos 30 anos, não tenha uma riqueza de conhecimento sobre o assunto em questão. Mas quando uma das principais tarefas da aula é “Escreva um ensaio que incorpore lições aprendidas da jornada de Sean ‘Diddy’ Combs, insights pessoais adquiridos durante o programa e métodos para alcançar objetivos de longo prazo” — isso pode levantar questões que não estamos exatamente convencidos de que os cursos de Combs sobre ego abordarão suficientemente.
O curso não parece mencionar nenhuma da história não-empresarial de Combs ou lições aprendidas, ou a falta delas. Após a CNN exibir imagens de Combs agredindo a ex-namorada Cassie em um quarto de hotel de Los Angeles, Combs alegou ter chegado ao “fundo do poço” em um vídeo que postou nas redes sociais. “Tive que fazer terapia, ir para reabilitação, tive que pedir a Deus por sua misericórdia e graça”. No entanto, como uma investigação da Rolling Stone em janeiro revelou, Combs supostamente permaneceu sexualmente abusivo, volátil e extremamente manipulativo muito depois da agressão no hotel em 2016.
Algo sobre “Jogo Gratuito com Diddy” — com sua figura central imponente e carismática transmitindo sabedoria ao mesmo tempo específica e vaga — parece guru de autoajuda cruzado com coach de carreira misturado com apenas um toque de marketing multinível. No entanto, os alunos de Combs não tiveram nada além de críticas entusiasmadas para seu tutor.
“Por causa desta aula eu tenho um propósito, algo para esperar todos os dias”, escreveu um detento, enquanto outro declarou: “Ele nos mostrou que são os pequenos ajustes em nossas vidas cotidianas que se somam a uma grande mudança”. Outros destacaram a forma como Combs enfatizou a importância de objetivos realistas, criar um plano bem-sucedido e deixar o “orgulho de lado”.
“Mesmo atrás das grades e com recursos limitados [eu] testemunhei este homem fazer coisas mágicas”, escreveu um detento e aluno. “Em um lugar de segregação [eu] vi o Sr. Combs trazer unidade para todas as raças e grupos étnicos, não importa a origem”.
O curso “Jogo Gratuito com Diddy” está longe de ser o único item que os advogados de Combs submeteram ao Juiz Subramanian enquanto ele pondera a sentença de Combs (marcada para a próxima semana, 3 de outubro). Mas considerando que Combs tomou para si a iniciativa de passar seu tempo atrás das grades criando e ensinando um curso completo, parece plausível que isso possa ter algum tipo de influência no processo de tomada de decisão. Então é apenas uma questão de analisar as complexidades de saber se é algo positivo ter Combs — que não nos esqueçamos também é um agressor doméstico confesso — ensinando outros a serem mais parecidos com ele.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, por Jon Blistein, no dia 26 de setembro de 2025, e pode ser conferido aqui.
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Rapper do Kneecap, Mo Chara, vence caso de ‘terrorismo’ no Reino Unido por questão técnica
Um tribunal de Londres arquivou o caso de terrorismo contra Mo Chara, do grupo Kneecap, com um juiz decidindo que a acusação contra o rapper de Belfast não foi devidamente protocolada.
O rapper Liam Óg Ó hAnnaidh foi acusado de exibir uma bandeira do Hezbollah no palco durante um show do Kneecap em novembro de 2024, em Londres. Mas a Polícia Metropolitana de Londres só foi informada do suposto incidente em abril de 2025, depois que o Kneecap gerou controvérsia por suas críticas a Israel e à guerra em Gaza durante sua apresentação no Coachella. Ó hAnnaidh foi então acusado em maio.
Durante o verão, os advogados de Ó hAnnaidh entraram com um pedido para que o caso fosse indeferido por motivos técnicos, alegando que a acusação foi apresentada um dia após o limite de seis meses para tais acusações expirar. Embora os promotores tenham contestado que a acusação foi apresentada a tempo, o Juiz Paul Goldspring acabou dando razão à defesa.
O Juiz Goldspring ressaltou que sua decisão não era sobre a “inocência ou culpa” de Ó hAnnaidh, mas apenas sobre se o tribunal “tem jurisdição para julgar o caso”. Nesse sentido, ele escreveu: “[A] acusação é ilegal e nula”.
O debate girou em torno dos detalhes de como e quando uma acusação é apresentada sob a Lei de Terrorismo do Reino Unido. Mo Chara recebeu a notificação da acusação em 21 de maio, mas seus advogados disseram que isso não contava como uma acusação oficial porque o Procurador-Geral ainda não havia dado permissão aos promotores para apresentarem o caso. Eles alegaram que a acusação foi oficialmente protocolada no dia seguinte, 22 de maio, um dia após o limite de seis meses expirar.
Embora o Serviço de Promotoria da Coroa (Crown Prosecution Service – CPS) tenha argumentado que a acusação de 21 de maio era válida porque eles não precisavam da permissão do Procurador-Geral, o Juiz Goldspring concluiu que os “procedimentos não foram instaurados na forma correta, carecendo do necessário consentimento do DPP e do AG, dentro do prazo estatutário de 6 meses”.
De acordo com a BBC, as pessoas reunidas no tribunal aplaudiram a decisão assim que ela foi proferida. O advogado de Mo Chara, Jude Bunting KC, disse ao tribunal: “Este caso foi tão injustificado quanto foi falho”.
Ó hAnnaidh se dirigiu a repórteres e apoiadores reunidos do lado de fora do tribunal, dizendo:
Todo este processo nunca foi sobre mim. Nunca foi sobre qualquer ameaça ao público; nunca foi sobre terrorismo, uma palavra usada pelo seu governo para desacreditar pessoas que vocês oprimem. Sempre foi sobre Gaza, sobre o que acontece se você se atreve a falar. Suas tentativas de nos silenciar falharam porque estamos certos e vocês estão errados.
O CPS disse em um comunicado que estava “revendo a decisão do tribunal com atenção” e observou que ela poderia ser apelada. Um porta-voz da Polícia Metropolitana disse: “Estamos cientes da decisão do tribunal em relação a este caso. Trabalharemos com o CPS para entender as possíveis implicações desta decisão para nós e como isso pode impactar o processamento de tais casos no futuro”.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, por Jon Blistein, no dia 26 de setembro de 2025, e pode ser conferido aqui.
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Como 2024 se tornou o ano da música brasileira nos samples
Sample, uma palavra em inglês para “amostra”, no universo da música, é um recorte feito a partir de uma gravação original que passa a integrar uma nova gravação. Quando produzimos uma música podemos fazer o uso do sample, escolhendo o trecho da música, recortando-o e inserindo na nova gravação como uma citação, como base instrumental ou mesmo como parte de uma canção. Gosto de usar a faixa “Mara”, de Luedji Luna, produzida por ela, Kato Change e por esse que vos escreve. No final da canção é possível ouvir a voz de Milton Nascimento. Milton não estava presente na gravação atual, ali é um sample, um recorte extraído da música “Beijo Partido”, de Toninho Horta, gravado pelo cantor no álbum Minas (1972).
O sample sempre carrega uma história própria: é como uma fotografia musical, com seu cenário, iluminação, direção de arte, figurino e personagens particulares. A mera citação de um sample, como fiz acima, convoca-nos a pensar sobre quem são os intérpretes, compositores, artistas, músicos, engenheiros de som, produtores e todo ecossistema de uma gravação. Para os ouvidos, curioso como os meus e atentos, o sample é sempre um convite a mergulhar fundo na música.
2024 foi considerado o ano dos samples brasileiros nas produções internacionais, mas a verdade é que, desde que os produtores começaram a escavar os álbuns brasileiros, não pararam mais.
Só a versão de “Garota de Ipanema”, de Astrud Gilberto com Stan Getz, de 1964, já serviu de molho para Bad Bunny, maior artista latino do Spotify (em números), em 2020, com a música “Si Veo a Tu Mama”; serviu para SZA em “BMF” em 2024 e mais outras 12 faixas lançadas desde os anos 1990 até hoje.
Mas não só de velhos clássicos eles se alimentam, e um sample do funk “Aquecimento das Danadas”, de O Mandrake. Charopinho Dj, ajudou Beyoncé a conquistar o inédito Grammy de Melhor Álbum do Ano com Cowboy Carter (2024). A faixa aparece sampleada em “Spaghetti”. Além da Queen B, outros artistas também escavaram samples na produção do funk nacional.
No álbum de estreia da dupla Kanye West e Ty Dolla Sign, Vultures, de 2024, encontramos um sample do funk “Faz Macete 3.0” na faixa “PAPERWORK”. Nesse mesmo álbum colaboram como produtores Vitinho BDP, produtor da faixa original, como também JPEGMafia, famoso DJ de NY que também se encantou pelo funk e na faixa “Its’ Dark and Hell Is Hot”, sampleou “Upa Upa Pocotó X 170bpm”, de DJ RaMeMes.
Outra faixa que não sai das MPCs (instrumento usado para samplear) é “Onda“, de Cassiano. Ano passado, 2024, o francês Folie’s a usou em “BAD!”. Mas NxWorries já a tinha sampleado em 2015 em “Link Up” feat. Anderson .Paak e em 1977, o trompetista Fred Hubbard, não bem sampleou, mas regravou as mesmas linhas de guitarra originais da faixa “From Now On”, de Cassiano, em 1976. Acredito que, além da voz de Cassiano, o que chama a atenção nesse clássico do Soul brasileiro é também a linha de baixo de Paulo César Barros, que dá todo balanço, junto da bateria. Cassiano também aparece no lançamento de 2024, de J. Cole, “A Plate of Collard Greens” no sample da faixa “Castiçal” de seu álbum Apresentamos Nosso Cassiano, de 1973.
Também com forte produção nos anos 1970, Ivan Lins é um artista muito querido lá fora antes mesmo do episódio em que recusou a proposta de Quincy Jones para ceder a música “Novo Tempo” para o álbum mais vendido da história, Thriller, de Michael Jackson. Em 2024, Common e Pete Rock lançaram “Fortunate” e, nela, ouvimos o sample de “Guarde nos Olhos”, de 1978, de Ivan Lins. Abrindo esse portal e ouvindo a original, encontramos na mesma faixa um lindo solo de gaita de Maurício Einhorn. Outro sample brasileiro, também presente no álbum The Auditorium, de Rock e Common, porém cantado em inglês, aparece na faixa “Everything’s So Grand” com a voz de Maria Bethânia, interpretando a música “What’s New”, em seu disco A Tua Presença, de 1971.
Além de Ivan, outro muito querido é Luiz Bonfá, sampleado mais de cem vezes em diversos trabalhos, desde os anos noventa até hoje em dia. O sample de sua música instrumental “Seville” usado por Gotye em “Somebody That I Used To Know”, rendeu, ao mesmo, o primeiro lugar no top das paradas de mais de 30 países e o Grammy de Música do Ano, em 2013. A mesma faixa também foi sampleada por outra vencedora do Grammy, Doechii, na faixa “Anxiety”, de 2025 ano e já lhe rendeu o top 10 de mais de sessenta paradas.
A lista se estende entre artistas de variados gêneros musicais e países, não se restringindo aos Estados Unidos apenas. Nossa produção fonográfica, via sample, está em todos os continentes do planeta e é uma representação da potência que sempre foi a nossa música.
Há muito tempo o mundo está olhando e valorizando a produção daqui, a história daqui, nossos clássicos que fundaram e abriram caminho para a música brasileira que ganha o mundo. Seja MPB, samba, soul, funk 150bpm, mandelão ou tamborzão, nossa criatividade é talvez o que desperta tanto interesse em quem olha de fora para nossa música.
Importante que esse olhar de fora para dentro que, não só é valorizado, como também funciona como uma chancela para o que é a “música boa”, passe também a vigorar de dentro para dentro, entre nós e que artistas nacionais passem a ser valorizados por seus legados, ainda em vida.
A música negra do Brasil e do mundo não seria a mesma sem a existência de Cassiano, tão celebrado nos samples. No entanto, o artista nos deixou em 2021, sem figurar em nenhum festival, sem ter surfado no hype da pulverização de sua música via samples, fora esquecido durante uma década inteira, praticamente nos anos 1990 e morreu em um hospital público, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Que outros artistas celebrados pela cultura do sample tenham sua importância reconhecida ainda em vida e que de fato essa cultura sirva mais do que um suporte musical, que seja um portal para visitarmos a fundo e reverenciarmos a obra de quem pavimentou o caminho que podemos trilhar hoje livremente.
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Como 2024 se tornou o ano da música brasileira nos samples
Sample, uma palavra em inglês para “amostra”, no universo da música, é um recorte feito a partir de uma gravação original que passa a integrar uma nova gravação. Quando produzimos uma música podemos fazer o uso do sample, escolhendo o trecho da música, recortando-o e inserindo na nova gravação como uma citação, como base instrumental ou mesmo como parte de uma canção. Gosto de usar a faixa “Mara”, de Luedji Luna, produzida por ela, Kato Change e por esse que vos escreve. No final da canção é possível ouvir a voz de Milton Nascimento. Milton não estava presente na gravação atual, ali é um sample, um recorte extraído da música “Beijo Partido”, de Toninho Horta, gravado pelo cantor no álbum Minas (1972).
O sample sempre carrega uma história própria: é como uma fotografia musical, com seu cenário, iluminação, direção de arte, figurino e personagens particulares. A mera citação de um sample, como fiz acima, convoca-nos a pensar sobre quem são os intérpretes, compositores, artistas, músicos, engenheiros de som, produtores e todo ecossistema de uma gravação. Para os ouvidos, curioso como os meus e atentos, o sample é sempre um convite a mergulhar fundo na música.
2024 foi considerado o ano dos samples brasileiros nas produções internacionais, mas a verdade é que, desde que os produtores começaram a escavar os álbuns brasileiros, não pararam mais.
Só a versão de “Garota de Ipanema”, de Astrud Gilberto com Stan Getz, de 1964, já serviu de molho para Bad Bunny, maior artista latino do Spotify (em números), em 2020, com a música “Si Veo a Tu Mama”; serviu para SZA em “BMF” em 2024 e mais outras 12 faixas lançadas desde os anos 1990 até hoje.
Mas não só de velhos clássicos eles se alimentam, e um sample do funk “Aquecimento das Danadas”, de O Mandrake. Charopinho Dj, ajudou Beyoncé a conquistar o inédito Grammy de Melhor Álbum do Ano com Cowboy Carter (2024). A faixa aparece sampleada em “Spaghetti”. Além da Queen B, outros artistas também escavaram samples na produção do funk nacional.
No álbum de estreia da dupla Kanye West e Ty Dolla Sign, Vultures, de 2024, encontramos um sample do funk “Faz Macete 3.0” na faixa “PAPERWORK”. Nesse mesmo álbum colaboram como produtores Vitinho BDP, produtor da faixa original, como também JPEGMafia, famoso DJ de NY que também se encantou pelo funk e na faixa “Its’ Dark and Hell Is Hot”, sampleou “Upa Upa Pocotó X 170bpm”, de DJ RaMeMes.
Outra faixa que não sai das MPCs (instrumento usado para samplear) é “Onda“, de Cassiano. Ano passado, 2024, o francês Folie’s a usou em “BAD!”. Mas NxWorries já a tinha sampleado em 2015 em “Link Up” feat. Anderson .Paak e em 1977, o trompetista Fred Hubbard, não bem sampleou, mas regravou as mesmas linhas de guitarra originais da faixa “From Now On”, de Cassiano, em 1976. Acredito que, além da voz de Cassiano, o que chama a atenção nesse clássico do Soul brasileiro é também a linha de baixo de Paulo César Barros, que dá todo balanço, junto da bateria. Cassiano também aparece no lançamento de 2024, de J. Cole, “A Plate of Collard Greens” no sample da faixa “Castiçal” de seu álbum Apresentamos Nosso Cassiano, de 1973.
Também com forte produção nos anos 1970, Ivan Lins é um artista muito querido lá fora antes mesmo do episódio em que recusou a proposta de Quincy Jones para ceder a música “Novo Tempo” para o álbum mais vendido da história, Thriller, de Michael Jackson. Em 2024, Common e Pete Rock lançaram “Fortunate” e, nela, ouvimos o sample de “Guarde nos Olhos”, de 1978, de Ivan Lins. Abrindo esse portal e ouvindo a original, encontramos na mesma faixa um lindo solo de gaita de Maurício Einhorn. Outro sample brasileiro, também presente no álbum The Auditorium, de Rock e Common, porém cantado em inglês, aparece na faixa “Everything’s So Grand” com a voz de Maria Bethânia, interpretando a música “What’s New”, em seu disco A Tua Presença, de 1971.
Além de Ivan, outro muito querido é Luiz Bonfá, sampleado mais de cem vezes em diversos trabalhos, desde os anos noventa até hoje em dia. O sample de sua música instrumental “Seville” usado por Gotye em “Somebody That I Used To Know”, rendeu, ao mesmo, o primeiro lugar no top das paradas de mais de 30 países e o Grammy de Música do Ano, em 2013. A mesma faixa também foi sampleada por outra vencedora do Grammy, Doechii, na faixa “Anxiety”, de 2025 ano e já lhe rendeu o top 10 de mais de sessenta paradas.
A lista se estende entre artistas de variados gêneros musicais e países, não se restringindo aos Estados Unidos apenas. Nossa produção fonográfica, via sample, está em todos os continentes do planeta e é uma representação da potência que sempre foi a nossa música.
Há muito tempo o mundo está olhando e valorizando a produção daqui, a história daqui, nossos clássicos que fundaram e abriram caminho para a música brasileira que ganha o mundo. Seja MPB, samba, soul, funk 150bpm, mandelão ou tamborzão, nossa criatividade é talvez o que desperta tanto interesse em quem olha de fora para nossa música.
Importante que esse olhar de fora para dentro que, não só é valorizado, como também funciona como uma chancela para o que é a “música boa”, passe também a vigorar de dentro para dentro, entre nós e que artistas nacionais passem a ser valorizados por seus legados, ainda em vida.
A música negra do Brasil e do mundo não seria a mesma sem a existência de Cassiano, tão celebrado nos samples. No entanto, o artista nos deixou em 2021, sem figurar em nenhum festival, sem ter surfado no hype da pulverização de sua música via samples, fora esquecido durante uma década inteira, praticamente nos anos 1990 e morreu em um hospital público, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Que outros artistas celebrados pela cultura do sample tenham sua importância reconhecida ainda em vida e que de fato essa cultura sirva mais do que um suporte musical, que seja um portal para visitarmos a fundo e reverenciarmos a obra de quem pavimentou o caminho que podemos trilhar hoje livremente.
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Como 2024 se tornou o ano da música brasileira nos samples
Sample, uma palavra em inglês para “amostra”, no universo da música, é um recorte feito a partir de uma gravação original que passa a integrar uma nova gravação. Quando produzimos uma música podemos fazer o uso do sample, escolhendo o trecho da música, recortando-o e inserindo na nova gravação como uma citação, como base instrumental ou mesmo como parte de uma canção. Gosto de usar a faixa “Mara”, de Luedji Luna, produzida por ela, Kato Change e por esse que vos escreve. No final da canção é possível ouvir a voz de Milton Nascimento. Milton não estava presente na gravação atual, ali é um sample, um recorte extraído da música “Beijo Partido”, de Toninho Horta, gravado pelo cantor no álbum Minas (1972).
O sample sempre carrega uma história própria: é como uma fotografia musical, com seu cenário, iluminação, direção de arte, figurino e personagens particulares. A mera citação de um sample, como fiz acima, convoca-nos a pensar sobre quem são os intérpretes, compositores, artistas, músicos, engenheiros de som, produtores e todo ecossistema de uma gravação. Para os ouvidos, curioso como os meus e atentos, o sample é sempre um convite a mergulhar fundo na música.
2024 foi considerado o ano dos samples brasileiros nas produções internacionais, mas a verdade é que, desde que os produtores começaram a escavar os álbuns brasileiros, não pararam mais.
Só a versão de “Garota de Ipanema”, de Astrud Gilberto com Stan Getz, de 1964, já serviu de molho para Bad Bunny, maior artista latino do Spotify (em números), em 2020, com a música “Si Veo a Tu Mama”; serviu para SZA em “BMF” em 2024 e mais outras 12 faixas lançadas desde os anos 1990 até hoje.
Mas não só de velhos clássicos eles se alimentam, e um sample do funk “Aquecimento das Danadas”, de O Mandrake. Charopinho Dj, ajudou Beyoncé a conquistar o inédito Grammy de Melhor Álbum do Ano com Cowboy Carter (2024). A faixa aparece sampleada em “Spaghetti”. Além da Queen B, outros artistas também escavaram samples na produção do funk nacional.
No álbum de estreia da dupla Kanye West e Ty Dolla Sign, Vultures, de 2024, encontramos um sample do funk “Faz Macete 3.0” na faixa “PAPERWORK”. Nesse mesmo álbum colaboram como produtores Vitinho BDP, produtor da faixa original, como também JPEGMafia, famoso DJ de NY que também se encantou pelo funk e na faixa “Its’ Dark and Hell Is Hot”, sampleou “Upa Upa Pocotó X 170bpm”, de DJ RaMeMes.
Outra faixa que não sai das MPCs (instrumento usado para samplear) é “Onda“, de Cassiano. Ano passado, 2024, o francês Folie’s a usou em “BAD!”. Mas NxWorries já a tinha sampleado em 2015 em “Link Up” feat. Anderson .Paak e em 1977, o trompetista Fred Hubbard, não bem sampleou, mas regravou as mesmas linhas de guitarra originais da faixa “From Now On”, de Cassiano, em 1976. Acredito que, além da voz de Cassiano, o que chama a atenção nesse clássico do Soul brasileiro é também a linha de baixo de Paulo César Barros, que dá todo balanço, junto da bateria. Cassiano também aparece no lançamento de 2024, de J. Cole, “A Plate of Collard Greens” no sample da faixa “Castiçal” de seu álbum Apresentamos Nosso Cassiano, de 1973.
Também com forte produção nos anos 1970, Ivan Lins é um artista muito querido lá fora antes mesmo do episódio em que recusou a proposta de Quincy Jones para ceder a música “Novo Tempo” para o álbum mais vendido da história, Thriller, de Michael Jackson. Em 2024, Common e Pete Rock lançaram “Fortunate” e, nela, ouvimos o sample de “Guarde nos Olhos”, de 1978, de Ivan Lins. Abrindo esse portal e ouvindo a original, encontramos na mesma faixa um lindo solo de gaita de Maurício Einhorn. Outro sample brasileiro, também presente no álbum The Auditorium, de Rock e Common, porém cantado em inglês, aparece na faixa “Everything’s So Grand” com a voz de Maria Bethânia, interpretando a música “What’s New”, em seu disco A Tua Presença, de 1971.
Além de Ivan, outro muito querido é Luiz Bonfá, sampleado mais de cem vezes em diversos trabalhos, desde os anos noventa até hoje em dia. O sample de sua música instrumental “Seville” usado por Gotye em “Somebody That I Used To Know”, rendeu, ao mesmo, o primeiro lugar no top das paradas de mais de 30 países e o Grammy de Música do Ano, em 2013. A mesma faixa também foi sampleada por outra vencedora do Grammy, Doechii, na faixa “Anxiety”, de 2025 ano e já lhe rendeu o top 10 de mais de sessenta paradas.
A lista se estende entre artistas de variados gêneros musicais e países, não se restringindo aos Estados Unidos apenas. Nossa produção fonográfica, via sample, está em todos os continentes do planeta e é uma representação da potência que sempre foi a nossa música.
Há muito tempo o mundo está olhando e valorizando a produção daqui, a história daqui, nossos clássicos que fundaram e abriram caminho para a música brasileira que ganha o mundo. Seja MPB, samba, soul, funk 150bpm, mandelão ou tamborzão, nossa criatividade é talvez o que desperta tanto interesse em quem olha de fora para nossa música.
Importante que esse olhar de fora para dentro que, não só é valorizado, como também funciona como uma chancela para o que é a “música boa”, passe também a vigorar de dentro para dentro, entre nós e que artistas nacionais passem a ser valorizados por seus legados, ainda em vida.
A música negra do Brasil e do mundo não seria a mesma sem a existência de Cassiano, tão celebrado nos samples. No entanto, o artista nos deixou em 2021, sem figurar em nenhum festival, sem ter surfado no hype da pulverização de sua música via samples, fora esquecido durante uma década inteira, praticamente nos anos 1990 e morreu em um hospital público, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Que outros artistas celebrados pela cultura do sample tenham sua importância reconhecida ainda em vida e que de fato essa cultura sirva mais do que um suporte musical, que seja um portal para visitarmos a fundo e reverenciarmos a obra de quem pavimentou o caminho que podemos trilhar hoje livremente.
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Como 2024 se tornou o ano da música brasileira nos samples
Sample, uma palavra em inglês para “amostra”, no universo da música, é um recorte feito a partir de uma gravação original que passa a integrar uma nova gravação. Quando produzimos uma música podemos fazer o uso do sample, escolhendo o trecho da música, recortando-o e inserindo na nova gravação como uma citação, como base instrumental ou mesmo como parte de uma canção. Gosto de usar a faixa “Mara”, de Luedji Luna, produzida por ela, Kato Change e por esse que vos escreve. No final da canção é possível ouvir a voz de Milton Nascimento. Milton não estava presente na gravação atual, ali é um sample, um recorte extraído da música “Beijo Partido”, de Toninho Horta, gravado pelo cantor no álbum Minas (1972).
O sample sempre carrega uma história própria: é como uma fotografia musical, com seu cenário, iluminação, direção de arte, figurino e personagens particulares. A mera citação de um sample, como fiz acima, convoca-nos a pensar sobre quem são os intérpretes, compositores, artistas, músicos, engenheiros de som, produtores e todo ecossistema de uma gravação. Para os ouvidos, curioso como os meus e atentos, o sample é sempre um convite a mergulhar fundo na música.
2024 foi considerado o ano dos samples brasileiros nas produções internacionais, mas a verdade é que, desde que os produtores começaram a escavar os álbuns brasileiros, não pararam mais.
Só a versão de “Garota de Ipanema”, de Astrud Gilberto com Stan Getz, de 1964, já serviu de molho para Bad Bunny, maior artista latino do Spotify (em números), em 2020, com a música “Si Veo a Tu Mama”; serviu para SZA em “BMF” em 2024 e mais outras 12 faixas lançadas desde os anos 1990 até hoje.
Mas não só de velhos clássicos eles se alimentam, e um sample do funk “Aquecimento das Danadas”, de O Mandrake. Charopinho Dj, ajudou Beyoncé a conquistar o inédito Grammy de Melhor Álbum do Ano com Cowboy Carter (2024). A faixa aparece sampleada em “Spaghetti”. Além da Queen B, outros artistas também escavaram samples na produção do funk nacional.
No álbum de estreia da dupla Kanye West e Ty Dolla Sign, Vultures, de 2024, encontramos um sample do funk “Faz Macete 3.0” na faixa “PAPERWORK”. Nesse mesmo álbum colaboram como produtores Vitinho BDP, produtor da faixa original, como também JPEGMafia, famoso DJ de NY que também se encantou pelo funk e na faixa “Its’ Dark and Hell Is Hot”, sampleou “Upa Upa Pocotó X 170bpm”, de DJ RaMeMes.
Outra faixa que não sai das MPCs (instrumento usado para samplear) é “Onda“, de Cassiano. Ano passado, 2024, o francês Folie’s a usou em “BAD!”. Mas NxWorries já a tinha sampleado em 2015 em “Link Up” feat. Anderson .Paak e em 1977, o trompetista Fred Hubbard, não bem sampleou, mas regravou as mesmas linhas de guitarra originais da faixa “From Now On”, de Cassiano, em 1976. Acredito que, além da voz de Cassiano, o que chama a atenção nesse clássico do Soul brasileiro é também a linha de baixo de Paulo César Barros, que dá todo balanço, junto da bateria. Cassiano também aparece no lançamento de 2024, de J. Cole, “A Plate of Collard Greens” no sample da faixa “Castiçal” de seu álbum Apresentamos Nosso Cassiano, de 1973.
Também com forte produção nos anos 1970, Ivan Lins é um artista muito querido lá fora antes mesmo do episódio em que recusou a proposta de Quincy Jones para ceder a música “Novo Tempo” para o álbum mais vendido da história, Thriller, de Michael Jackson. Em 2024, Common e Pete Rock lançaram “Fortunate” e, nela, ouvimos o sample de “Guarde nos Olhos”, de 1978, de Ivan Lins. Abrindo esse portal e ouvindo a original, encontramos na mesma faixa um lindo solo de gaita de Maurício Einhorn. Outro sample brasileiro, também presente no álbum The Auditorium, de Rock e Common, porém cantado em inglês, aparece na faixa “Everything’s So Grand” com a voz de Maria Bethânia, interpretando a música “What’s New”, em seu disco A Tua Presença, de 1971.
Além de Ivan, outro muito querido é Luiz Bonfá, sampleado mais de cem vezes em diversos trabalhos, desde os anos noventa até hoje em dia. O sample de sua música instrumental “Seville” usado por Gotye em “Somebody That I Used To Know”, rendeu, ao mesmo, o primeiro lugar no top das paradas de mais de 30 países e o Grammy de Música do Ano, em 2013. A mesma faixa também foi sampleada por outra vencedora do Grammy, Doechii, na faixa “Anxiety”, de 2025 ano e já lhe rendeu o top 10 de mais de sessenta paradas.
A lista se estende entre artistas de variados gêneros musicais e países, não se restringindo aos Estados Unidos apenas. Nossa produção fonográfica, via sample, está em todos os continentes do planeta e é uma representação da potência que sempre foi a nossa música.
Há muito tempo o mundo está olhando e valorizando a produção daqui, a história daqui, nossos clássicos que fundaram e abriram caminho para a música brasileira que ganha o mundo. Seja MPB, samba, soul, funk 150bpm, mandelão ou tamborzão, nossa criatividade é talvez o que desperta tanto interesse em quem olha de fora para nossa música.
Importante que esse olhar de fora para dentro que, não só é valorizado, como também funciona como uma chancela para o que é a “música boa”, passe também a vigorar de dentro para dentro, entre nós e que artistas nacionais passem a ser valorizados por seus legados, ainda em vida.
A música negra do Brasil e do mundo não seria a mesma sem a existência de Cassiano, tão celebrado nos samples. No entanto, o artista nos deixou em 2021, sem figurar em nenhum festival, sem ter surfado no hype da pulverização de sua música via samples, fora esquecido durante uma década inteira, praticamente nos anos 1990 e morreu em um hospital público, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Que outros artistas celebrados pela cultura do sample tenham sua importância reconhecida ainda em vida e que de fato essa cultura sirva mais do que um suporte musical, que seja um portal para visitarmos a fundo e reverenciarmos a obra de quem pavimentou o caminho que podemos trilhar hoje livremente.
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Como 2024 se tornou o ano da música brasileira nos samples
Sample, uma palavra em inglês para “amostra”, no universo da música, é um recorte feito a partir de uma gravação original que passa a integrar uma nova gravação. Quando produzimos uma música podemos fazer o uso do sample, escolhendo o trecho da música, recortando-o e inserindo na nova gravação como uma citação, como base instrumental ou mesmo como parte de uma canção. Gosto de usar a faixa “Mara”, de Luedji Luna, produzida por ela, Kato Change e por esse que vos escreve. No final da canção é possível ouvir a voz de Milton Nascimento. Milton não estava presente na gravação atual, ali é um sample, um recorte extraído da música “Beijo Partido”, de Toninho Horta, gravado pelo cantor no álbum Minas (1972).
O sample sempre carrega uma história própria: é como uma fotografia musical, com seu cenário, iluminação, direção de arte, figurino e personagens particulares. A mera citação de um sample, como fiz acima, convoca-nos a pensar sobre quem são os intérpretes, compositores, artistas, músicos, engenheiros de som, produtores e todo ecossistema de uma gravação. Para os ouvidos, curioso como os meus e atentos, o sample é sempre um convite a mergulhar fundo na música.
2024 foi considerado o ano dos samples brasileiros nas produções internacionais, mas a verdade é que, desde que os produtores começaram a escavar os álbuns brasileiros, não pararam mais.
Só a versão de “Garota de Ipanema”, de Astrud Gilberto com Stan Getz, de 1964, já serviu de molho para Bad Bunny, maior artista latino do Spotify (em números), em 2020, com a música “Si Veo a Tu Mama”; serviu para SZA em “BMF” em 2024 e mais outras 12 faixas lançadas desde os anos 1990 até hoje.
Mas não só de velhos clássicos eles se alimentam, e um sample do funk “Aquecimento das Danadas”, de O Mandrake. Charopinho Dj, ajudou Beyoncé a conquistar o inédito Grammy de Melhor Álbum do Ano com Cowboy Carter (2024). A faixa aparece sampleada em “Spaghetti”. Além da Queen B, outros artistas também escavaram samples na produção do funk nacional.
No álbum de estreia da dupla Kanye West e Ty Dolla Sign, Vultures, de 2024, encontramos um sample do funk “Faz Macete 3.0” na faixa “PAPERWORK”. Nesse mesmo álbum colaboram como produtores Vitinho BDP, produtor da faixa original, como também JPEGMafia, famoso DJ de NY que também se encantou pelo funk e na faixa “Its’ Dark and Hell Is Hot”, sampleou “Upa Upa Pocotó X 170bpm”, de DJ RaMeMes.
Outra faixa que não sai das MPCs (instrumento usado para samplear) é “Onda“, de Cassiano. Ano passado, 2024, o francês Folie’s a usou em “BAD!”. Mas NxWorries já a tinha sampleado em 2015 em “Link Up” feat. Anderson .Paak e em 1977, o trompetista Fred Hubbard, não bem sampleou, mas regravou as mesmas linhas de guitarra originais da faixa “From Now On”, de Cassiano, em 1976. Acredito que, além da voz de Cassiano, o que chama a atenção nesse clássico do Soul brasileiro é também a linha de baixo de Paulo César Barros, que dá todo balanço, junto da bateria. Cassiano também aparece no lançamento de 2024, de J. Cole, “A Plate of Collard Greens” no sample da faixa “Castiçal” de seu álbum Apresentamos Nosso Cassiano, de 1973.
Também com forte produção nos anos 1970, Ivan Lins é um artista muito querido lá fora antes mesmo do episódio em que recusou a proposta de Quincy Jones para ceder a música “Novo Tempo” para o álbum mais vendido da história, Thriller, de Michael Jackson. Em 2024, Common e Pete Rock lançaram “Fortunate” e, nela, ouvimos o sample de “Guarde nos Olhos”, de 1978, de Ivan Lins. Abrindo esse portal e ouvindo a original, encontramos na mesma faixa um lindo solo de gaita de Maurício Einhorn. Outro sample brasileiro, também presente no álbum The Auditorium, de Rock e Common, porém cantado em inglês, aparece na faixa “Everything’s So Grand” com a voz de Maria Bethânia, interpretando a música “What’s New”, em seu disco A Tua Presença, de 1971.
Além de Ivan, outro muito querido é Luiz Bonfá, sampleado mais de cem vezes em diversos trabalhos, desde os anos noventa até hoje em dia. O sample de sua música instrumental “Seville” usado por Gotye em “Somebody That I Used To Know”, rendeu, ao mesmo, o primeiro lugar no top das paradas de mais de 30 países e o Grammy de Música do Ano, em 2013. A mesma faixa também foi sampleada por outra vencedora do Grammy, Doechii, na faixa “Anxiety”, de 2025 ano e já lhe rendeu o top 10 de mais de sessenta paradas.
A lista se estende entre artistas de variados gêneros musicais e países, não se restringindo aos Estados Unidos apenas. Nossa produção fonográfica, via sample, está em todos os continentes do planeta e é uma representação da potência que sempre foi a nossa música.
Há muito tempo o mundo está olhando e valorizando a produção daqui, a história daqui, nossos clássicos que fundaram e abriram caminho para a música brasileira que ganha o mundo. Seja MPB, samba, soul, funk 150bpm, mandelão ou tamborzão, nossa criatividade é talvez o que desperta tanto interesse em quem olha de fora para nossa música.
Importante que esse olhar de fora para dentro que, não só é valorizado, como também funciona como uma chancela para o que é a “música boa”, passe também a vigorar de dentro para dentro, entre nós e que artistas nacionais passem a ser valorizados por seus legados, ainda em vida.
A música negra do Brasil e do mundo não seria a mesma sem a existência de Cassiano, tão celebrado nos samples. No entanto, o artista nos deixou em 2021, sem figurar em nenhum festival, sem ter surfado no hype da pulverização de sua música via samples, fora esquecido durante uma década inteira, praticamente nos anos 1990 e morreu em um hospital público, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Que outros artistas celebrados pela cultura do sample tenham sua importância reconhecida ainda em vida e que de fato essa cultura sirva mais do que um suporte musical, que seja um portal para visitarmos a fundo e reverenciarmos a obra de quem pavimentou o caminho que podemos trilhar hoje livremente.
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